O propósito do Canal do Panamá é bem fácil de entender: transformar uma jornada anteriormente titânica em uma poseidônica permitindo aos navios economizar uma distância de viagem de até 20 mil quilômetros. Com uma distância de 77 quilômetros entre os dois oceanos, tem uma profundidade de 12,8 metros no lado Atlântico e de 13,7 no Pacífico. Hoje o canal do Panamá é de longe a via navegável mais importante e influente do mundo, porque toda a indústria naval é moldada pela travessia. |
Centenas de anos atrás, foi identificada a oportunidade de um canal através do estreito país do Panamá. Depois de alguns falsos começos anteriores, como o fiasco dos franceses que viram milhares de trabalhadores morrerem como moscas picados por mosquitos agentes de doenças; em 1903, os americanos assinaram um tratado bastante duvidoso concedendo terras aos panamenhos, represaram um rio para fazer um lago artificial, cavaram e explodiram trincheiras até chegar aos oceanos, e 13 bilhões de dólares e 5.600 mortes de trabalhadores depois, o canal estava finamente pronto.
Theodore Roosevelt abriu oficialmente o Pacífico para o Atlântico em 15 de agosto de 1914, quando o primeiro navio comercial, o SS Ancon, navegou por ele. Naquele momento, o Canal do Panamá era quase apenas uma via direta de oceano a oceano, exceto porque o lago artificial que criaram, o Gatun, fica a 26 metros acima do nível do mar.
Assim, os navios de carga, que podem pesar dezenas de 50 toneladas métricas, precisam levantar esses 26 metros e, em seguida, descer novamente para transitar de oceano a oceano.
Como a maioria dos canais, para fazer isso, o Canal do Panamá usa eclusas. Do lado do Atlântico, por exemplo, o navio será rebocado para a primeira eclusa, a comporta a jusante será fechada, a água de montante será alimentada para encher a eclusa, o barco flutuará para cima, então, quando o nível da água igualar ao da próxima eclusa, o portão se abrirá e o navio será puxado para a próxima eclusa. E isso acontecerá sucessivamente 3 vezes até o navio alcançar o nível do lago Gatun.
Acredite ou não, são apenas essas três eclusas que limitam o tamanho que uma grande parte da frota mundial de navios porta-contêineres pode ter. Para cruzar o Panamá um navio deve ter menos de 366 metros de comprimento e 55 de largura. Isso levou a uma grande proporção dos navios do mundo ser construída para ter exatamente esse tamanho, nas classe de navio conhecida hoje como NeoPanamax.
Claro, existem navios bem maiores que o NeoPanamax, como o OOCL Hong Kong, que tem capacidade superior ao dobro, mas que mantém exclusivamente a rota do leste da Ásia para a Europa, pois não pode fazer com eficiência viagens que exijam trânsito entre o Pacífico e o Atlântico, pois teria que circunavegar a América do Sul.
Um grande bilionário chinês quase torrou sua fortuna tentando ligar o Atlântico e o Pacífico através do grande lago Nicarágua. Na verdade há uma longa história de tentativas de construir este canal, mas dado que o fiasco é bastante recente, e o presidente é um ditadorzinho sem nenhuma visão de empreendedorismo, não há planos de construção atuais.
De qualquer forma, o mundo vai precisar de mais capacidade de canal entre o Pacífico e o Atlântico em algum momento e o gargalo do Panamá cada vez limita mais a indústria naval que está crescendo a uma taxa sólida de cerca de 5% ao ano.
Uma outra questão pouco divulgada é que o Canal do Panamá pode literalmente ficar sem água. Cada vez que as comportas primárias do canal se abrem, para a entrada ou saída de um novo navio, milhões de litros de água fluem para os oceanos.
Normalmente, isso não é um problema porque o lago tem água suficiente, mas, às vezes, durante períodos de seca, o rio que abastece o lago simplesmente não tem água suficiente para liberar a quantidade necessária para operar as eclusas e manter o lago em um nível suficientemente profundo para os
maiores navios transitarem.
Isto ocorreu em 2019, quando o canal teve que impor restrições quanto ao peso que os navios de carga podiam carregar, já que o nível do Gatun afeta a profundidade em que ficam na água.
Os engenheiros tentaram limitar os efeitos disso instalando sistemas para recapturar parte da água usada para operar as eclusas e também há planos em potencial para construir uma barragem adicional a montante para criar um reservatório adicional, mas esses problemas só devem piorar à medida que as mudanças climáticas agravam a gravidade das secas na região.
Mas é sempre bom levar em conta que o que acontece no Panamá afeta o mundo. Se uma seca no Panamá restringir a vazão do canal, a economia mundial ressentirá, porque o transporte marítimo é o que conecta a economia mundial e o do Panamá é um dos conectores mais importantes no transporte marítimo mundial.
Habitualmente lemos ou ouvimos que o Canal do Panamá é um dos maiores e mais difíceis projetos de engenharia já realizados pela humanidade e isso soa, às vezes como falso, sobretudo porque a travessia está ai permitindo o transporte marítimo a mais de 100 anos.
- "O que aqueles 'broncos' de 1914 sabiam mais do que nós?" Pois o amigo Zé Roberto Isabella me enviou a dica de um vídeo didático que pode mostrar como esta obra de engenharia foi extraordinariamente fantástica. O bom canal do Youtube Lesics Português mostra de forma pedagógica, através de uma animação, tudo o que foi feito ali.
O vídeo é tão bacana que serve para educar tanto a alunos do primeiro grau quanto para informar pessoas que ainda não entenderam o motivo pelo qual ao obra de engenharia civil é uma das maiores façanhas do ser humano em benefício próprio, ainda que tenha cobrado dezenas de milhares de vidas no processo.
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