Elefanta queniana sobrevive contra todas as probabilidades

De todos os órfãos que Sheldrick Wildlife Trust criou ao longo dos anos, o resgate de Murera se destaca. Ela chegou até o santuário como uma elefanta quebrada e sofrida. O ano era 2012, no auge da crise da caça furtiva no Quênia, quando Murera pisou em uma armadilha de espinhos envenenada, que devastou sua pata traseira e a deixou com feridas profundas. Enquanto lutava para acompanhar seu rebanho, ela deve ter caído e deslocado o outro quadril, incapacitando toda a região traseira. Sua pequena testa estava marcada pela dor, uma lembrança dolorosa do trauma incompreensível que ela havia sofrido.

Todos os veterinários recomendaram que Murera fosse sacrificada. No entanto, o pessoal do Sheldrick sentiu que havia um fio de esperança e insistiu lutar por sua vida. Embora ela estivesse em um estado terrível, os cuidadores reconheceram a vontade de Murera de sobreviver e resolveram salvá-la. Foi uma batalha difícil, como Peter, um dos cuidadores de berçário sênior, lembrou:

- "No começo, foi muito difícil para todos nós. Em um ponto ela desistiu e parou de se alimentar, mas persistimos e tentamos incentivá-la a comer e mostramos a ela nosso amor", disse Peter.

A persistência valeu a pena. A dor de Murera diminuiu à medida que sua mobilidade melhorou, começando com alguns passos hesitantes e progredindo para longas caminhadas na floresta. No entanto, por mais que ela tenha aprendido a conviver com seus ferimentos, ficou claro que Murera ficaria fisicamente comprometida pelo resto de sua vida.

Dadas as suas deficiências, ela não seria capaz de cobrir as grandes distâncias necessárias para encontrar comida e água durante a estação seca em Tsavo. Sonje, outra elefanta com ferimentos ao longo da vida que foi resgatado logo após Murera, precisava de acomodações semelhantes. Por causa dessas meninas, eles estabeleceram um unidade de reintegração, Jardim Umami, que seria a casa para sempre das duas.

Seria fácil lançar Murera como uma vítima. Sua vida foi moldada pela terrível crueldade humana e desgosto, mas ela nunca deixou que essas experiências a definissem. Em vez disso, em seu jeito quieto e estóico, ela navegou e superou todos os obstáculos lançados contra ela.

A jornada de Murera para a maternidade surgiu de um desses obstáculos. Em maio de 2021, o rebanho de Umani foi abalado pela morte de Luggard. Vítima de tiro, ele sempre enfrentou uma batalha difícil para sobreviver. Depois de cinco anos, seu corpo simplesmente o levou até onde podia.

Murera, que amava Luggard como seu próprio filho, ficou totalmente arrasada. Historicamente, ela nunca se afastou muito do rebanho dependente e sempre voltava para as paliçadas à noite. Logo após a morte de Luggard, no entanto, ela desapareceu em um "safári selvagem" de quatro dias. Ela então voltou para o rebanho, seu período de luto evidentemente terminado, e seguiu em frente com sua firmeza característica.

À medida que os meses se transformaram em um ano e mais alguns, notaram que a barriga de Murera estava ficando cada vez mais arredondada. Os cuidadores, que conhecem as investidas de seus elefantes tão bem quanto conhecem seus próprios filhos, observaram que ela estava mal-humorada e não era ela mesma.

Todos os sinais indicavam que a matriarca estava grávida. Em retrospectiva, acreditaram que a perda de Luggard obrigou Murera a se aventurar e procurar um parceiro na selva, talvez sabendo que a única maneira de curar seu coração partido era ter um filho. Esta foi uma decisão surpreendente, dado que Murera sempre evitou a companhia de elefantes selvagens, temendo que suas travessuras pudessem colocar em risco seu corpo comprometido.

Quase 22 meses depois, a filha de Murera fez sua grande estreia. Em 12 de março de 2023, enquanto o resto do rebanho dependente desfrutava de seu banho de poeira à tarde, Murera soltou uma única trombeta de alerta e se escondeu nos arbustos próximos. Os cuidadores se perguntaram como o corpo dela lidaria com o trabalho de parto, mas todo o parto foi perfeito. Nem dez minutos depois, uma linda menina estava chegando ao mundo. Deram lhe o nome de Mwana, que significa "criança" em suaíli.

Três elefantes selvagens imediatamente convergiram para o local, formando um anel externo protetor enquanto os órfãos dependentes cercavam a mãe e o bebê. Murera ajudou a filha a se levantar, enquanto as outras se agitavam e comemoravam. Os elefantes permaneceram por dois dias e noites inteiros, em vigília ao redor do par. O pessoal do parque acredita que um desses elefantes selvagens, que foi extraordinariamente atencioso, seja o pai do bebê de Murera.

Durante o dia, Murera e Mwana permanecem abrigados no rebanho Umani. Murera é uma mãe generosa: ela convida toda a sua família de elefantes humanos para passar um tempo com Mwana, como se apreciasse que o primeiro bebê nascido na natureza de Umani seja uma ocasião importante para todos. Os órfãos ficaram fora de si de alegria, cada um competindo constantemente pela premiada posição ao lado da bebê.

Os elefantes constantemente nos lembram que milagres são possíveis. Muitos pensaram que Murera não sobreviveria, mas ela provou que todos estavam errados. Sob sua liderança, uma manada de elefantes encontrou seu futuro sob a copa da floresta de Kibwezi. Agora, aos 13 anos, Murera está embarcando no grande novo capítulo da maternidade.

- "Existe um ditado em Kikamba que diz: 'a mãe do impala não tem chifres como o filho, mas ainda é a mãe dele.'", disse Adan, um dos cuidadores de Murera. - "É um pouco assim com Murera: ela pode ser um pouco manca e um pouco lenta, mas ainda é a matriarca."