Fazer amigos é uma parte fundamental da experiência humana. Como diz o ditado, amigos são a família que escolhemos. Mas quando temos a escolha, que tipo de amigos escolhemos? Um novo estudo, publicado na revista Evolutionary Psychological Science, examinou essa questão. Os pesquisadores investigaram traços desejáveis e indesejáveis, e a equipe fez uma descoberta intrigante: acima de qualquer outro traço de personalidade, os participantes do estudo valorizavam a honestidade em suas amizades, acima de qualquer outra particularidade. |
O artigo se soma a um grande conjunto de evidências que indicam que nossos valores sociais podem não ser tão artificialmente construídos quanto pensamos. Os pesquisadores realizaram três pesquisas para identificar as características que procuramos em nossos amigos. No primeiro estudo, 236 pessoas (122 mulheres e 114 homens, todos falantes de grego da Grécia ou Chipre) escreveram as características que desejam e não desejam em seus amigos. No total, eles registraram 50 traços positivos e 43 traços negativos.
No segundo estudo, 706 indivíduos responderam à afirmação "Eu gostaria que um amigo meu fosse _____________", e escolheram entre as 50 respostas positivas coletadas durante a primeira pesquisa. Eles classificaram a importância de cada característica em uma escala de cinco pontos de "discordo totalmente" a "concordo totalmente".
O estudo três seguiu um desenho semelhante: 861 pessoas responderam à afirmação "Eu gostaria que um amigo meu NÃO fosse ____________" e escolheram entre os 43 traços negativos coletados durante a primeira pesquisa.
Os pesquisadores então classificaram os traços desejáveis em "10 fatores mais amplos", sendo o mais importante a honestidade, seguido por ético, agradável e disponível. Os traços indesejáveis foram categorizados em três fatores mais amplos, sendo o desonesto o mais indesejável, seguido pelo competitivo e impaciente.
- "As pessoas preferem traços em um amigo que indicam um alto potencial de cooperação e apoio mútuo. Além disso, cooperação e apoio não seriam possíveis se um amigo fosse desonesto, não confiável e explorador. Assim, descobrimos que a honestidade era a característica mais importante que os participantes buscavam em um amigo", escreveram os pesquisadores.
O estudo aponta para várias conclusões convincentes. Talvez a mais importante, os pesquisadores observaram que os traços que valorizamos -qualidades como gentileza, disponibilidade e prazer- são, em um grau considerável, objetivos. Isso parece sugerir que as qualidades que esperamos que nossos amigos incorporem não são preferências arbitrárias que inventamos à medida que avançamos, mas traços programados que se originam da natureza humana.
Isso parece intuitivo, mesmo sem os resultados do estudo em mãos. Como o autor e teólogo cristão CS Lewis observou certa vez, quando você se sente injustiçado por outra pessoa, você apela para um padrão de comportamento que ela deveria ter seguido, mas não o fez.
- "Isso não foi 'justo', você pode dizer a alguém que ocupou seu lugar no ônibus. Essa pessoa muito raramente responde: 'Para o inferno com seu padrão'", escreveu Lewis. Em vez disso, eles tentam demonstrar por que seu comportamento foi perfeitamente justo. - "Parece, de fato, que ambas as partes tinham em mente algum tipo de lei ou regra de jogo limpo, sobre a qual eles realmente concordavam", concluiu Lewis.
O fato de que os participantes deste estudo queriam que seus amigos fossem honestos acima de tudo implica que sabemos a diferença entre verdade e falsidade e procuramos outros que se adéquem a esse padrão. É importante ressaltar que esse resultado se une a um grande corpo de evidências que documentam valores morais compartilhados entre culturas e ao longo da história.
Os pesquisadores reconheceram que algumas dessas preferências foram adquiridas socialmente e recomendaram que suas descobertas fossem replicadas em outros países com diferentes expectativas culturais. Por exemplo, cidadãos de sociedades ocidentais individualistas podem valorizar mais a disponibilidade do que pessoas que vivem em sociedades coletivistas, onde esse traço é mais comum.
Para uma explicação, os pesquisadores se voltaram para a biologia evolutiva para explicar por que os humanos teriam desenvolvido padrões semelhantes de amizade. Citando três estudos anteriores publicados entre 1996 e 2010, eles argumentaram:
- "Garantir assistência de indivíduos não geneticamente relacionados ou de parentes não genéticos faria uma diferença considerável nas chances de sobrevivência de alguém, o que, por sua vez, favoreceria a evolução de mecanismos comportamentais que permitiriam às pessoas formar relações de cooperação e mútua e ajuda. A evolução de tais mecanismos daria origem à capacidade humana de fazer amigos."
Alternativamente, cercar-nos de pessoas confiáveis pode ser a escolha mais racional, não é necessária uma "preferência evoluída" por honestidade. Não seguimos necessariamente um roteiro predeterminado transmitido pela seleção natural, mas chegamos à conclusão de que indivíduos honestos formam um sistema de apoio melhor do que seus colegas desonestos.
- "Neste argumento as pessoas têm preferência por amigos honestos, o que constitui o produto do pensamento racional", acrescentaram os pesquisadores.
Para estender esse raciocínio um pouco mais, talvez seja racional valorizar amizades confiáveis por si mesmas. Um pouco de cálculo mental nos diz que viver a vida ao lado de pessoas de qualidade é mais agradável do que tentar suportar vilões desagradáveis, indelicados e indisponíveis. Como o jornalista Christopher Hitchens explicou certa vez:
- "Houve momentos de conversa, perfumados com cinzeiros e coquetéis e companhia decente, que eu não trocaria por um ano de existência comum."
Em suma, este estudo provavelmente aponta para uma verdade universal que reconhecemos facilmente e Aristóteles descreveu há mais de 2.000 anos: boas amizades são um aspecto essencial de uma vida plena.
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