O Parque Zoológico de Paris abriu uma exposição como nenhuma outra no começo deste ano. Dentro do tanque de vidro, para espanto dos transeuntes, havia um organismo que podia pensar, mas não tinha cérebro. Podia se lembrar sem experiências. Podia construir redes de informação com uma eficiência sem igual na história da espécie humana. Era um bolor de limo, na verdade, um protista. Eles o chamaram de "blob". O mofo mucilaginoso raramente aparecem em questionários culturais ou documentários sobre a natureza, então por que devemos nos preocupar com eles? |
Vamos começar com o básico. Primeiro, os fungos limosos não são apenas um tipo de organismo, mas sim um coletivo de organismos que se assemelham muito às amebas. A maioria dos fungos limosos vive suas vidas como microrganismos unicelulares, tão pequenos que não podem ser vistos a olho nu.
Mas quando estão prontos para se reproduzir, podem aumentar de tamanho para formar corpos frutíferos, ou "esporângios", que liberam esporos ao vento de uma forma semelhante aos fungos, um grupo ao qual não estão intimamente relacionados. Alguns desses esporos se desenvolverão em bolores limosos unicelulares, iniciando o ciclo novamente.
Os bolores limosos existem em uma variedade de cores e podem ser encontrados em florestas de todo o mundo, no solo, nos galhos ou troncos de árvores mortas e na serapilheira. Eles se alimentam de outros micróbios, como leveduras e bactérias. Alguns fungos limosos são lindos, formando esporângios ornamentados e semelhantes a árvores. Outros, como o mofo de vômito de cachorro, são um pouco menos atraentes.
Todos os bolores viscosos neste artigo foram capturados pelo fotógrafo Andy Sands, do Reino Unido, que diz passar meses procurando por eles na floresta perto de sua casa em Hertfordshire.
- "O fato de que você pode encontrar as mesmas espécies praticamente em qualquer lugar do planeta é fascinante para mim", disse ele.
Para os cientistas, um grupo particularmente interessante é o dos chamados bolores limosos "plasmodiais", que desenvolveram uma maneira espetacular de encontrar comida. Ao replicar continuamente seu material genético sem se dividir em novas células, as espécies desse grupo são capazes de se tornar uma enorme supercélula que se estende por mais de 10 metros em seus arredores.
O protista plasmodial favorito dos pesquisadores parece ser o Physarum polycephalum. A espécie que foi a estrela da exposição de Paris e está rapidamente se tornando a mosca-das-frutas das pesquisas. Seu nome latino se traduz como "lodo de muitas cabeças" por seu hábito de enviar gavinhas semelhantes a dedos que podem crescer cerca de um centímetro por dia em busca de comida. Já o apelido vem do clássico filme "The Blob" ("A Bolha Assassina"), de 1988.
Nos últimos 10 anos, esta espécie provou ser capaz de uma gama de talentos impressionantes. A mais famosa é sua capacidade de encontrar o caminho em um labirinto: à medida que o bolor limoso se move pelo labirinto em busca de comida, ele é capaz de sentir o rastro de limo que deixou para trás, permitindo-lhe evitar áreas previamente exploradas.
Incrivelmente, pesquisas recentes mostram que o P. polycephalum também é capaz de um estilo primitivo de aprendizagem. Normalmente, quando um dos tentáculos do bolor limoso encontra um estímulo negativo, como sal ou cafeína, ele retarda seu avanço, preferindo concentrar seu crescimento em outro lugar. Mas se descobrir que pode alcançar uma fonte de alimento viajando através do estímulo, aprenderá, com o tempo, a continuar para obter sua recompensa.
A espécie se habitua a ameaças, em outras palavras, e aprende que um pouco de sal ou cafeína não vai matá-la. Uma das coisas interessantes sobre esse comportamento de habituação é que, como um bom conselho compartilhado entre amigos, ele pode ser transmitido pela fusão com outros bolores limosos que nunca enfrentaram o risco. Ainda mais interessante é que esse comportamento reside no mofo limoso por muitas semanas, mesmo que a bolha entre em um estado de hibernação seco.
Os fungos limosos ilustram que mesmo organismos simples podem exibir comportamentos normalmente encontrados em animais com cérebros. Eles nos encorajam a dar outra olhada nos organismos unicelulares.
A eficiência do blob em localizar alimentos, usando papilas gustativas químicas que direcionam seu movimento, começou a despertar o interesse de planejadores urbanos e engenheiros de transporte. Ao organizar a comida favorita do mofo limoso (mingau de aveia) em uma placa de Petri de uma forma que reproduz a localização de vilas e cidades, os pesquisadores podem obter informações sobre a melhor forma de traçar rotas.
Por exemplo, sabemos que o sistema ferroviário de Tóquio é um dos mais eficientes do mundo. Por quê? Porque, quando a aveia é usada para mapear um layout em escala das estações ferroviárias da cidade, os caminhos em forma de gavinha que o bolor limoso cresce entre as fontes de alimento combinam claramente com a rede ferroviária real da cidade.
Agora, essa metodologia simples está atraindo o interesse até mesmo de cosmólogos que tentam entender o paradeiro da matéria escura no Universo. Algoritmos gerados pela observação das maneiras pelas quais os fungos limosos desenvolvem conexões entre fontes de alimento forneceram um modelo útil para os cientistas explorarem como a matéria escura conecta as galáxias em um espaguete complexo de filamentos interativos. De novo e de novo, os fungos limosos têm a resposta.
Ao todo, existem cerca de 900 espécies conhecidas de mofo mucilaginoso, mas provavelmente existem centenas mais esperando para serem descobertas, juntamente com seus comportamentos estranhos e maravilhosos.
Uma descoberta intrigante é que algumas espécies "cultivam" bactérias de maneira semelhante a como as formigas cortadeiras cultivam fungos. Ao colonizar novas áreas, o bolor limoso carrega consigo uma espécie de bactéria que cultiva em seu novo lar, alimentando-se posteriormente dela.
A vida sexual dos bolores limosos também merece uma menção. Enquanto as células sexuais dos animais vêm em formas masculinas e femininas, os fungos limosos têm uma massa rodopiante de tipos adicionais de células sexuais, dando a eles cerca de 720 sexos no total. Desde que dois tipos diferentes de células sexuais se encontrem, a fertilização pode ocorrer.
Os fósseis nos dizem que essas criaturas bizarras existem relativamente inalteradas há mais de 100 milhões de anos e desempenham um papel vital nos ecossistemas. Sem fungos limosos, os solos e as florestas do mundo seriam invadidos por bactérias em questão de dias. Sexo, fungos, sociedade, quanto mais olhamos para o blob, mais nos vemos refletidos em sua gosma.
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