Longyearbyen, um pequeno povoado norueguês situado nas ilhas Esvalbarda, bem no meio do caminho entre a Noruega e o Polo Norte, além de não ver a luz do Sol durante quatro meses ao ano -O sol se põe a cada ano pela última vez em 25 de outubro e não vai mostrar mais a sua cara no horizonte até o dia 8 de março- e de temperaturas que chegam aos -46 graus Celsius, os 2.530 habitantes são proibidos de morrer. Também ninguém pode nascer ali. Não se trata de uma lei em sentido estrito, mas sim de uma recomendação oficial em vigor desde 1950 e há uma explicação para tão insólita advertência. |
Lamentavelmente não se trata de que os habitantes da aldeia tenham descoberto o almejado segredo da imortalidade. Senão porque simplesmente não é possível ter acesso aos serviços funerários na cidadezinha. Em Longyearbyen não há mortuários nem velórios e muito menos enterros.
Quando uma pessoa fica doente e sua enfermidade reveste certa gravidade, a recomendação oficial é que o enfermo seja transladado ao continente no caso de uma possível morte. As mulheres nos últimos dias da gravidez também devem abandonar o lugar e se dirigir à Noruega continental a dar luz.
A razão desta estranha norma não tem a ver com a falta de instalações médicas. Longyearbyen tem um pequeno hospital. O problema está relacionado com as baixas temperaturas e com o permafrost de 10 a 40 metros. A máxima dos últimos 17 anos foi 18 graus em junho, e o normal é que o termômetro nunca passe do zero durante oito dos 12 meses do ano. O frio é tão extremo que os mortos enterrados ali simplesmente não se decompõem.
Quando descobriram esta eventualidade, as autoridades de Longyearbyen decidiram proibir o enterro de seus habitantes na localidade por temor a que os cadáveres frescos possam disseminar doenças.
O temor não é infundado. Em 1998, uma equipe de pesquisadores exumou vários corpos e encontrou neles vírus vivos de uma epidemia mortal de gripe que arrasou a pequena localidade mineira... em 1918. Em realidade, os mortos que não se decompõem são um problema que afeta toda Noruega, mas em Longyearbyen é especialmente extremo.
O que sim é permitido na cidade é incinerar um defunto fora de Esvalbarda e devolver suas cinzas ao local na rua número x já que as ruas de Longyearbyen também não têm nomes, só números. A norma não inclui as mortes acidentais.
A ilha é o lar também de mais de mil ursos polares, mas os habitantes de Longyearbyen estão bem acostumados a sua presença. De fato, sim há uma lei oficial que obriga os moradores a portar um rifle se caso se aventurem fora do povoado e não é incomum ver os moradores com um rifle pendurado no ombro, mas as armas são proibidas em qualquer edifício.
Os gatos também são terminantemente proibidos porque afetam as aves da ilha. No entanto as renas autóctones parecem cachorrinhos de tão dóceis. A caça do cervídeo é proibida e assim elas vagam pela cidade e geralmente não são incomodadas pelas pessoas.
O sol se põe a cada ano pela última vez em 25 de outubro e não vai mostrar mais a sua cara no horizonte até o dia 8 de março, quando acontece uma celebração de uma semana, chamada "solfestuka", para receber o retorno do sol e toda a cidade se reúne nos degraus do antigo hospital precisamente às 12:15 para aguardar sua chegada.
Na cidade mais ao norte do mundo, estão, logicamente, o restaurante com uma das maiores adegas da Europa com mais de 20 mil garrafas, a igreja, o banco, os Correios, o museu, o aeroporto comercial e a escola mais ao norte do mundo.
Ademais, suas características climáticas gélidas serviram para que o arquipélago fosse eleito a sede perfeita para a construção de um banco mundial de sementes para garantir o acesso a cultivos chaves em caso de um Armagedon.
Conhecido como Silo Global de Sementes de Esvalbarda, ou Silo do Fim do Mundo, ele foi construído no Monte Spitsei a 120 metros de profundidade na pedra de arenito, para salvaguardar a biodiversidade das espécies de cultivos que servem como alimento no mundo todo.
O silo tem capacidade para abrigar três milhões de sementes. O restante será preservado através de coleções de plantas vivas ou em laboratório. O "cofre" é aberto apenas quatro vezes por ano. Suas câmaras são preservadas a -18 °C, e se por alguma razão o sistema elétrico de refrigeração falhar, o montante de gelo e neve que naturalmente recobre o silo, o permafrost mantém as sementes entre -4 °C e -6 °C.
Em setembro de 2015, houve a primeira retirada de sementes para repor um banco genético de Aleppo, na Síria, que foi parcialmente danificado por conta da guerra civil no país.
Em maio de 2024, o silo detinha 1.301.397 variedades de sementes originárias de quase todos os países do mundo. Estas variam desde variedades únicas dos principais alimentos básicos africanos e asiáticos, como milho, arroz, trigo, feijão nhemba e sorgo, até variedades europeias e sul-americanas de beringela, alface, cevada e batata. O silo já possui a mais diversificada coleção de sementes de culturas alimentares do mundo, representando mais de 13.000 anos de história agrícola. Espero que nunca precisemos utilizar estes recursos!
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