Os primeiros-drones: os pombos que tiravam fotos na virada do século passado

Na virada do século passado, quando a aviação ainda estava engatinhando, um alemão chamado Julius Neubronner registrou a patente de uma nova invenção: uma câmera em miniatura que podia ser anexada ao peito de um pombo para que a ave pudesse voar e tirar fotos do ar. Julius Neubronner era um boticário que empregava pombos para entregar medicamentos a um sanatório localizado perto de sua cidade natal, Kronberg, perto de Frankfurt. "Farmacêutico" é uma palavra mais moderna, mas em muitos países de língua alemã, como Alemanha, Áustria e Suíça, as farmácias ainda são chamadas de "boticários".

Boticário era a profissão da família de Julius. Seu pai era farmacêutico, assim como seu avô. Naquela época, os pombos-correio eram usados extensivamente para levar mensagens e pequenos suprimentos. Foi ideia do pai de Julius usar pombos para receber receitas do sanatório e enviar suprimentos medicinais às pressas, uma prática que se estendeu por mais de meio século até o sanatório fechar.

Um dia, em 1907, Julius soltou um pombo em uma missão urgente, mas ele não voltou. Quando vários dias se passaram e ainda não havia sinal da ave, ele presumiu que o pombo estava perdido ou foi pego e morto por predadores. Um mês depois, o mensageiro perdido apareceu inesperadamente na casa de Julius. A ave parecia bem alimentada, o que fez ele pensar para onde ela tinha ido? Quem a havia alimentado?

Julius decidiu que iria começar a rastrear as futuras viagens de seus pombos. Fotógrafo amador apaixonado pelo faça-você-mesmo, não demorou muito para que Julius confeccionasse uma minicâmera de madeira que encaixava no peito do pombo por meio de um arreio e uma couraça de alumínio.

Um sistema pneumático na câmera abria o obturador em intervalos pré-determinados e o rolo de filme, que se movia junto com o obturador, fazia até trinta exposições em um único vôo. Todo o equipamento não pesava mais de 75 gramas: a carga máxima que os pombos eram treinados para carregar.

As fotos ficaram tão boas que Julius começou a fazer vários modelos. Um sistema, por exemplo, foi equipado com duas lentes apontando em direções opostas. Outra tirava imagens estereoscópicas. Eventualmente, Julius solicitou uma patente, mas o escritório de patentes rejeitou seu pedido citando que tal dispositivo era impossível, pois eles acreditavam que um pombo não podia carregar o peso de uma câmera. Mas quando ele apresentou fotografias tiradas por seus pombos, a patente foi concedida em 1908.

Julius exibiu suas fotografias em várias exposições fotográficas internacionais, ganhando elogios. Em uma dessas exposições em Dresden, os espectadores assistiram enquanto os pombos-correios equipados com câmeras chegavam ao local, e as fotos eram imediatamente reveladas e transformadas em cartões postais que eles podiam comprar.

A tecnologia logo foi adaptada para uso durante a Primeira Guerra Mundial, apesar da disponibilidade de aeronaves de vigilância na época. Os pombos chamavam menos atenção, podiam fotografar locais inimigos de uma altura menor e eram visivelmente indiferentes a explosões em um campo de batalha.

A tecnologia aviária de Julius também foi usada na Segunda Guerra Mundial. O exército alemão desenvolveu uma câmera pombo capaz de fazer 200 exposições por voo. Os franceses também alegaram que tinham câmeras para pombos e um método para posicioná-los atrás das linhas inimigas por cães treinados.

Nessa época, o relojoeiro suíço Christian Adrian Michel aperfeiçoou uma câmera panorâmica e um mecanismo aprimorado para controlar o obturador. A fotografia de pombos permaneceu em uso até a década de 1970, quando a CIA desenvolveu uma câmera de pombo movida a bateria, embora os detalhes do uso da câmera ainda sejam confidenciais.

Hoje, a fotografia aérea foi substituída por aeronaves, satélites e, mais recentemente, por drones acessíveis. Mas o legado da fotografia de pombos de Julius Neubronner continua vivo nessas imagens, que estão entre as primeiras fotos tiradas da Terra de cima.

Então, o que aconteceu com o pombo de Julius que ficou longe do dono por um mês e voltou saudável e bem alimentado? Ele voou para Wiesbaden, a cerca de vinte quilômetros de distância, e foi cuidado por um chef de restaurante.