Faz um par de anos, um teste de inteligência envolvendo o kea (Nestor notabilis) confirmou o que qualquer um que já conheceu o único papagaio de montanha sabe: eles são inteligentes, tão inteligentes quanto os primatas. Mas a ave está com problemas. É difícil estimar quantos vivem na natureza. Eles estão espalhados amplamente e em baixa densidade em áreas extensas e florestais, mas nosso melhor palpite coloca a população selvagem total entre 3.000 e 7.000 aves. Em comparação, existem mais de 70.000 kiwis selvagens na Nova Zelândia. |
Então, por que o papagaio-da-Nova-Zelândia está desaparecendo? Segundo a conferência anual do Kea Conservation Trust, que ocorreu no final do ano passado, as razões são muitas e variadas.
O kea alimenta-se principalmente de brotos e folhas e, na primavera, lambe o néctar das flores. Come também insetos e larvas que encontram no chão e é necrófago, isto é, é o único papagaio carniceiro, quando não tem outra fonte de alimento.
O problema para estas aves é que elas também tem o costume de pousar no lombo de carneiros e ovelhas, e bicar a região lombar e as costelas, alimentando-se da gordura e causando ferimentos que afetam a saúde ou inclusive causam a morte dos carneiros. Por este motivo, muitos criadores de carneiros tem uma relação hostil com o kea, muitas vezes pagando recompensa por suas cabeças.
Depois de mais de cem anos, essa política foi descontinuada na década de 1980, quando recebeu proteção absoluta sob a lei de vida selvagem da Nova Zelândia, mas um estrago significativo já havia sido feito: mais de 150.000 keas foram mortos.
Agora existem outras ameaças mais modernas, em grande parte decorrentes da curiosidade bem documentada da ave. Muitos prédios antigos até a década de 1990 usavam pregos de chumbo, rufos de chumbo... e os keas ficam pendurados em telhados e adoram brincar com as coisas.
Por estas ferragens serem macias, os kea podem torcê-los na boca e no bico, e acabam comendo o chumbo, e isso inevitavelmente causa envenenamento. As pobres aves intoxicadas são tão afetadas que perdem a mobilidade e são atropelados por carros, ou morrem de envenenamento por chumbo.
Mas a principal ameaça aos kea hoje em dia é familiar: predadores. Naturalmente as presas, quando se deparam com um predador, passam sebo nas canelas e fogem para as montanhas. Altamente sociais e "diboas" estes papagaios, em vez de fugir, vão investigar e brincar com seus predadores e acabam virando refeição. Seus ovos podem ser comidos por arminhos e ratos. E seus predadores mais conhecidos são os furões.
Então, por que há tão pouca consciência da situação do pássaro? O notório desejo do kea de explorar e manipular faz dessa ave uma praga para os moradores e uma atração para os turistas. Chamado de "o palhaço das montanhas", ele vai bicar mochilas, botas, esquis, pranchas de snowboard e até carros, muitas vezes causando danos ou voando com itens menores.
Alguns keas eram mantidos como animais de estimação antes de serem protegidos, mas raramente, pois eram difíceis de capturar e destrutivos quando em cativeiro.
As pessoas geralmente encontram keas selvagem nas áreas de esqui da Ilha Sul, onde são atraídas pela perspectiva de restos de comida. Sua curiosidade os leva a bicar e levar roupas, ou a arrancar peças de borracha de carros, para entretenimento e aborrecimento dos observadores humanos. Eles são frequentemente descritos como "atrevidos". Em 2018 um kea fugiu com o passaporte de um turista enquanto visitava o Parque Nacional de Fiordland.
O Departamento de Conservação neozelandesa também sugere que a economia de tempo resultante de uma dieta mais rica em calorias dará aos kea mais tempo livre para investigar e, portanto, danificar as coisas em acampamentos e estacionamentos.
O comportamento naturalmente confiante dos pássaros em torno dos humanos também foi indicado como um fator contribuinte em vários incidentes recentes em pontos turísticos populares onde os kea foram mortos propositalmente.
Por outro lado, de acordo com o Departamento de Conservação, 70 espécies de aves são classificadas como vulneráveis, ameaçadas ou críticas na Nova Zelândia. Isso leva a uma disputa por espaço e tempo, uma espécie de "hierarquia de necessidade" de conservação.
Alguns defensores da ave estão pedindo que o kea seja reintroduzido em zonas livres de predadores na Ilha do Norte. Um ex-curador de História Natural do Museu Regional de Whanganui, Mike Dickison, disse à revista North & South na edição de outubro de 2019 que as aves se dariam bem no Monte Ruapehu, que está mais distante de assentamento urbanos e não tem predadores conhecidos da ave.
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