Desde 2010, o Projeto Tatu-Canastra se dedica a pesquisar o maior tatu do mundo, animal que, apesar de seu tamanho e distribuição em quase todos os países da América do Sul, é um dos animais menos conhecidos do mundo. Os pesquisadores fizeram descobertas importantes desde então, entre elas: as tocas que o tatu-canastra (Priodontes maximus) cava, que podem ter até 5 metros de comprimento, servem de abrigo contra temperaturas extremas para pelo menos outras 70 espécies, incluindo aves, répteis e mamíferos. |
A espécie é categorizada como vulnerável, sendo o avanço do agronegócio, e o consequente desmatamento e construção de estradas que o acompanham, a principal ameaça ao tatu-canastra.
O trabalho dos biólogos do projeto lembra mais o dos paleontólogos. Eles percorrem os biomas brasileiros do Cerrado, da Mata Atlântica e do Pantanal, em busca de qualquer indício da presença de um animal raramente visto apesar do seu tamanho: o tatu-canastra. Ele é basicamente um fantasma da floresta e a maioria das pessoas nem sabe da sua existência. A ligação com o tatu-canastra se dá por meio de evidências indiretas. Encontrar uma é como encontrar uma agulha no palheiro.
Uma das grandes ameaças ao tatu-canastra é basicamente a falta de conhecimento sobre ele. Procurando mudar isso está o Projeto Tatu-Canastra, criado em 2010 por duas organizações brasileiras, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS). Eles fizeram várias descobertas sobre a maior das 20 espécies de tatu do mundo.
O conhecido também como tatuaçu é uma criatura noturna que passa a maior parte do tempo dentro da engenhosa e vasta rede de túneis que cava, o que ajuda a explicar por que os avistamentos são tão raros. Estima-se que ela passa 3/4 de sua vida no mundo subterrâneo. Pode pesar até 60 kg e pode alcançar até 1,5 metros do focinho à cauda. Também é uma criatura solitária.
O tatu-canastra é protegido por uma armadura composta por escamas e armado com garras em forma de foice. A maior garra tem cerca de 14 centímetros de comprimento, maior que a de um urso polar. É como um fóssil vivo.
Grande parte da pesquisa gerada pela equipe do Projeto Tatu-Canastra -reunida por meio de pesquisas de campo, dispositivos GPS e armadilhas fotográficas camufladas espalhadas pela floresta- permanece inédita.
Essas tecnologias possibilitaram aos pesquisadores fazer um registro inédito de um filhote de tatu-canastra na natureza. Desde então, armadilhas fotográficas capturaram três outros pequenos tatus gigantes. Um das maiores descobertas do projeto foi sobre a reprodução do canastra. A fêmea que trocava os buracos a cada uma ou duas noites de repente permaneceu dentro de um deles por 25 dias. Após o parto, ela levou o filhote para outra toca e lá permaneceu por mais 15 dias. Então ela mudou os buracos novamente.
Graças a esta iniciativa, os biólogos sabem agora que a gravidez do tatu-canastra dura cerca de cinco meses, com a mãe dando à luz um único filhote. Anteriormente pensava-se que devia haver um ou dois filhotes, mas os estudos constataram o nascimento de apenas um, com intervalo de três anos entre cada gestação.
Desde o final de 2019, os biólogos do projeto também contam com uma nova tecnologia que tornou possíveis novas descobertas. Eles implantaram dispositivos GPS intra-abdominais com monitores de atividade em sete animais. Por meio dos dados gerados, a equipe constatou que os tatuaçus ficam ativos cerca de cinco horas à noite, caminhando em média 2 quilômetros nesse período.
Seus 14 anos de pesquisa levaram à publicação de cerca de 30 artigos e à produção de um documentário da BBC, "Hotel Armadillo", que foi ao ar em 2017. Em 2015, o Projeto Tatu-Canastra ganhou o Prêmio Whitley, conhecido no comunidade de conservação como o Oscar Verde.
Um dos feitos mais impressionantes do tatu-canastra é encontrado no subsolo. As enormes tocas que ele cava, ou melhor, túneis, podem ter 5 metros de comprimento, 1,5 a 2 metros de profundidade e 35 centímetros de largura. A uma velocidade incomparável, ele pode fazer novas escavações para os próximos dias em apenas 20 minutos. No entanto, o que surpreende os biólogos é o número de outros animais que se beneficiam destas casas.
Até agora foram documentados 70 animais diferentes que buscam abrigo nas tocas dos tatuaçus. As tocas são usadas quando há mudanças climáticas significativas no ambiente porque muitas vezes mantêm uma temperatura constante de 25° Celsius.
As tocas atraem muitos animais em busca de alimento. O tatu-canastra se alimenta de formigas e cupins, mas ao cavar os túneis quebra raízes e mexe no solo. Roedores, carnívoros, répteis e até aves, como a seriema, foram vistos nesses esconderijos subterrâneos.
O Pantanal foi o ponto de partida perfeito para estudar o tatu-canastra porque ainda é uma região relativamente bem preservada. Porém, para desenvolver estratégias de conservação, foi necessário conhecer o cenário em outros biomas, daí a extensão do projeto para o Cerrado, no Mato Grosso do Sul, Mata Atlântica, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, e as planícies do Chaco, na Argentina.
O mapa da área de distribuição do animal elaborado pelo projeto serve de base para o planejamento das zonas econômicas e ecológicas; o tatu-canastra é hoje um dos cinco principais mamíferos utilizados como indicador para estabelecimento de áreas protegidas e corredores de conservação. A espécie está classificada como vulnerável na Lista Vermelha da IUCN, o que significa que está ameaçada de extinção.
O desenvolvimento da agricultura e da pecuária, com o consequente desmatamento e construção de estradas, são algumas das principais ameaças a esta espécie. Os grandes mamíferos são os mais afetados pelas estradas. Como percorrem longas distâncias, devido à destruição do habitat, isso aumenta a possibilidade de atravessarem as estradas e, portanto, sofrem o risco de serem atropelados.
Devido ao tamanho que atingem quando adultos, os tatus-canastras tornam-se alvo da caça predatória. Apesar de ser difícil quantificar, os tatus-canastras também são caçados para atender ao interesse de colecionadores que cobiçam suas grandes garras.
Ele é protegido por lei em todos os países onde é encontrado, e o comércio internacional é proibido por sua listagem no Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção. No entanto, a caça para alimento e venda no mercado negro continua a ocorrer.
Em 2017, os pesquisadores reconheceram a necessidade de se engajar na educação ambiental para ajudar o tatu-canastra a ganhar o respeito das crianças e das comunidades locais. Com o apoio da Fubá, uma startup de educação socioambiental, criaram atividades e materiais para uso em salas de aula, desde a educação infantil até o ensino médio.
Por enquanto, a missão dos pesquisadores é tornar o tatu-canastra um animal mais familiar para todos, porque há uma tendência nas escolas de falar muito sobre os animais da África e esquecer da nossa fauna.
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