Neste pitoresco país do Pacífico Sul, é uma cena recorrente: onde a grama cresce, o gado pasta. A Nova Zelândia tem sete vezes mais habitantes com quatro patas do que com duas: 5 milhões de pessoas para 26 milhões de ovelhas e 10 milhões de vacas. Laticínios, carne e lã respondem por mais da metade da receita de exportação do país. Mas essa abundância tem um custo ambiental. Metade das emissões de gases de efeito estufa da Nova Zelândia vem da agricultura, principalmente como metano biológico e óxido nitroso de arrotos e peidos de gado, urina e esterco. |
Assim, no mês passado, a primeira-ministra Jacinda Ardern revelou um plano para os fazendeiros da Nova Zelândia pagarem novos impostos com base nos cálculos das emissões de seus rebanhos. O dinheiro arrecadado com o imposto seria devolvido à indústria agrícola para pesquisa, tecnologia e pagamentos de incentivos aos agricultores por seus esforços para reduzir os gases do efeito estufa, plantando árvores em suas terras, por exemplo.
Na semana seguinte ao lançamento do plano, um grupo de defesa chamado Groundswell NZ organizou protestos em mais de 50 cidades e vilas em todo o país. Os fazendeiros dirigiam seus tratores lentamente em rodovias movimentadas e ruas da cidade, congestionando o tráfego. No centro de Auckland, um trator carregava uma placa com a mensagem "Não morda a mão que o alimenta!" outras placas diziam "Imposto agrícola = Morte à zona rural da Nova Zelândia".
Os cidadãos da nação insular debateram a proposta de Jacinda enquanto os líderes mundiais se reuniram no Egito na Conferência de Mudanças Climáticas da ONU, para revisitar os compromissos de redução de emissões estabelecidos no Acordo de Paris de 2015.
Enquanto muitos países perseguem suas promessas climáticas concentrando-se no dióxido de carbono e limpando suas indústrias e redes elétricas, o perfil da Nova Zelândia é diferente. Ele contribui com apenas cerca de 0,17% das emissões mundiais. E já obtém 82% de sua eletricidade de fontes renováveis.
Em uma tentativa de reduzir ainda mais as emissões, o governo da Nova Zelândia procurou onde elas são mais abundantes: nas fazendas.
Jacinda anunciou o plano tributário -o primeiro desse tipo e quase três anos em elaboração- em uma fazenda de gado leiteiro na Ilha Norte do país. Falando por trás de fardos de feno empilhados em um pódio, ela declarou:
- "Aqui temos uma proposta para tornar nossos agricultores não apenas os melhores do mundo, mas os melhores para o mundo." Ela previu que os agricultores kiwi encontrariam uma vantagem competitiva com clientes em todo o mundo que estão dispostos a pagar um prêmio por alimentos de origem responsável.
Os críticos atacaram o plano do governo no dia em que foi anunciado. O Greenpeace argumentou que não foi longe o suficiente e não cumpriria as metas de redução. O Partido ACT da Nova Zelândia, que se opõe ao governo do Partido Trabalhista liderado por Jacinda, destacou a possibilidade de que a produção possa ser realocada para outros países menos eficientes e aumentar as emissões globais.
A resposta mais contundente veio da Federated Farmers, o maior grupo de lobby agrícola da Nova Zelândia, que disse que o plano iria arrancar as entranhas das pequenas cidades da Nova Zelândia.
Estima-se que um quarto das fazendas de carne bovina e ovina da Nova Zelândia sejam de propriedade dos indígenas Māori. Como legado da colonização britânica na Nova Zelândia, os Māori ficaram com terras muitas vezes marginais ou de qualidade inferior. Cultivá-las pode ser difícil e mudanças em seu uso podem ser impraticáveis.
James Shaw, ministro da mudança climática da Nova Zelândia sugeriu que algumas dessas terras marginais poderiam receber investimentos significativos para o sequestro de dióxido de carbono. Mas os críticos prevêem outro resultado: que a terra poderia ser retirada da agricultura, deixando seus proprietários procurando trabalho.
James observou que alguns críticos da proposta objetaram que ninguém mais está fazendo isso, então por que os neo-zelandeses deveriam?
- "Alguém tem que começar. E para ter alguma esperança de deter a mudança climática todos têm que fazer alguma coisa", disse o ministro. - "Então, do meu ponto de vista trata-se da Nova Zelândia reduzindo suas emissões. Mas, de certa forma, trata-se de sermos um quebra-gelo para o resto do mundo seguir."
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