Os animais invasores parecem ser a versão vegetal das ervas daninhas: elas se adaptam rapidamente ao novo habitat, como uma espécie de evolução adaptativa vertiginosa, e logo estão competindo por recursos com animais nativos, com a vantagem de não terem predadores naturais. Este é bem o caso das iguanas-verdes (Iguana iguana) na Flórida americana. Nativas do México, América Central e do Sul, as iguanas foram originalmente levadas ara a Flórida na década de 60 por meio do comércio de animais de estimação, escaparam do cativeiro ou foram soltas por seus donos. |
Felizes no clima subtropical da Flórida, elas começaram a se multiplicar como coelhos enquanto ninguém prestava atenção e se tornaram uma praga. Por serem ectotérmicas -dependem da temperatura do ambiente para controlarem sua temperatura corporal-, as iguanas-verdes morrem cozidas no verão, congeladas no inverno e entre uma estação e outra, levam tiro, porrada e bomba.
Elas se multiplicaram a tal ponto que a Comissão de Conservação de Peixes e Vida Selvagem da Flórida declarou temporada de caça a elas, pedindo aos moradores que as matem no local e exigindo apenas que seja humanitário. Uma pancada na cabeça parece ser o método preferido.
Nenhuma surpresa. Uma iguana fêmea pode reter o esperma masculino por mais de um ano e geralmente deposita até 65 ovos em vários ninhos em um curto período de tempo. E elas têm uma longa vida útil de até 20 anos.
A maioria das iguanas vive em faixas estreitas onde se adaptaram e se tornaram especialistas no habitat. Embora a evolução tenha sido frequentemente vista como um processo gradual através de lentes darwinianas, mudanças evolutivas muito mais rápidas podem ser rastreadas em períodos mais curtos.
Vejam o caso da iguana-marinha (Amblyrhynchus cristatus), presente em todas as ilhas de Galápagos, que se adaptou ao ambiente, sobreviveu e se tornou um animal fascinante aos olhos dos biólogos. Estritamente herbívoras, as iguanas passaram a ter uma dieta de algas presentes nas águas salgadas do Pacífico, devido às suas adaptações fisiológicas.
Para tanto evoluíram distintamente de sua prima nas ilhas, a iguana-terrestre-das-galápagos (Conolophus subcristatus). As iguanas marinhas têm focinhos rombudos que as ajudam a se alimentar de algas subaquáticas. Elas também têm caudas achatadas lateralmente que ajudam a nadar com eficiência. Suas patas possuem garras bem afiadas, uma forma de sustentação ao se alimentarem, tendo em vista que as fortes correntes marinhas podem carregá-las.
Mas essa não é a única adaptação evolutiva. Sua cor cinza-escuro permite a estes animais maior absorção do calor do sol enquanto termorregulam. Elas passam horas sob o sol regulando a sua temperatura para, então, poderem mergulhar até 20 metros em busca de alimento.
Ontem vimos como e enole-d'água desenvolveu uma bolha na cabeça que permite que armazene e troque oxigênio para que possa ficar até 16 minutos submerso evadindo seu predador. Amador! A iguana-marinha pode submergir na água por cerca de 30 minutos sem subir para respirar, ainda que normalmente somente façam por no máximo 5 - 7 minutos quando forrageiam.
Mas voltando ao início deste artigo... sabe quanto tempo a iguana-verde consegue manter um mergulho em apneia? Também incríveis 30 minutos, o que evidencia a incrível adaptabilidade deste animal. De vez em quando, essas iguanas adoram dar um mergulho para relaxar ou fugir dos predadores.
Porém, de todas as adaptações da iguana-marinha, as mais importantes talvez sejam as glândulas de sal presentes em suas narinas, responsáveis pela eliminação do excesso de sal no sangue. Por se alimentarem debaixo d'água, ingerem grande quantidade de água salgada. Para evitar a desidratação, elas devem expelir sal sem expelir água, por isso possuem glândulas especializadas que removem o sal do sangue por meio de borrifos em forma de espirro.
Elas também têm a incrível capacidade de encolher -no comprimento e no tamanho total-. Em tempos de "vacas magras" -particularmente durante eventos climáticos do El Niño- elas podem encolher até 20%. Os indivíduos então menores requerem menos comida. Uma vez que suas algas preferidas retornam a altos níveis, elas recuperam rapidamente o tamanho perdido.
Como resultado de sua área geográfica muito pequena, acredita-se que as iguanas-marinhas sejam vulneráveis à extinção, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. Elas têm proteção legal completa nas Ilhas Galápagos, mas espécies invasoras continuam a ameaçar subespécies em algumas ilhas. Gatos, cães, porcos, germes e outras espécies levadas para as ilhas por humanos atacam ovos e juvenis de iguanas-marinhas.
Em 2019, contamos a história da verdadeira operação de guerra realizada nas Galápagos. O projeto Isabela erradicou cabras e burros da ilha Isabela; porcos, cabras e jumentos da Ilha de Santiago; e cabras da Ilha Pinta. É muito difícil erradicar as espécies invasoras do frágil ecossistema das ilhas, então é provável que esse problema continue a ameaçar as populações de iguanas-marinhas.
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