Por que as pessoas jogam sapatos e tênis nas linhas de energia?

Por mais estranho que possa parecer, as linhas de energia tornaram-se uma fonte popular de fascínio urbano. As pessoas se perguntam por que às vezes eles usam bolas de cores vivas, por que às vezes pedaços de árvores ficam pendurados nelas ou por que os pássaros adoram usá-las como poleiros. Embora esses mistérios tenham explicações prontas, outro fenômeno de inutilidade praticado em quase todo o mundo não tem: por que as pessoas costumam arremessar pares de sapatos e tênis em fios de energia?

A primeira impressão que dá é que não passa de uma brincadeira sem graça de gente em pleno estado de ócio, mas os motivos podem ser obscuros. Lauren Cahn, do Reader's Digest, andou pesquisando o assunto e abordou alguns motivos possíveis, e nem todos são benignos.

Segundo ela, a prática surgiu nos Estados Unidos e servia para delimitar o território das gangues. Na Espanha seria um sinal implícito de acordo entre a máfia e a polícia. Na Austrália o motivo é mais inocente: seria uma forma de contar quando alguém perdia virgindade.

Esta teoria popular, aventada inclusive no Brasil, sustenta que os calçados podem ser um sinal de que há atividade de gangues em um determinado bairro. Amarrar os cadarços dos sapatos e jogá-los nas linhas é uma forma de demarcar território.

Dizem que a prática no Brasil começou como uma forma de tortura de chefões do tráfico com moradores rebeldes com o império da lei nas favelas.

Lauren não conseguiu encontrar nenhum departamento de polícia que pudesse corroborar tais informações. No entanto, uma reportagem de 2015 citou um "membro de alto escalão" dos Bloods, uma das maiores e mais violentas gangues de Califórnia, que confirmou a teoria, dizendo que o arremesso de calçados era um aviso aos grupos rivais. A fonte também afirmou que os tênis podem indicar que alguém foi morto ou levou uma surra.

Outras histórias ecoam a ideia de que os calçados poderiam ser um memorial improvisado. Uma explicação adjacente é que os calçados são uma espécie de propaganda para consumidores de drogas ilícitas de que há entorpecentes disponíveis na área. Ao contrário da teoria das gangues, esta tem credibilidade em algumas delegacias de polícia e conselhos municipais. Por ser ambíguo -ao contrário, digamos, de uma grande placa "Compre drogas aqui"- é possível que os traficantes estejam dispostos a anunciar com um par de tênis.

Outras fontes citaram nada mais do que travessuras juvenis. Jovens e adolescentes podem jogar calçados velhos fora como uma forma leve de vandalismo ou possivelmente para antagonizar um amigo ou membro da família. A explicação mais inócua? Que é simplesmente um ritual de passagem.

Mais recentemente, estudantes da Universidade de Michigan observaram que o ato era simplesmente uma comemoração de sua formatura. Calçados pendurados em cadarços perto de residências estudantis alugadas, e alguns têm nomes de formandos e datas escritas neles.

Provavelmente não há um motivo único para o arremesso de alçados. Pode, no entanto, estar em declínio porque pode render alguns dias de cadeia. Seja qual for o motivo para jogá-los fora, os calçados representam o risco de interromper o fornecimento da linha de energia.

Os calçados pendurados em fios podem provocar problemas sérios, quando os cadarços se enrolam e acabam causando curtos-circuitos. Alguns causam até fogo. A verdade é que lançar objetos nos fios da rede elétrica representa um grande risco para a segurança de toda a comunidade e do sistema elétrico.

Isso porque, esses objetos em contato com a rede energizada podem provocar a interrupção no fornecimento de eletricidade e de outros serviços essenciais, além de choque elétrico, incêndios, queimaduras graves e até acidentes fatais, em caso do rompimento de algum cabo ou tentativa de retirar o objeto da fiação.

Por esses motivos, rotineiramente as concessionárias de energia elétrica precisam fazer a limpeza das redes para a retirada de objetos que ficam presos aos fios, a fim de garantir a segurança e qualidade do fornecimento de energia à população.