De Rudolf Hess a Leon Trotsky. De Maria Antonieta ao povo judeu, a história está repleta de figuras que foram sozinhas responsabilizadas por falhas ou delitos sociais épicos -embora muitas vezes imerecidamente-. Em outras palavras, eles se tornaram bodes expiatórios. Mas o que as cabras -que na verdade são criaturas incríveis- fizeram para merecer a associação com esse bando censurável? A expressão "bode expiatório" foi cunhada pela primeira vez pelo estudioso protestante inglês William Tyndale em sua tradução inglesa do Pentateuco de 1530, devido a um erro de tradução. |
De acordo com o livro de David Dawson de 2013, "Flesh Becomes Word: A Lexicography of the Scapegoat Or, the History of an Idea", William, que estava decifrando as descrições hebraicas dos rituais do Yom Kippur do Livro de Levítico. No chamado Dia da Expiação, os hebreus organizavam uma sucessão de rituais que pretendiam purificar a sua nação. Para tanto, organizavam um ato religioso que contava com a participação de dois bodes. Em sorteio, um deles era sacrificado junto com um touro e seu sangue marcava as paredes do templo.
O outro bode era transformado em "bode expiatório" e, por isso, tinha a função ritual de carregar todos os pecados da comunidade. Nesse instante, um sacerdote levava as mãos até a cabeça do inocente animal para que ele carregasse simbolicamente os pecados da população. Depois disso, era abandonado no deserto para que os males e a influência dos demônios ficassem bem distantes.
William cunhou a expressão para descrever essa criatura portadora de pecados, interpretando a palavra hebraica "azazel", ou o "bode que parte ou escapa". Dito isto, alguns estudiosos discordaram de sua interpretação, alegando que azazel na verdade representa o nome de um demônio selvagem semelhante a uma cabra, a quem a oferenda se destinava, ou de um local específico no deserto para onde os pecados foram banidos, muitas vezes pensado para ser um penhasco montanhoso de onde o bode expiatório era lançado e morto.
Ao longo dos séculos, a expressão desassociou-se do seu significado bíblico e acabou sendo usado como metáfora para descrever uma pessoa que carrega a culpa por qualquer delito. Agora que você conhece a etimologia da palavra, lembre-se dos pobres animais que a inspiraram e talvez resolva pegar um pouco mais leve com a próxima pessoa que acabar tendo que assumir a responsabilidade pelos erros de todos os outros.
Ao longo da história descobrimos que vários grupos marginalizados ou minorias foram utilizados como "bode expiatório" por causa de algum infortúnio ou desgraça. Em certa medida, os judeus foram ironicamente alvo de sua própria tradição. Primeiro, ao serem culpados pela Peste Negra, na Baixa Idade Média, e, muito tempo depois, perseguidos na Europa pelos movimentos antissemitas que vigoraram no século XX.
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