Faz alguns dias notei que as cambacicas (Coereba flaveola) estavam ornando minhas árvores frutíferas no quintal. Com farta distribuição no Brasil, em cada estado tem um nome popular: sibito, sebito, papo-amarelo, caga-sebo, sebinho, siurinha e mariquita, entre outros. Que as cambacicas tenham voltado é uma boa notícia para elas, mas uma péssima para o pardal (Passer domesticus), pois os pardais perseguem os sebinhos, a ponto de não dividirem o mesmo habitat. Ou seja, se as cambacicas voltaram é porque os pardais foram embora. Isso é muito estranho, especialmente se levarmos em consideração que pardais não migram. |
O pardal é autóctone do norte da África, entretanto este pássaro se dispersou praticamente pelo mundo todo. Segundo os registros históricos, em 1903, o então prefeito do Rio, Pereira Passos, autorizou a soltura deste pássaro exótico proveniente de Portugal. Logo se tornou uma praga, se expandido pelo espaço rural e, em alguns casos, prejudicado a produtividade agrícola.
Mas você já pensou qual foi a última vez que você viu um pardal em sua casa? Provavelmente, há algum tempo. Esses passarinhos antes comuns estão se tornando uma raridade, tanto que recentemente a Sociedade Real para Proteção de Pássaros, no Reino Unido, adicionou o pardal à sua Lista Vermelha de populações de aves em rápido declínio, que representam uma preocupação de conservação global.
Muitas das nossas chamadas aves "comuns" correm grave risco. No início do século XIX, poucos imaginariam que o pombo-passageiro (Ectopistes migratorius) um dia seria extinto. Mas aconteceu. A população de pombos-passageiros era estimada entre 5 e 10 bilhões na primeira metade do século XIX. Nas décadas seguintes, todas as aves desapareceram, não devido a doenças ou destruição de habitat. A infeliz espécie aviária morreu apenas porque foi caçada impiedosamente para obter carne.
O pardal é outro pássaro "comum" que está desaparecendo rapidamente. Esta espécie de ave ainda pode ser vista em mais de dois terços da superfície terrestre do mundo, mas chegam relatos de todos os países sobre o rápido declínio das populações destas aves outrora abundantes.
Os antigos romanos introduziram o pardal na Europa vindo do Norte da África e da Eurásia. A exploração e migração humana levaram então a ave a muitas outras partes do globo, incluindo América do Norte e do Sul, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.
Sendo uma ave social, o pardal prosperou perto dos seres humanos, onde os grãos e semente eram abundantes. Apesar de ter sido ridicularizado como "rato aviário" no final do século XIX -por danificar cultivos-, o pardal "colonizou" constantemente vários países. A morte de um grande número deste pássaro é ainda mais chocante porque é um sobrevivente; pardais foram encontrados reproduzindo-se no alto do Himalaia, onde são únicos.
Os pardais não migram. Na verdade, eles nunca vão muito longe, geralmente passam a vida toda a cerca de um quilômetro de seu local de nascimento. Portanto, pode ser intrigante quando eles parecem desaparecer da noite para o dia. E como são pássaros altamente sociáveis, o desaparecimento de um pardal também pode ser estranhamente perceptível. Você certamente terá um jardim muito mais tranquilo sem eles.
As estimativas da União Internacional para a Conservação da Natureza para a população global chegam a quase 1,4 bilhão de indivíduos, o segundo entre todas as aves selvagens, talvez apenas atrás do tecelão-de-bico-vermelho, em abundância. Embora o tecelão seja, ao contrário do pardal, restrito a um único continente e nunca tenha sido sujeito às introduções humanas.
No entanto, as populações diminuíram em muitas partes do mundo, especialmente perto dos seus locais de origem na Eurásia. Esses declínios foram notados pela primeira vez na América do Norte, onde foram inicialmente atribuídos à disseminação do tentilhão-doméstico, mas foram mais severos na Europa Ocidental.
Estes declínios não são sem precedentes, uma vez que reduções semelhantes na população ocorreram quando o motor de combustão interna substituiu os cavalos na década de 1920 e uma importante fonte de alimento na forma de derramamento de grãos e sementes foi perdida.
Várias causas para as diminuições dramáticas na população foram propostas, incluindo a predação, em particular por gaviões, radiação eletromagnética de celulares e doenças como a malária aviária. A escassez de locais de nidificação causada por mudanças no projeto dos edifícios urbanos é provavelmente um fator, e as organizações conservacionistas estão incentivando o uso de caixas-ninho especiais para pardais.
No entanto a principal causa do declínio dos pardais parece estar relacionada a um outro fenômeno que notamos no dia a dia e que conhecemos muito bem: o "apocalipse dos insetos". O rápido declínio nas populações de insetos em todo o mundo está diretamente relacionado com a insuficiência de alimentos para os filhotes de pardais.
Ademais, o aumento do declínio dos passarinhos pode ser o resultado do aumento das monoculturas -não se vê pardais em grandes plantações de cana ou de soja-, do uso pesado de pesticidas, da substituição de plantas nativas nas cidades por plantas introduzidas, de grandes áreas de estacionamento, e possivelmente a introdução de gasolina sem chumbo, que produz compostos tóxicos como o nitrito de metila.
A proteção de habitats de insetos em fazendas e o plantio de plantas nativas nas cidades beneficiam o pardal, assim como o estabelecimento de espaços verdes urbanos. Para aumentar a conscientização sobre as ameaças ao pardal doméstico, o Dia Mundial do Pardal é comemorado em 20 de março em todo o mundo desde 2010.
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