O termo "nostalgia" foi cunhado por um médico suíço no século XVII para descrever a saudade sentida pelos mercenários que lutavam longe de casa, Do grego "nostos", que é o desejo de voltar para casa e "algos", que significa dor. Isso não é muito diferente de como usamos o termo para nos referirmos a pensar com carinho ou melancolia no passado, como lugares onde estivemos ou pessoas que conhecemos. Na verdade, os psicólogos demonstraram que a nostalgia desse tipo traz vários benefícios psicológicos, como combater sentimentos de solidão ou ansiedade existencial. |
Mas o anseio por um passado que você nunca experimentou é diferente e tem seu próprio nome, "anemoia", de acordo com o Dicionário das Tristezas Obscuras, uma coletânea de palavras inventadas pelo artista John Koenig, que traduzem sentimentos e emoções que as pessoas não conseguem explicar.
Tradicionalmente, os psicólogos pensavam que a nostalgia era baseada nas lembranças de uma pessoa sobre suas próprias experiências, o que torna difícil encaixar este tipo de anseio. Mais recentemente, porém, o filósofo Felipe de Brigard, da Universidade de Duke, propôs que a nostalgia é mais ampla e inclui os anseios.
Felipe foi inspirado por pesquisas sobre memória que mostram que é um processo criativo. Quando você relembra memórias, não é como se estivesse procurando uma gravação do que aconteceu, é mais como se seu cérebro criasse uma simulação desses eventos passados.
Desta forma, Felipe argumenta que a nostalgia pode basear-se em memórias -simulações de experiências passadas agradáveis- mas não tem de sê-lo. Dado o papel da imaginação na memória, ele diz que não é um grande salto propor que a nostalgia também pode ser baseada em experiências passadas positivas imaginadas.
Este tipo de nostalgia baseada na imaginação é provavelmente influenciada por histórias e relatos sobre o passado. Portanto, é bem provável que a mente de alguém que tenha lido ou ouvido relatos em tom rosado de períodos ou lugares históricos crie uma simulação de como teriam sido esses lugares ou momentos sentindo o desejo de experimentá-los por si mesmo. Felipe diz que isso é mais provável se a pessoa estiver insatisfeita com sua situação atual.
Quando escrevia o artigo sobre o "determinismo linguístico" hoje de manhã tive uma recordação muito esquisita que a muito não me ocorria. Quando era jovem eu me lembrava muito de um pontilhão ferroviário onde meu avô me levava para pescar e de onde ele pulou de cabeça para a morte. O problema, segundo minha mãe, é que meu avô se suicidou 10 anos antes de meus nascimento. O mais louco da anemoia é que, apesar que eu saiba que seja maluquice da minha cabeça, continuo vendo meu avô sorrindo com a vara de pesca na mão.
No filme "Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, o personagem principal, Gil Pender, é constantemente dominado por pensamentos nostálgicos sobre Paris na década de 1920. No entanto, ambientado na contemporaneidade, Gil não poderia ter vivido naquela época. No máximo, ele poderia ter imaginado o que teria sido para ele ter vivido em Paris na década de 1920. No entanto, o sentimento era nada menos que nostálgico.
Se você também já sentiu este sentimento estranho, saiba que estamos longe de ser os únicos a experimentar esse tipo de nostalgia e lembranças do que não vivemos, de fato, embora pouco estudado, sentir nostalgia por uma época que não se viveu diretamente parece ser um fenômeno bastante comum. Existem salas de chat, páginas no Facebook e centenas de sites dedicados à troca de experiências pessoais de nostalgia sobre períodos de tempo diferentes daqueles vividos diretamente.
Se a nostalgia pessoal e histórica não correspondem a processos cognitivos distintos, como podemos dar sentido ao fato das pessoas parecerem sentir nostalgia não só por acontecimentos que vivenciaram diretamente no seu passado, mas também por acontecimentos que não vivenciaram pessoalmente?
- "Inspirado por evidências recentes da psicologia cognitiva e da neurociência, minha sugestão é que o conteúdo cognitivo da nostalgia é na verdade uma simulação mental, da qual as memórias autobiográficas episódicas são apenas uma subclasse", disse Felipe. - "Como tal, o componente cognitivo de um estado mental nostálgico pode ter como objeto intencional algo diferente de um evento espaço-temporal específico experimentado diretamente no passado."
Para apoiar esta afirmação, contudo, ele precisa primeiro discutir alguns desenvolvimentos na ciência da memória e da simulação mental. Historicamente, a memória e a imaginação têm sido vistas como sistemas totalmente diferentes. No entanto, nas últimas três décadas houve uma série de descobertas críticas que desafiaram essa visão.
Em 1985, o famoso psicólogo experimental e neurocientista cognitivo estoniano Endel Tulving observou que um de seus pacientes amnésicos, além de ter dificuldade em lembrar seu passado pessoal, tinha dificuldade em imaginar possíveis eventos pessoais futuros. Isto levou Endel a sugerir que lembrar o passado e imaginar o futuro eram dois processos de um único sistema para viagem mental no tempo.
Apoio adicional para esta hipótese surgiu no início dos anos 2000, quando uma série de estudos neuropsicológicos, de desenvolvimento, comportamentais e de neuroimagem sugeriram que a memória episódica e o pensamento futuro partilham mecanismos neurais e cognitivos comuns.
Desde então, o número de estudos que fundamentam estas observações aumentou acentuadamente, reforçando a visão de que lembrar o passado e imaginar o futuro envolve uma rede cerebral comum, muitas vezes chamada de "rede padrão".
Mais recentemente, contudo, esta visão foi modificada, uma vez que resultados relacionados indicaram que a rede padrão pode estar subjacente também a outros tipos de simulações mentais que não são facilmente localizáveis como estando no passado pessoal ou no futuro possível de alguém.
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