Corvos e pegas usam espinhos antipássaros para construir seus ninhos

Imagine um ninho de ave. Provavelmente, o que vem à mente é uma cesta trançada de galhos e fibras vegetais, mas jamais poderíamos imaginar uma coroa de espinhos de metal. Mas é exatamente assim que alguns corvos e pegas na Europa começaram a estilizar seus ninhos. Esses corvídeos inteligentes se apropriaram de pontas anti-pássaros -longas tiras de hastes semelhantes a agulhas usadas para repelir pássaros de se empoleirar em telhados ou outras estruturas feitas pelo homem.

Eles começaram a usá-los como material de nidificação, de acordo com um novo artigo publicado nesta semana no jornal Deinsea do Museu de História Nacional de Rotterdam.

- "Mesmo para mim, como pesquisador de ninhos, esses são os ninhos mais loucos que já vi", disse Auke-Florian Hiemstra, biólogo do Centro de Biodiversidade Naturalis, na Holanda.

Aparentemente, os pássaros removem os pregos dos edifícios, deixando para trás marcas de cola onde antes estavam as peças de metal.

- "É absolutamente fascinante. Isso mostra o quão intuitivos essas aves são e mostra uma certa flexibilidade para sair e encontrar esses novos materiais e usá-los", disse Mark Mainwaring, um ornitólogo e pesquisador de ninhos de pássaros da Universidade de Bangor, no País de Gales, que não esteve envolvido no estudo

Corvos e pegas estão entre os pássaros mais inteligentes. Ambas as espécies foram documentadas por reconhecer seu próprio reflexo em um espelho, bem como usar ferramentas. Pesquisadores tentaram rastrear pegas com dispositivos semelhantes a mochilas, apenas para ver os pássaros ajudando uns aos outros a remover a tecnologia, de acordo com um artigo publicado no ano passado. E em novembro, cientistas cognitivos relataram que os corvos podiam entender um conceito de formação de padrões que se pensava ser exclusivo dos humanos.

Agora, essa lista de habilidades pode incluir o reaproveitamento de pontas de metal -uma estratégia incomum que pode valer a pena para os pássaros-, talvez dando a eles uma vantagem evolutiva.

- "Os animais sempre procuram materiais para seus próprios ganhos", disse Auke.

As duas espécies parecem estar usando os espinhos de maneiras diferentes: as pegas adicionam as extremidades pontiagudas voltadas para fora para proteger seus ninhos abobadados, e os corvos tendem a virar os espinhos para dentro, potencialmente para suporte estrutural.

Em um exemplo, os pesquisadores calcularam que um ninho de pega fora de um hospital em Antuérpia, na Bélgica, incluía cerca de 50 metros de tiras de metal e pelo menos 1.500 pontas individuais. Este covil ultrafortificado é como um "bunker para pássaros".

Mas, por outro lado, a prática pode prejudicar as aves em algumas circunstâncias. As pontas de metal podem ficar muito frias para os pintinhos à noite, por exemplo. E usar outras formas de detritos como materiais de nidificação, especialmente lixo colorido e atraente, pode atrair predadores involuntariamente.

Quaisquer que sejam as compensações, pássaros de todo o mundo estão catando materiais artificiais para construir ninhos. Em um artigo separado publicado esta semana na Philosophical Transactions da Royal Society B, Mark Mainwaring e uma equipe de colegas encontraram evidências de ninhos incorporando materiais feitos pelo homem em 176 espécies de aves em todos os continentes, exceto na Antártica.

O material encontrado nos ninhos incluía sacolas plásticas, linha de pesca, embalagens de doces, toalhas de papel, fio dental, canudos e bitucas de cigarro.

No caso dos ninhos adornados com espinhos, Auke escreve em um tweet que as pegas - "...parecem estar usando os espinhos antipássaros para seus ninhos exatamente da mesma maneira que fazemos: para manter os outros pássaros afastados."

- "Definitivamente, estou torcendo pelos pássaros, porque eles merecem um lugar na cidade como nós", concluiu Auke.