Em Barcelona, o movimento antiturismo adota uma tática radical: assediar turistas nas ruas

O fim de semana deixou uma impressão grotesca em Barcelona, que serve de termômetro do cansaço com que alguns de seus moradores vivenciam o sucesso turístico da cidade. No sábado, milhares de pessoas marcharam pelo centro da cidade para protestar contra a superlotação turística. Até o momento, nada de excepcional, nem nada do que se tenha visto em outros grandes destinos do país, como as Ilhas Canárias ou Maiorca. O que é quase mais revelador do que o próprio apelo ou o seu afluxo são os confrontos que provocou entre manifestantes e turistas, incluindo pistolas de água.

As imagens de moradores disparando água sobre turistas ou esplanadas fechadas já chegaram aos meios de comunicação social de outros países, onde fizeram eco dos "protestos anti-turismo" na cidade e da sua mensagem: - "Turistas vão para casa."

Este é um dos slogans com que milhares de pessoas saíram às ruas de Barcelona no sábado para mostrar o seu repúdio à sobrelotação turística e seus efeitos sobre os moradores. Os manifestantes concentraram-se em dois dos pontos mais frequentados por turistas.

Se a manifestação alcançou visibilidade nas redes que transcendem em muito as fronteiras de Barcelona, Catalunha ou Espanha e saltou para as manchetes de meios de comunicação do mundo todo, é devido às impressões indelicadas e boçais deixadas pelo protesto.

Durante o protesto houve manifestantes que pulverizaram turistas com pistolas de água. A CBS News fala de clientes de um restaurante em Barceloneta que acabaram encharcados enquanto jantavam, outros que tiveram que mudar de mesa ou de um hotel e de várias esplanadas simbolicamente "fechadas".

As imagens não agradaram à Câmara Municipal, que se apressou a condenar o incômodo e a exigir respeito aos visitantes.

- "O protesto contra o turismo de massa deve ser compatível com o respeito pelas pessoas que visitam Barcelona", insistiu o secretário de turismo, que afirma a importância do setor e as políticas "pioneiras" adotadas pelo governo municipal.

O objetivo dos manifestantes era denunciar as consequências da sobrelotação turística na cidade e o seu impacto no cotidiano dos moradores, que nos últimos anos viram os preços das habitações dispararem. Enquanto a cidade caminha para bater o seu recorde turístico, superando os dados pré-pandemia ao longo do primeiro trimestre, os preços dos aluguéis subiram para valores históricos. A imprensa local revelou recentemente que o preço de um novo aluguel na cidade no primeiro trimestre rondava os 7 mil reais mensais.

A manifestação de sábado foi notícia pelas suas imagens, mas os sentimentos que o turismo deixa em parte da população de Barcelona não são novidade. Não é a primeira vez que a mídia internacional faz eco da "turismofobia" em Barcelona e há poucos meses a Câmara Municipal divulgou uma pesquisa que deixa duas informações para reflexão: primeiro, que 61,5% dos moradores de Barcelona acreditam que a cidade atingiu o limite da sua capacidade de atrair turistas; segundo, que 23% a consideram uma atividade prejudicial.

Prova da divisão de opiniões e da complexidade do debate é que os restantes 70,9% consideram-na benéfica para a cidade e 56% assumem que é uma fonte de rendimento essencial, muito à frente de setores como o comércio.