As lagartas da mariposa-de-flanela (Megalopyge opercularis) tem vários nomes comuns como floquinho, lagarta-gato-persa, lagarta-áspide, lagarta-pintinho, floco-de-algodão, floco-de-neve, lagarta-floco, pombinho, lagarta-trump e lagarta-fofa entre muitos outros. De fato, quando estão passando a maior parte do tempo rastejando inocentemente pelos galhos de carvalhos e olmos na América do Norte, elas até podem parecer fofas, mas quando essas criaturas peludas entram em contato com humanos, elas usam seus espinhos para injetar um veneno tremendamente doloroso em suas vítimas. |
A sensação é tão insuportável que uma pessoa que sofreu picadas no Texas disse que parecia que havia quebrado o tornozelo. Invariavelmente, depois de ser picado por uma dessas lagartas as pessoas costumam ir parar no pronto-socorro.
A exposição aos espinhos parecidos com pêlos da lagarta leva a uma irritação imediata da pele caracterizada por uma "erupção papular hemorrágica semelhante a uma grade com intensa dor irradiada". As vítimas descrevem a dor como semelhante a um osso quebrado ou trauma contundente, ou até mesmo quente.
As reações às vezes são localizadas na área afetada, mas geralmente são muito graves, irradiando-se para um membro e causando queimação, inchaço, náusea, dor de cabeça, desconforto abdominal, erupções cutâneas, bolhas e, às vezes, dor no peito, dormência ou dificuldade para respirar. Tão fofa!
Mas como uma criatura tão pequena -em torno de 3 centímetros em seu terceiro e último instar- pode desferir um golpe tão eficaz? Cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, decidiram descobrir.
A equipe revelou que o veneno dos floquinhos contém uma proteína especial que pode se formar em forma de anel e abrir buracos nas células. Por sua vez, as células enviam poderosos sinais de dor ao cérebro. Essa proteína única que muda de forma e perfura é o que torna a picada da lagarta tão eficaz, relatam os cientistas em um artigo publicado em 2023 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Esta descoberta é significativa por várias razões. Para começar, ajuda a explicar o mistério da picada agonizante da lagarta, que as pessoas que vivem em muitas partes do sul dos Estados Unidos há muito tem que suportar.
Mas, além disso, pode ajudar pesquisadores médicos a desenvolver drogas eficazes para a medicina humana. Eles podem ser capazes de usar o mesmo mecanismo de perfuração para colocar drogas dentro das células onde precisam funcionar, disse o co-autor do estudo Andrew Walker, um biocientista molecular da Universidade de Queensland.
- "Além disso, podemos ser capazes de projetar esses tipos de toxinas para atingir células cancerígenas ou patógenos, deixando as células humanas em paz", disse ele.
A descoberta também oferece uma nova visão sobre um processo raro conhecido como transferência horizontal de genes. Os pesquisadores acreditam que a adaptação única de entrega de veneno das lagartas se desenvolveu há cerca de 400 milhões de anos, quando bactérias transferiram o gene especial de infiltração de células para uma lagarta-áspide.
Para que isso acontecesse, a bactéria -que provavelmente pertencia ao grupo Gammaproteobacteria, que inclui cepas de salmonela e Escherichia coli- teria que infectar a lagarta e inserir seu DNA nos núcleos das células reprodutivas do inseto. Então, quando a lagarta se transformasse em mariposa e acasalasse, ela passaria esse gene para sua prole.
Elas podem parecer inocentes, mas um contato com uma dessas lagartas peludas pode enviar uma pessoa para a sala de emergência. Universidade de Queensland
Os cientistas ainda não entendem completamente como ou porque a transferência horizontal de genes acontece, e ocorre tão raramente que é um desafio estudar. Mas a descoberta de que esse processo pode ter ocorrido com lagartas é outro dado a ser considerado.
Talvez, acima de tudo, as descobertas reforcem ainda mais que a evolução e a vida são mais estranhas e complexas do que costumamos supor.
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