Em 1939, Chiune Sugihara se tornou o vice-cônsul do Consulado do Japão em Kaunas, Lituânia. Seus outros deveres eram reportar sobre o movimento das tropas russas e alemãs. Em setembro de 1939 a Alemanha invadira a Polônia e depois a União Soviética ocupou a parte não-germanizada do país pelas tropas de Hitler. As notícias e relatos sobre crimes horríveis dos alemães contra judeus se espalhavam. Muitos do refugiados conseguiram chegar à Lituânia dominada pelos russos, mas era questão de tempo antes que as tropas alemãs chegassem ao local e começasse um massacre. |
Para os refugiados a única rota de fuga era por terra através da União Soviética. Mas para isso os russos permitiriam se certificassem de que os refugiados seriam recebidos por outro país, depois de cruzar a União Soviética. Chiune então telegrafou ao Ministro do Exterior em Tóquio, explicando a situação dos judeus, para solicitar a permissão de conceder vistos de trânsito, na qual foi negado três vezes.
Uma vez que os vistos japoneses eram apenas de trânsito, as pessoas deveriam ter que declarar um destino final. Curaçao, uma possessão holandesa do Caribe, foi uma sugestão. Ele e sua esposa Yukiko então começaram a emitir vistos na manhã de 1 de Agosto, que demoravam cerca de 15 minutos para serem emitidas.
Chiune deixava de almoçar, comendo eventualmente algum lanche, para emitir tantos quanto possível, trabalhando dia e noite. Quando acabaram os formulários oficiais, escreveu mais à mão. À medida que passavam os dias, ele começou a ficar mais frágil, ficando com os olhos injetados, por falta de sono, dedicando-se a emitir mais vistos.
Na terceira semana de agosto, Chiune recebeu telegramas ordenando-o a parar, pois grande número de refugiados poloneses chegavam ao Japão nos portos de Yokohama e Kobe, provocando confusão. Ele apenas ignorou as ordens.
Chiune e Yukiko Sugihara.
No final de agosto, os soviéticos exigiram que o consulado fosse fechado. Tóquio instruiu Chiune a se mudar para Berlim, porém mais judeus estavam chegando ao local.
- "Ele estava tão exausto, como uma pessoa doente", descreveu Yukiko seus últimos dias na Lituânia. - "Embora tenha recebido ordem de ir a Berlim, ele disse que não conseguiria ir e sugeriu que fôssemos para um hotel e descansássemos antes de partir. Quando chegamos ao hotel, judeus vieram nos procurar lá, então ele assinou mais alguns vistos no hotel."
Assim ele decidiu ficar mais um dia no hotel para conceder o máximo de vistos que pudesse emitir e uma multidão seguiu a família até o hotel. Ele chegou a emitir mais de 300 vistos em um dia, quantidade que normalmente tomava um mês.
A família Sugihara.
Na manhã seguinte um grupo ainda maior seguiu Chiune e sua família à estação de trem. No trem, ele continuou a escrever freneticamente, mas não conseguia dar vistos para todos. Então começou a assinar seu nome em folhas em branco e carimbados, esperando que o resto pudesse ser preenchido. Ainda estava passando os papéis quando o trem partiu com destino a Berlim.
- "No dia seguinte, quando chegamos à estação de trem, eles também estavam lá. Então ele escreveu mais vistos na plataforma até o trem partir", contou Yukiko. - "Assim que embarcamos, eles estavam pendurados nas janelas e ele escreveu mais alguns. Quando o trem começou a andar, ele não conseguia mais escrever. Todo mundo estava acenando com as mãos. Um deles gritou: 'Obrigado, Sr. Sugihara, iremos vê-lo novamente', e veio correndo atrás do trem. Eu não conseguia parar de chorar. Quando penso nisso, mesmo agora, não consigo evitar o choro."
A desobediência valeu a Chiune uma brusca interrupção de sua carreira brilhante de diploma. Dispensado pelo governo, ele teve que contentar-se com um trabalho de tradutor. Mesmo assim, jamais alardeou seu heroísmo. Mesmo seus amigos mais próximos não faziam ideia. Só em 1969 ele foi encontrado por Yehoshua Nishri, um dos judeus que ele salvou e que correu atrás do trem agradecendo e prometendo revê-lo. Yehoshua convidou Chiune a visitar Israel.
Chiune Sugihara com seu filho Nobuki em sua visita a Israel em 1969.
Centenas de outros relatos logo começaram a aparecer. Aos poucos, o Yad Vashem (Memorial do Holocausto), uma instituição sediada em Israel que se dedica a manter vivas as lembranças da tragédia nazista, foi percebendo a importância de Chiune. Quase 50.000 pessoas incluindo os descendentes devem sua vida a ele.
Apenas em 1985, 45 anos depois de seu ato heroico, o ex-cônsul foi considerado "Justo entre as Nações", a mais alta honraria concedida pelo Yad Vashem, e uma árvore foi plantada em sua homenagem. Aos 85 anos, ele estava muito doente para receber o prêmio pessoalmente. Morreu no ano seguinte. Em sua lápide, está gravado seu primeiro nome: Chiune. Coincidência ou não, essa palavra, em japonês, quer dizer "mil novas vidas.
Após a guerra, Sugihara foi forçado a renunciar e a trabalhar em empregos braçais (vendendo lâmpadas de porta em porta). Ele permaneceu em relativa obscuridade até 1968, quando um diplomata israelense conseguiu encontrá-lo e finalmente conseguiu o reconhecimento que merecia.
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