O maior festival de camelos-bactrianos do mundo na Mongólia

Pastores de todo o deserto de Gobi, na Mongólia, reúnem-se para um festival que celebra o ameaçado camelo-bactriano de duas corcovas. O evento é geralmente realizado no início de março, ainda que em 2024 foi comemorado em janeiro. Corcundas e camelos... muitos camelos. Essa é a cena em Bulgan Soum, uma pequena cidade mongol no meio do deserto de Gobi, aproximadamente a 250 quilômetros ao norte da fronteira chinesa. Os camelos-bactrianos chegam de todas as direções a pé, carregando cavaleiros agasalhados presos entre suas duas corcovas.

Embora o céu esteja sem nuvens, o vento gelado pode aumentar rapidamente. Oficialmente chamado de Festival dos Mil Camelos, a multidão que chega para o pontapé inicial parece ser composta por 100 camelos. O festival de dois dias começa com um concurso de beleza de camelos.

A maioria dos jovens participa do Concurso de Casais Bonitos e fazem fila na barraca do beijo. Mas o festival gosta de criar atrações também para a geração mais velha de pastores. Eles dependem de seus animais como meio de transporte e vendem produtos de sua lã e leite.

Os juízes procuram marcas de tradição; os competidores que usarem decorações e utensílios de pastoreio terão mais chances de vencer. Os donos dos camelos, geralmente um casal, vestem sobretudos tradicionais paramentados e decorações transmitidos de geração em geração.

Eles escolhem os seus melhores e mais dóceis camelos com seus pelos cor de Chewbacca, que caem como uma barba escovada com esmero. Suas corcundas são envoltas em franjas douradas. O arnês é todo paramentado para que o camelo possa dar o melhor de si na "passarela".

Ainda que caprichem na arrumação de seus animais, os animais são respeitados e não chegam ao exagero do que aconteceu em um festival homônimo na Arábia, em 2018, quando os responsáveis pelo Festival de Camelos Rei Abdulaziz tiveram que desclassificar 12 camelos que estavam usando Botox.

Os camelos-bactrianos foram domesticados há milhares de anos para transportar mercadorias e pessoas por toda a Ásia. Adaptados às condições do deserto, os camelos podem realizar proezas olímpicas: carregar mais de 200 quilos em viagens longas, suportar verões de 40 °C e invernos de -20 e, quando bem nutridos, podem ficar sem comer e beber durante semanas. Suas corcovas atuam como reservas de gordura para armazenar energia.

O camelo-bactriano domesticado é a maior espécie de camelo do mundo. Eles são capazes de resistir ao terreno acidentado da Ásia Central e Oriental. Adaptados para manter a areia afastada, os camelos possuem duas fileiras de cílios e narinas seláveis.

Quando chega a sua vez, os casais atravessam orgulhosamente a praça. As barbas de seus camelos ondulam. Todo mundo tira suas fotos, orgulhosos para que as gerações futuras tenham provas fotográficas do seu estilo de vida.

Os jurados só anunciam os vencedores no dia seguinte. Mas há muito mais o que fazer no Festival dos Mil Camelos. Os pastores vendem leite de camelo fermentado, juntamente com brinquedos de camelo costurados em feltro.

Os eventos esportivos, como o torneio de pólo de camelo e a corrida de camelos, continuam durante a tarde. Em 2016, o festival quebrou a marca reconhecida pelo Livro Guinness dos Recordes de maior corrida de camelos do mundo. Mais de 1.100 camelos cruzaram a linha de chegada.

Por que essa mania regional pela criatura de duas corcovas? A história de origem está interligada com a transição da Mongólia para a democracia.

Sob o socialismo, o pastoreio era planejado centralmente. Os pastores vendiam seus produtos de origem animal ao estado que lhes pagava uma ninharia. Com o início do capitalismo em 1990, os pastores enfrentaram novas pressões dentro da economia de mercado livre. Para alguns, seus camelos valiam mais mortos do que vivos.

No início do mercado aberto, os pastores de camelos não conseguiam uma boa quantia de dinheiro vendendo produtos feitos de leite e lã de camelo. Leite e lã de camelo não vendiam, mas carne de camelo sim. Foi assim que alguns pastores começaram a abater seus camelos em meados dos anos 90 e a população de camelos no país diminuiu consideravelmente.

O festival foi criado alguns anos depois, em 1997, pela recém-formada Associação de Proteção dos Camelos (APC), uma organização não governamental local, para reverter essa tendência e proteger a criatura do deserto.

A APC propagandeou que o leite de camelo era tremendamente superior ao de vaca e, junto a designers, fez campanhas massivas sobre roupas da moda com lã de camelo destacando que a lã tem propriedades hipoalergênicas únicas, benéficas para quem a usa e tem o benefício adicional de não formar bolinhas comuns nas lãs tricotadas.

Foi assim que o preço da lã e do leite dispararam. Após o festival, muitos criadores e pastores aumentaram extraordinariamente seus rebanhos e o bactriano voltou a ser todo um símbolo mongol.

O festival já é organizado há mais de 25 anos por comunidades pastoris locais com o objetivo de proteger os camelos-bactrianos e aumentar a renda e a produtividade dos nômades locais por meio do turismo e conscientizar a geração mais jovem da Mongólia sobre sua cultura e herança únicas e ter orgulho de transmiti-las de geração em geração.

A Festa do Mil Camelos atrai viajantes locais e estrangeiros, amantes da cultura e aventureiros em terras geladas e brilhantes de inverno. Além do concurso de beleza e eventos esportivos, apresentações de música e dança tradicional da Mongólia, estão entre os destaques deste evento anual.

O festival é realizado alguns meses antes dos partos das camelas. Costumeiramente era realizado no começo de março, mas em 2022 e 2023 o ciclo de partos ocorreu antes e por isso esse ano o festival foi realizado em janeiro.

Embora a maioria dos camelos recém-nascidos consiga sobreviver, alguns não ou são natimortos. Quando isso acontece, existe uma crença local que a camela fica de luto, tão estressada, com lágrimas nos olhos, que pode vir a morrer também.

- ""O camelo tem um corpo grande, mas tem um coração muito mole", reza um ditado local.

Os pastores tem até uma canção para momentos como esses, que usam há gerações para acalmar camelos em momentos de desgosto. A prática completa de "persuasão de camelos", para unir mães e filhotes, foi capturada no filme alemão de 2003, "A História do Camelo Chorão.

Este vínculo entre pastor e camelo é difícil de expressar em palavras, pois ela cresce ainda mais a cada temporada de partos. Os filhotes são precoces, sendo capazes de ficar em pé e correr logo após o nascimento, e são bastante grandes, com peso médio ao nascer de 36 kg. Eles são amamentados por cerca de 1,5 anos. O filhote fica com a mãe por três a cinco anos, até atingir a maturidade sexual, e muitas vezes ajuda a criar as gerações subsequentes durante esses anos.

Os camelos-bactrianos jovens são precoces , sendo capazes de ficar em pé e correr logo após o nascimento, e são bastante grandes, com peso médio ao nascer de 36 kg. Eles são amamentados por cerca de 1,5 anos. O filhote fica com a mãe por três a cinco anos, até atingir a maturidade sexual, e muitas vezes ajuda a criar as gerações subsequentes durante esses anos. Camelos selvagens às vezes se reproduzem com camelos domesticados ou selvagens.

Atualmente, a maioria das espécies vivas de bactrianos (Camelus bactrianus), hoje estimadas em mais ou menos 10 mil indivíduos, são domesticados pelas populações locais. Classificado como "criticamente ameaçado" de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza, estima-se que atualmente existam menos de mil indivíduos vivos bactrianos-selvagens (Camelus ferus), na natureza.

Como em tese, pertencem ao mesmo gênero e cruzam entre si, bactrianos são inseridos junto a população de bactrianos-selvagens com o intuito de recuperar a população do segundo. De fato, o bactriano e o dromedário frequentemente cruzam para produzir descendentes férteis. Onde as áreas de distribuição das duas espécies se sobrepõem, como no norte do Punjab, no Irã e no Afeganistão, as diferenças fenotípicas entre elas tendem a diminuir como resultado de extensos cruzamentos entre elas.