O bacurau-orelhudo parece um dragão bebê

Com plumagem dourada sobre a cabeça semelhante a orelhas, um bico minúsculo obscurecido por penugem e enormes olhos redondos, o bacurau-orelhudo (Lyncornis macrotis), também conhecido como noitibó, parece um filhote de dragão rechonchudo. A espécie noturna é conhecida por seus chamados estranhos e hábito incomum de incubar seus ovos no chão da floresta. Esta bela ave é um espetáculo para aqueles que têm a sorte de avistar um na natureza. Eles são encontrados em todo o sudeste da Ásia, mantendo-se principalmente nas florestas úmidas de terras baixas.

Distribuídos principalmente por países como Indonésia, Tailândia, Vietnã e partes da Índia, eles pertencem a um pequeno grupo de noitibós dentro da grande família dos caprimulgídeos.

Entre as sete espécies conhecidas de bacuraus-orelhudos estão o pintado (Eurostopodus argus) e o garganta-branca (Eurostopodus mystacalis), ambos nativos da Austrália, e o noitibó-do-mato-satânico (Eurostopodus diabolicus) de Sulawesi, Indonésia, que fez um nome e tanto para si, pois alguns dizem que sua chamada soa como se estivesse arrancando os olhos de uma pessoa.

O bacurau-brasileiro (Nyctidromus albicollis), não é orelhudo (duas fotos abaixo). Também conhecido como curiango ou amanhã-eu-vou em Minas Gerais, dorminhoco no Rio Grande do Sul), e ku-kú pelos indígenas, esse seu último nome é onomatopeico e deriva de sua vocalização.

Suas duas subespécies podem ser encontradas em todos os estados brasileiros, mas curiosamente só é visto durante o dia somente se espantado. Nestas ocasiões, voa curtas distâncias e logo volta a sumir em meio à vegetação rasteira, procurando se camuflar em meio as folhagens no substrato.

O noitibó-orelhudo está entre as maiores espécies e tem um dos mais impressionantes conjuntos de tufos de orelha. Na verdade, em certos ângulos, essas orelhas fazem ele parecer um pouco com o Batman ou com um lince.

Como uma verdadeira criatura da noite, o bacurau-orelhudo tem uma camada de tecido na parte de trás do olho chamada tapetum lucidum, uma membrana posicionada dentro do globo ocular de certos animais vertebrados capaz de refletir a luz que entra nos olhos e melhorar a visão do animal em condições de baixa luminosidade.

Também encontrado nos olhos de gatos, crocodilos, morcegos frugívoros e uma série de outros animais, o tapetum lucidum é uma maravilha da evolução veja só este, extraído do olho de uma vaca:

Os padrões heterogêneos de cinza, preto, marrom e castanho que percorrem a plumagem do bacurau ajudam a mantê-lo camuflado no chão da floresta, onde incubará um único ovo por vez.

É uma tática bastante estranha para um pássaro, que poderia facilmente -e sem dúvida com mais segurança- incubar seus filhotes em um ninho alto elevado nas árvores. Aqui está um grande bacurau demonstrando aquela incrível camuflagem, que é tão boa que eu ficaria preocupado em pisar em um:

O que torna ainda mais estranha a insistência dos noitibós em nidificar no chão é que ele é um voador fantástico e passa boa parte do tempo no ar. Na verdade, ele come voando -pega e come insetos nas asas- e até bebe voando, deslizando por lagos e rios e pegando água da superfície.

Por isso os bacuraus também são conhecidos como "engole-vento", por causa de seus hábitos de alimentação, no qual voam baixo com o bico aberto tentando apanhar insetos.

Seja qual for o motivo da tendência do noitibó-orelhudo para ficar no chão, vale a pena manter os olhos abertos se você estiver no seu território.

Por causa deste costume de permanecer no chão, algumas espécies estão ameaçadas de extinção. Acredita-se que atropelamentos por carros sejam uma das principais causas de mortalidade para muitos membros da família por causa do hábito de dormirem em estradas.