Nos anos 80, a música pop decidiu enfrentar os problemas do mundo. Houve Band Aid, Live Aid, Farm Aid e, claro, "We Are the World", o enorme single de caridade de 28 de janeiro 1985 que reuniu quase 50 das maiores estrelas musicais da América para arrecadar dinheiro para o combate à fome na África. Na sessão de gravação, o produtor Quincy Jones pendurou uma placa que dizia: "Deixe seu ego na porta", e na maioria das vezes todos o fizeram. De fato, a noite lendária terminou com todo mundo pedindo autógrafo para todo mundo. |
"We Are the World" dominou as rádios, liderou as paradas e arrecadou muito dinheiro para uma causa muito nobre. Em homenagem ao 40º aniversário da música, um marco comemorado no novo documentário da Netflix, "The Greatest Night In Pop, relatamos aqui alguns fatos fascinantes sobre este momento singular na história da música.
No final de 1984, o famoso ator, cantor e ativista Harry Belafonte viu uma reportagem da BBC sobre a fome devastadora na Etiópia. Sentindo-se compelido a ajudar, ele contatou o gerente musical Ken Kragen e sugeriu um concerto para arrecadar fundos. Ken propôs que eles gravassem uma música de caridade com estrelas, assim como Bob Geldof havia feito no Reino Unido com a enorme "Do They Know It's Christmas?". Bob viu a mesma reportagem da BBC.
Um dos clientes de Ken Kragen era Lionel Richie, que se inscreveu no projeto após falar com Harry por telefone.
- "Negros morrendo, Lionel", disse Harry. - "Preciso de alguns negros para salvá-los."
Eles fizeram um acordo que Lionel escreveria a música com Michael Jackson e, apesar de se distrair com todos os animais na casa de Michael, eles terminaram dentro de uma janela de duas semanas. Eles tiveram o cuidado de evitar letras que fizessem a música parecer desatualizada.
- "Enquanto estávamos montando tudo, também estávamos pensando em como as palavras durariam ao longo de um período de tempo", disse Lionel. - "Não havia palavras como 'Right on'. Depois de dizer isso, você estaria preso aos anos 60. Se você dissesse 'Hi Guy', você estaria aos anos 90. Então não podíamos usar nada moderno. Tinha que ser muito bem pensado."
A gravação de "We Are the World" só poderia ter acontecido em uma determinada noite. Como você consegue reunir dezenas das maiores estrelas musicais da América em um estúdio de gravação ao mesmo tempo? Você realiza a sessão na noite de uma grande premiação. A sessão histórica que rendeu "We Are the World" aconteceu no estúdio de gravação A&M em Los Angeles em 28 de janeiro de 1985, logo após o American Music Awards, que aconteceu na mesma noite no vizinho auditório Shrine.
O aparentemente incansável Lionel Richie apresentou os AMAs e depois fez o papel de cicerone, ou principal solucionador de problemas, para o produtor de "We Are the World", Quincy Jones, quando as estrelas chegaram para gravar seus vocais.
Em 1985, havia poucos artistas na América ou em qualquer outro lugar do planeta maiores do que Prince, que estava saindo do sucesso gigantesco do combo filme-álbum "Purple Rain" do ano anterior. Prince ganhou três troféus nos AMAs de 1985, mas não compareceu naquela noite no A&M Recording Studios. Sua ausência provavelmente teve algo a ver com sua rivalidade com Michael Jackson e também porque ele era um total babaca.
- "Você quer acabar com a rivalidade e se juntar a um grupo de pessoas cantando uma música, ao lado de seu rival?”, disse Lionel Richie. - "Não. Quero dizer, de um ponto de vista estritamente egoísta, eu pude ver isso."
Lionel também admitiu que Prince “não era uma pessoa de grupo” e que "We Are the World" não combinaria com sua marca. Em vez disso, Prince passou a noite no restaurante mexicano Carlos & Charlie's, onde seus guarda-costas supostamente agrediram alguns fotógrafos.
Logo após "Like a Virgin", de 1984, Madonna era definitivamente famosa no nível Prince na época de "We Are the World". E ainda assim, por incrível que pareça, ela não foi convidada para cantar na gravação. Isso não agradou Harriet Sternberg, que trabalhou com Ken Kragen na organização do projeto.
- "Eu queria Madonna, mas Ken queria Cyndi Lauper", diz Harriet no novo documentário, alegando que os produtores consideraram que Madonna era uma péssima cantora. Quando soube disso a cantora fico muito chateada.
Quando o videoclipe de "We Are the World" foi ao ar, uma pergunta estava na mente de todos: por que diabos Dan Aykroyd, um comediante que só se interessou pela música como metade dos Blues Brothers, fazia parte do grupo? Acontece que foi um acaso total.
Em uma entrevista de 2010, Dan explicou que ele e seu pai estavam entrevistando gerentes de negócios no dia da sessão. De alguma forma, eles acabaram no escritório de um gerente de talentos, o que não era o que Dan precisava. Mas o cara convidou ele para se juntar ao "We Are the World".
- "Pensei: 'Como me encaixo aqui no meio de tanta estrala da música?'”, disse Dan. - "Bem, vendemos alguns milhões de discos com os Blues Brothers e na minha outra personalidade sou músico, então apareci e fiz parte disso, mas foi totalmente por acidente."
No videoclipe de "We Are the World", todos parecem bastante calmos e felizes, exceto talvez Bob Dylan . Há intensidade em sua performance, e as imagens dos ensaios dos bastidores mostram o quão estressado Dylan estava enquanto tentava descobrir seu papel.
De acordo com Lionel Richie, Dylan estava tendo um “colapso nervoso” sobre como lidar com sua parte solo da música.
- "Ele está tentando cantá-la", disse Lionel. E dissemos: - "Não, não queremos que você cante, apenas que seja Bob Dylan’.". A ideia, disse Lionel, era dar solos para pessoas com vozes superdistintas.
- "Bob Dylan tem uma voz identificável instantaneamente", disse Lionel. "Mas ele estava tentando cantar de outra maneira. Continuamos dizendo: 'Não, apenas cante como Bob Dylan'. Mas você viu aquela expressão no rosto dele? Ele disse, 'Bem, como é isso?'"
Horas antes da sessão "We Are the World", Cyndi Lauper tentou se esquivar de tudo.
- "Cyndi veio até mim durante os (AMAs) e disse: 'Meu namorado ouviu a música e não acha que será um sucesso, então não posso ir'", disse Lionel. - "Eu disse: 'Cyndi, é muito importante que você tome a decisão certa.'"
Ela acabou participando, embora, como ela diz no documento, ninguém soubesse que a música seria um sucesso tão grande.
- "Acho que muita gente não gostou"”, disse Billy Joel. - "Havia muito, tipo, olhar lateral. Olhamos muito para a outra pessoa, e lembro-me de Cyndi Lauper dizendo: 'Isto aqui está parecendo um comercial da Pepsi.' Houve algumas risadas e alguns grunhidos. Esse foi praticamente o consenso, eu acho. Mas ninguém diria: ‘Não vou fazer isso’."
Creditado aos EUA pela África, "We Are the World" passou quatro semanas no topo da Billboard Hot 100 e foi certificado como platina quádrupla em 1º de abril de 1985, menos de um mês após seu lançamento. Em todo o mundo, "We Are the World" vendeu mais de 7 milhões de unidades e o USA for Africa arrecadou 63 milhões de dólares para a causa.
Uma espécie de sequência chegou em 2010, quando um supergrupo chamado "Artists for Haiti gravou "We Are the World 25 for Haiti" para arrecadar dinheiro para as vítimas do grande terremoto daquele ano no Haiti. Lionel Richie e Quincy Jones estavam mais uma vez no comando, e a lista de mais de 80 artistas incluía Justin Bieber, Snoop Dogg, Celine Dion, Miley Cyrus, Usher e Tony Bennett.
Em tempo, talvez o mais curioso é que ""We Are the World" não foi a única música que as estrelas cantaram naquela noite. Como o projeto foi ideia de Harry Belafonte -unanimidade em simpatia entre todas as vertentes da música americana-, que tinha o sonho de reunir um supergrupo de artistas para gravar uma música cuja receita pudesse ser doada inteiramente para instituições de caridade, toda a sala explodiu em uma versão improvisada do sucesso clássico de Belafonte, "Day-O (The Banana Boat Song)".
O lema, estabelecido por Quincy Jones, "Deixe seu ego na porta, conhecedor da personalidade difícil de muitos deles, permitiu com que o ambiente se mantivesse saudável quase o tempo todo, exceto pela rata de Cindy Lauper. Na verdade, tudo acabou em uma tietagem danada de fãs sem igual. Todo mundo queria o autógrafo de todo mundo, segundo disse Leonel Richie em uma entrevista anos depois, acrescentando que havia uma sala em que todos eram fãs de todos e que todo mundo saiu dali com suas partituras rabiscadas. Estas partituras hoje estão emolduradas em quadros na sala de visita de muitos deles.
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