Cidade espanhola celebra todos os anos uma das festas mais loucas do mundo: saltar sobre bebês recém-nascidos

Que o catálogo nacional de festas populares espanhol seja tão extenso quanto pitoresco, para não dizer estúpido, não é novidade, mas poucos nele são tão peculiares como o do Colacho, festa que é celebrada todos os anos nas ruas de Castrillo de Murcia, província de Burgos. O evento é um coquetel de cristianismo e paganismo, risos, história, devoção religiosa e fantasias. Nada que não possa ser visto em outras celebrações pelo país. Se Colacho se destaca de todos eles é por um costume extra difícil de encontrar fora de Castrillo: durante a festa um morador vestido de demônio salta sobre bebês caídos na rua.

O espetáculo é incrível. Na verdade, já há alguns anos que tem atraído muito interesse dentro e fora da Espanha. Parece estranho, mas é literalmente o que fazem os moradores de Castrillo de Murcia, uma pequena cidade da província de Burgos, durante a festa de Colacho: um mascarado representando o diabo corre e dá longos saltos sobre bebês menores de 12 meses deitados em colchões deitado no meio da rua. O próprio Conselho Provincial de Burgos explica-o de forma clara e bastante visual:

- "Ao longo do percurso os moradores locais erguem altares de flores para que, ao passar, o Colacho faça uma parada e salte sobre as crianças que nasceram naquele ano em Castrillo de Múrcia."

Não é o único episódio das festividades, que se celebram na pequena localidade de Burgos no domingo seguinte ao Dia de Corpus Christi, mas é o mais marcante. E aquele que gera mais expectativa. O Colacho representa o diabo, por isso durante o dia tenta interromper as celebrações religiosas e até zomba do padre durante a missa. As comemorações duram vários dias e no auge o Colacho sai às ruas atacando com rabo de cavalo quem estiver em seu caminho.

Curioso sim, histórico também. A celebração do Colacho não é exatamente nova. A Câmara Municipal de Sasamón, da qual Castrillo de Murcia faz parte, lembra que a festa acumula uma "tradição secular" que pode remontar ao século XVII e que se mantém ininterrupta até hoje. No que diz respeito a explicar as suas origens, a tradição remonta aos autos e danças sacramentais celebrados no século XVII, depois da Irmandade do Santíssimo ter sido agregada à Arquiconfraria promovida pelo Papa Paulo III.

- "Os irmãos introduziram um personagem burlesco, que já existia em suas tradições, e deram-lhe um sentido: representaria o diabo. Assim nasceu o festival Colacho, um autêntico espetáculo teatral", afirma. Sua figura é, portanto, a de um "mímico burlesco" que representa o diabo e anda pelas ruas vestido com trajes de cores vivas, couro de vaca e rosto coberto por uma máscara.

- "A farsa ou jogo de zombaria representa o mal e a heresia, algo que consegue derrotar a fé do povo cristão com o Sacramento da Eucaristia", explica o Consistório de Sasamón antes de descrever o momento mais emocionante da festa: - "Em algumas casas, são montados alguns 'altares'. Diante deles, e no chão, são colocados colchões sobre os quais, momentos antes da chegada da procissão, são deitadas as crianças nascidas no ano."

Durante esse percurso, o Colacho pára e deixa as imagens mais marcantes de todo o evento: grandes saltos sobre os bebês. A comemoração é tão peculiar que não demorou muito para despertar o interesse de moradores de outras cidades, províncias e até países, como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, com repórteres viajando até a pequena cidade para capturar imagens de Colacho pulando sobre os bebês.

Com o tempo, a peculiar celebração alcançou a categoria de Interesse Turístico em Castela e Leão e até superou um desafio ainda mais complicado: superar a passagem do tempo e o despovoamento. Embora Castrillo de Murcia seja uma localidade com poucos moradores, nos últimos anos o Colacho "sobrevoou" quase uma centena de bebês dispostos em dezenas de colchões instalados nas ruas da localidade.

O motivo? Já não é necessário como era há décadas que os moradores sejam da cidade, explicou a organização, que esclarece que agora os pequenos são filhos ou netos de moradores da cidade, ou mesmo de municípios vizinhos. O objetivo: manter viva uma tradição centenária que representa a vitória do bem sobre o mal, da fé sobre a heresia... e que em 2024 exige dos Colachos bons calçados esportivos para evitar sustos.