Os óculos corretivos de cores para daltônicos realmente funcionam?

O daltonismo é uma condição que causa dificuldade nas pessoas em distinguir vermelho, verde, azul ou uma mistura dessas cores em seu campo visual. Em casos raros, algumas pessoas não conseguem enxergar nenhuma cor. É causado por diversos fatores. Normalmente, é herdado e está presente desde o nascimento, mas também existem situações em que uma pessoa pode ter problemas com a visão das cores mais tarde na vida. Isto pode ocorrer durante o processo de envelhecimento, como resultado de uma lesão ocular, como efeito colateral de alguns medicamentos ou devido a problemas oculares como glaucoma ou catarata.

A camada nervosa de um olho normal possui três tipos de células, chamadas células cone. Esses três tipos de células cone diferem pela capacidade de detectar luz vermelha, verde ou azul. O daltonismo herdado ocorre quando o olho não possui um dos tipos de células cônicas ou eles não estão funcionando de maneira eficiente.

Supostamente há óculos que podem corrigir a condição problema e o MDig tem vários vídeos comoventes de pessoas enxergando cores pela primeira vez, mas segundo estudos recentes a indústria bilionária dos óculos corretivos de cor, com foco em grandes marcas como EnChroma, PileStone e Carelust, é pura enganação e fraude.

Uma afirmação no site da EnChroma era que seus óculos são "projetados para melhorar a experiência cotidiana da visão das cores". No entanto, essa afirmação foi recentemente alterada para uma afirmação mais sutil: "Os óculos são um dispositivo óptico auxiliar para melhorar a discriminação de cores em pessoas com daltonismo; não são uma cura para o daltonismo", salientando que os resultados variam dependendo do tipo e extensão da deficiência de visão de cores por indivíduo.

Em um estudo publicado já em 2018 na Optics Express, pesquisadores da Universidade de Granada (UGR) desmascararam a eficácia destes óculos para a deficiência visual das cores, provando que os óculos EnChroma não tornam a visão das pessoas daltônicas comparável à das pessoas sem daltonismo.

Esta investigação da UGR envolveu 48 pessoas com daltonismo, após uma chamada pública à qual responderam mais de 200 voluntários. Os pesquisadores utilizaram duas estratégias complementares para avaliar a eficácia dos óculos. A primeira estratégia consistiu em avaliar a visão cromática dos participantes com e sem óculos por meio de diferentes tipos de testes: o teste de Ishihara (reconhecimento) e o teste de Fansworth-Munsell (arranjo). Além disso, eles usaram um teste baseado no Tabela de Cores da X-Rite, que avalia a nomenclatura subjetiva de cores.

O estudo concluiu que um daltônico que usa os óculos corretivos não perceberá novas cores, mas verá as mesmas cores de uma forma diferente, assim como se estivesse usando óculos de sol polarizados.

- "Isso permite que alguns indivíduos que utilizam esses óculos possam distinguir algumas cores, mas em detrimento de outras, que agora ficarão confusas. Mesmo que um filtro de cores como o usado pelos óculos possa alterar a aparência das cores, ele nunca tornará a visão das cores mais semelhante à visão de um observador normal", afirmaram os autores.

O efeito da utilização dos óculos EnChroma é semelhante ao obtido com óculos concebidos para atividades específicas (tiro, caça, baixa visão, etc.), onde a utilização de óculos coloridos ajuda a perceber melhor determinados estímulos graças a um maior contraste com o ambiente.

Em 2021, a Academia Americana de Oftalmologia afirmou em um artigo que os óculos corretivos realmente não funcionam conforme prometem.

- "Os óculos para daltonismo mudam o que as pessoas que os usam veem, melhorando a distinção entre vermelho e verde", explicou Ivan Schwab, professor de oftalmologia na Universidade da Califórnia, Davis. - "Mas a experiência varia muito entre os indivíduos, e esses óculos não oferecem às pessoas um verdadeiro equivalente à visão natural das cores."

Os óculos não modificam de forma alguma os fotorreceptores, os nervos ópticos ou o córtex visual de uma pessoa para corrigir o daltonismo.

- "A percepção das cores requer um conjunto completo de equipamentos com funcionamento ideal, e os óculos não substituem ou reparam mecanismos ausentes ou quebrados", disse Ivan.

Ademais, Ivan alerta que óculos para daltonismo podem piorar a visão noturna. Como reduzem a quantidade de luz que chega aos olhos, pode não ser uma boa ideia usar óculos corretores de daltonismo à noite. Reduzir a quantidade de luz que entra nos olhos pode ser um problema especialmente para pessoas que têm outras doenças oculares, como catarata ou degeneração macular.

Esses óculos são caros e podem não proporcionar a experiência esperada. Alguns óculos corretores de daltonismo custam várias centenas de dólares. É importante definir expectativas realistas sobre o quanto esses óculos podem mudar sua visão antes de comprar.

Óculos que melhoram o contraste não são iguais aos óculos para daltonismo. Você já deve ter ouvido falar de outros dispositivos projetados para melhorar o contraste entre as cores, como óculos de caça ou filtros que aumentam o contraste para fotografia. Mas esses produtos não foram desenvolvidos especificamente para melhorar a visão das cores em pessoas com daltonismo.

Os inventores da Enchroma entenderam a fisiologia visual, a deficiência de cor e tinham uma compreensão completa da física da óptica e dos filtros ópticos. Com esse conhecimento combinado, eles foram capazes de selecionar minerais de terras raras que correspondem exatamente às restrições do filtro necessário para "enriquecer" os óculos para resolver essa deficiência de cor. Mas longe de pensar nos óculos como corretivos devem ser encarados como uma curiosidade.

Nos dois vídeos compartilhados neste artigo, o Youtuber Jonathon "Jono", conhecido online como MegaLag , apresenta um série de documentários investigativos, aprofundando na indústria de óculos corretivos de cores. Sua pesquisa expõe um cenário repleto de fraudes e táticas de marketing enganosas, desafiando as alegações de que esses produtos permitem que pessoas com deficiências na visão de cores vejam novas cores.

O curioso desta história é que muitas daquelas daltônicos que conseguiram perceber melhor centos estímulos graças ao uso dos óculos estão irritados asseverando que o óculos sim funciona. Isso me lembra a mesmíssima reação de algumas pessoas diagnosticadas com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) quando sabem que Leon Eisenberg, o psiquiatra que na década de 1960 estabeleceu o TDAH, disse em entrevista ao diário Der Spiegel, que o TDAH é um exemplo de "doença inventada para vender medicamento".