Se você assustar um cervo, talvez não espere que ele pule no lago mais próximo e submerja por alguns minutos. Mas é exatamente isso que duas espécies de cervos-ratos na Ásia fazem quando confrontados por predadores. Uma outra espécie de cervo-rato africano é conhecida por fazer a mesma coisa, mas essa descoberta sugere que todos os ruminantes podem ter tido uma afinidade com a água. Também dá suporte à ideia de que as baleias evoluíram de criaturas que adoram a água e se parecem com pequenos cervos. Existem cerca de 10 espécies de cervos-ratos, também chamados trágulos. |
Todos pertencem à antiga família de ruminantes Tragulidae, que se separou há cerca de 50 milhões de anos de outros ruminantes, grupo que evoluiu para bovinos, caprinos, ovinos, veados e antílopes. Cada um é uma pequena criatura parecida com um veado que, de forma incomum, não tem galhadas ou chifres. Em vez disso, eles têm grandes dentes caninos superiores, que nos machos se projetam para baixo em ambos os lados da mandíbula inferior.
A maior espécie, com não mais de 80 cm de altura, vive na África e é considerada a mais primitiva de todos os cervos-ratos. Conhecido também como chevrotain aquático, esse animal gosta de viver em habitats pantanosos. Quando alarmado, corre para o rio mais próximo onde submerge e nada debaixo d'água para manter a segurança.
Todas as outras espécies de cervos-ratos, que vivem no sudeste da Ásia, na Índia e no Sri Lanka, eram consideradas animais de terra seca. Isso foi assim até que pesquisadores testemunharam comportamentos notáveis durante dois incidentes separados.
A primeira ocorreu em junho de 2010, durante uma pesquisa de biodiversidade no norte da província central de Kalimantan, em Bornéu, na Indonésia. Durante a pesquisa, os observadores viram um cervo-rato nadando em um riacho da floresta. Quando o animal notou os observadores, ele submergiu. Na hora seguinte, eles o viram subir à superfície quatro ou cinco vezes, e talvez mais vezes sem ser visto. Mas muitas vezes permanecia submerso por mais de cinco minutos de cada vez.
Por fim, os observadores pegaram o animal, que identificaram como uma fêmea grávida, e o soltaram ilesa.
Entre a equipe de pesquisa estava a esposa de Erik Meijaard, um ecologista sênior que trabalhava para a Nature Conservancy em Balikpapan, Indonésia. Erik já sabia de relatos anedóticos de pessoas locais que descreviam veados escondidos em riachos e rios quando perseguidos por seus cães. Ao ver as fotos do cervo, ele o identificou como um cervo-rato-maior (Tragulus napu).
Já em 2012, Erik também ouviu relatos de um cervo-rato no Sri Lanka que também havia sido visto nadando debaixo d'água. Três observadores viram um cervo-rato-da-montanha (Moschiola spp) correr para um lago e começar a nadar, perseguido por um mangusto marrom. O cervo-rato submergiu e, por fim, o mangusto recuou. O cervo deixou a água apenas para ser perseguido de volta pelo mangusto.
- "Ele voltou correndo e mergulhou na água e nadou debaixo d'água. Fotografei isso claramente e ficou claro para mim nesta fase que nadar era uma parte estabelecida de seu repertório de fuga", disse Gehan de Silva Wijeyeratne, que viu o incidente. - "Vê-lo nadar debaixo d'água foi um choque. Muitos mamíferos podem nadar na água. Mas fora aqueles que estão adaptados para uma existência aquática, nadar é desajeitado. O cervo-rato parecia confortável, parecia adaptado", disse ele.
Aquela foi a primeira vez que esse comportamento foi descrito para espécies de cervos-ratos asiáticos. Muitos biólogos evolucionistas ficaram empolgados quando ouviram as histórias dos cervos-ratos porque isso resolvia um daqueles mistérios que as pessoas locais contaram, mas que permaneciam ocultos para a ciência.
- "O comportamento é interessante porque é inesperado. Supõe-se que os cervos andam em terra e pastem, não nadem debaixo d'água. Mas o mais interessante para a zoologia são as implicações evolutivas", disse Erik.
O comportamento reforça uma das principais teorias sobre a origem das baleias. Alguns anos antes, cientistas liderados por Hans Thewissen, do Faculdade de Medicina das Universidades do Nordeste de Ohio, nos EUA, publicaram detalhes de um notável fóssil chamado Indohyus, que era um animal ruminante que parecia um pequeno cervo, mas também tinha características morfológicas que mostravam que poderia ser um ancestral das primeiras baleias.
Embora especulativo, isso sugere que todos os primeiros ruminantes também podem ter levado um estilo de vida parcialmente aquático. A descoberta de que duas espécies asiáticas de cervos-ratos se sentem confortáveis debaixo d'água mostra que pelo menos três espécies de tragulídeos modernos compartilham um comportamento de fuga aquática.
Como essas espécies divergiram há pelo menos 35 milhões de anos, seu ancestral provavelmente também se comportava da mesma maneira, novamente reforçando a ideia de que um ruminante parecido com um cervo pode ter evoluído para produzir o moderno grupo de cetáceos de baleias e golfinhos.
Os hipopótamos, o parente moderno mais próximo das baleias, também mergulham em busca de água quando ameaçados, um comportamento que pode ter sido perdido ao longo do tempo por outras espécies modernas, como ovelhas e antílopes.
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