Esta caixinha elegante contendo um par de foles e uma variedade de canos e outros acessórios é um Kit Reanimador de Tabaco do século XVIII, aprovado para uso e distribuído pela Royal Humane Society de Londres, então conhecida como Sociedade para a Recuperação de Pessoas Aparentemente Afogadas. Acreditava-se que o tabaco tinha propriedades revigorantes e a capacidade de absorver a umidade e aquecer o corpo por dentro. Assim, soprar fumaça do tabaco através de vários orifícios do corpo humano era o procedimento recomendado para reviver o corpo aparentemente sem vida de uma vítima afogada. |
O fole do kit permitia ao médico ou reavivador bombear a fumaça do tabaco através dos vários bicos que foram idealmente projetados para caber nas narinas e no reto da vítima.
Antes de meados do século XVIII, cair em um corpo de água e não conseguir nadar significava morte certa porque, mesmo que a vítima fosse resgatada, não havia um método conhecido para reanimar o inconsciente. A reanimação boca a boca ainda era algo novo e estranho, e as técnicas modernas de reanimação cardiorrespiratória estavam a séculos de distância.
Em 1745, o médico inglês John Fothergill deu a primeira palestra sobre ventilação boca a boca, citando o trabalho de um cirurgião escocês, William Tossach, que certa vez ressuscitou um paciente vencido pela fumaça de brasas. Em pouco tempo, soprar ar nos pulmões das vítimas afogadas tornou-se o procedimento geral.
Nessa época, espalhou-se a notícia de que os índios norte-americanos usavam o tabaco como remédio para curar uma variedade de doenças. Além de inalar a fumaça das folhas queimadas do tabaco, outro procedimento era soprar a fumaça pelo reto. Os médicos europeus consideraram uma excelente ideia reanimar as vítimas afogadas, porque o fumo é quente e as pessoas afogadas precisam de calor.
Para experimentar a nova teoria, o médico William Hawes, em 1773, começou a oferecer recompensa a quem conseguisse trazer-lhe um corpo resgatado da água dentro de um tempo razoável de imersão. Aparentemente, Willians teve um reavivamento bem-sucedido o suficiente para formar a Sociedade para a Recuperação de Pessoas Aparentemente Afogadas no ano seguinte junto com outro médico, Thomas Cogan.
Mais tarde, a sociedade tornou-se a Royal Humane Society e abriram filiais em todo o país, mas principalmente em portos e cidades costeiras onde o risco de afogamento era elevado. No final do século XIX, a sociedade tinha mais de 280 depósitos em todo o Reino Unido, abastecidos com aparelhos de sopro de fumo de tabaco para salvar vidas. Esses aparelhos foram instalados ao longo do rio Tâmisa, em Londres, da mesma forma que os desfibriladores são encontrados hoje em locais públicos.
Na virada do século 19, os enemas de fumaça de tabaco tornaram-se uma prática estabelecida na medicina ocidental, tratando não apenas vítimas afogadas, mas também várias outras doenças, como dores de cabeça, insuficiência respiratória, convulsões, resfriados, hérnias e cólicas abdominais.
Os ataques às teorias em torno da capacidade do tabaco para curar doenças começaram no início do século XVII. Embora certas crenças sobre a eficácia da fumaça do tabaco na proteção contra doenças persistissem até meados do século 20, o uso de enemas de fumaça na medicina ocidental declinou depois de 1811, quando, por meio de experimentação animal, o cientista inglês Benjamin Collins Brodie demonstrou que a nicotina -o principal agente ativo na fumaça do tabaco- é um veneno cardíaco que pode interromper a circulação do sangue.
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