Muitos tipos de peixes migram regularmente, em escalas de tempo que variam de diariamente a anualmente ou mais, e em distâncias que variam de alguns metros a milhares de quilômetros. Essas migrações geralmente são feitas para melhorar alimentação ou para reprodução, mas em alguns casos os motivos ainda não são claros para os ictiólogos. Estas migrações envolvem movimentos de cardumes em escala e duração maiores do que aqueles que ocorrem durante as atividades diárias normais. O problema é que estes cardumes devem muitas vezes vencer obstáculos naturais, como cachoeiras, ou barragens artificiais construídas pelos homens em reclusas e represas. |
Assim se faz necessária a escada para peixes, que permite que os peixes contornem as barreiras nadando e saltando uma série de degraus relativamente baixos -daí o termo escada- nas águas do outro lado. A velocidade da água que cai sobre os degraus tem que ser grande o suficiente para atrair os peixes para a escada, mas não pode ser tão grande que leve os peixes de volta rio abaixo ou os esgote a ponto de não conseguirem continuar sua jornada rio acima.
Relatos escritos sobre passagens em áreas irregulares para peixes datam da França do século XVII, onde feixes de galhos eram usados para fazer degraus em canais íngremes para contornar obstruções. Muitos fracassos históricos de escadas para peixes se tornaram importantes caso jurídicos na legislação hídrica criando intrínsecas leis para a proteção de espécies, sobretudo as que praticam a piracema.
Em 1880, foi construída a primeira escada para peixes em Rhode Island, Estados Unidos, na represa das cachoeiras Falls. Esta primeiras tentativas do homem consertar um problema que ele próprio criou para os peixes era de madeira e exigia manutenção constante. A escada de madeira foi substituída em 1924 uma de concreto.
À medida que a Era Industrial avançou, as barragens de usinas e outras obstruções fluviais, como proteção contra inundações e irrigação agrícola, tornaram-se maiores e mais comuns, levando à necessidade de desvios mais eficazes para os cardumes.
Construir uma barragem provoca uma mudança estupenda no meio ambiente e, como acontece com qualquer mudança, há vencedores e perdedores. Os vencedores geralmente somos nós. Mas sabemos há muito tempo, provavelmente desde que começamos a construir barragens, que muitos dos perdedores são os peixes migratórios devido à fragmentação do seu habitat.
Em um vídeo estupendo cheio de detalhes e tecnicismos, Grady Hillhouse, do canal do Youtube Practical Engineering, observa ainda que cada espécie é diferente e as escadas devem ser adaptadas como tal. Por estar no noroeste do Pacífico, ele usa o exemplo da migração do salmão.
- "Os salmões encontram todos os tipos de obstáculos em riachos e rios naturais, mesmo ignorando os criados pelo homem", diz ele. - "Então, o objetivo de uma escada para salmões é imitar as condições naturais, fazer com que o salmão pense que está simplesmente subindo uma seção do rio, se for um pouco íngreme e concreta, sem demora, estresse, ou ferimento."
Para ver esse desenvolvimento em primeira mão, Hillhouse visitou o Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico em Richland, Washington, onde os cientistas realizam uma grande quantidade de investigações e pesquisas para garantir a segurança da população local de peixes. A partir destas pesquisas e décadas de tentativa e erro com os sistemas de passagem de peixes no mundo real, engenheiros e biólogos começaram a se concentrar em alguns projetos que funcionam melhor.
Existem vários tipos de escadas que devem ser usadas em conformidade com a hidrografia. A mais comum e antiga é a de piscina e açude que usa uma série de pequenas represas e piscinas de comprimento regular para criar um canal longo e inclinado para os peixes contornarem a obstrução. No Brasil a mas comum é mesmo a escada de concreto, mas já existem usinas que usam o elevador Borland.
As escadas para peixes têm um histórico misto de eficácia devido aos diferentes tipos de espécies. A eficácia depende da capacidade de natação de como os peixes se movem para cima e para baixo rio acima. Uma passagem para peixes projetada para permitir a passagem de peixes rio acima pode não permitir a passagem rio abaixo, por exemplo. As passagens para peixes nem sempre funcionam. Um estudo demonstrou que apenas 3% do sável-americano consegue passar por todas as escadas de peixes no caminho para o local de desova.
A legislação sobre a obrigatoriedade da construção de escadas é bem confusa em nosso pais e pouco mais da metade das barragens hidrelétricas de grande porte têm esses sistemas de transposição de peixes (STP). No Brasil, a variabilidade da eficiência dos STPs também é grande. Alguns estudos reportam que os sistemas empregados foram eficientes, enquanto outros reportam que os STPs foram prejudiciais à determinadas comunidades. Esse resultado indica que a avaliação da implementação de STP deve ser realizada de forma específica para cada tipo de barragem, considerando a ictiofauna local e as características hídricas e geográficas de forma interdisciplinar.
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