Mulher proibida de ser música quando criança lança álbum aos 95 e ganha Grammy Latino

Muitas vezes nos dizem que não há limite de idade para perseguir nossos objetivos, mas é realmente inspirador ver alguém alcançá-los mais tarde na vida, especialmente se tiver 95 anos. Angela Alvarez é uma cantora e compositora nascida em Cuba que, após deixar de lado o sonho de seguir carreira no entretenimento por décadas, finalmente lançou seu álbum de estreia em 2021, após seu neto produtor musical se oferecer para gravar e publicar suas músicas. Agora, ela acaba de ganhar o Grammy Latino de Melhor Artista Revelação.

Alvarez cresceu rodeada de música. Quando era criança, tinha duas tias que tocavam piano e a ensinaram a cantar. Quando havia uma reunião de família, ela se tornava a artista da casa.

- "Elas me faziam vestidos e eu sempre gostei de me apresentar", disse ela à Billboard. Assim que se formou na escola, ela disse ao pai que queria se tornar uma cantora profissional. No entanto, ele a proibiu de fazê-lo, pois era bom ela cantar para sua família, não para o mundo inteiro. Eventualmente, ela se casou e encontrou a felicidade em criar seus quatro filhos.

A vida não foi fácil para Angela, mas a música sempre estava lá para lhe fazer companhia e trazer consolo. Desde o momento em que ela colocou seus filhos em um avião com destino aos Estados Unidos, para eles escaparem da ascensão do comunismo, enquanto ela permaneceu em Cuba. Quando deixou o país não parava de se perguntar se algum dia veria sua amada pátria novamente. Ela também teve que enfrentar a morte prematura de seu marido e de sua única filha, ambos por câncer.

Ela derramou seus sentimentos em músicas pensativas e letras inspiradas em boleros e sones cubanos, escrevendo comoventes melodias autobiográficas que cantava para sua família, que estava acostumada a vê-la tocando violão.

Com o tempo, seus filhos tiveram filhos, e um de seus netos, Carlos José Alvarez, tornou-se produtor musical. Quando ele descobriu que sua avó havia escrito mais de 50 canções ao longo de sua vida, ele sabia que algo tinha que ser feito.

- "Ela pegou todos esses cadernos e quando começou a tocar as músicas para mim, percebi então que ela era uma artista frustrada. Eu não sabia disso", disse Carlos José. - "Eu sabia que ela cantava, que tinha uma voz incrível, sabia que ela tinha algumas músicas, mas não sabia que ela era uma artista."

O neto ligou para a avó e perguntou se ela teria interesse em ir a um estúdio e gravar suas músicas.

- "E a resposta dela foi 'Carlos, meu sonho é deixar esta vida sabendo que de alguma forma minha música duraria.' E isso foi o começo", disse Carlos José. O projeto parou um pouco devido a pandemia de covid-19, mas um amigo dele o alertou perguntando:

- "Cara, você está esperando que sua avó morra?"

A história de Angela chamou a atenção até do ator Andy García, que decidiu se tornar o produtor executivo e narrador de "Miss Angela", um documentário sobre essa mulher incrível e o processo de gravação de seu álbum de estreia com 15 canções. Ele também a convidou para aparecer na reinicialização de 2022 do filme " O Pai da Noiva".

- "A história dela simplesmente me surpreendeu. Ela representa uma geração, talvez a nossa maior geração de cubanos", disse o ator.

O sonho atingiu novos patamares quando ela foi indicada ao Grammy Latino, no qual dividiu a categoria com cantores a partir dos 17 anos. Na cerimônia, foi anunciado que houve um empate entre Angela e a cantora mexicana Silvana Estrada. Assim que subiu ao palco para receber o prêmio, ela fez um discurso inspirador que trouxe lágrimas aos olhos de seus colegas músicos.

- "Quero dedicar este prêmio a Deus e à minha amada pátria, Cuba, que jamais esquecerei. Também aos que ainda não alcançaram o seu sonho, embora a vida seja difícil, sempre há uma saída, e com fé e amor podem alcançá-la. Eu agora sei, nunca é tarde demais."