Os besouros-rola-bosta são super importantes para quaisquer ecossistemas

Em algum lugar por perto, há um animal defecando. Na verdade, todo dia, o reino animal produz quase a quantidade de fezes equivalente ao volume de água que desce das Cataratas do Iguaçu. Então, por que o planeta não está coberto de cocô? Acredite ou não, você precisa agradecer ao humilde besouro-rola-bosta por comer todo o excesso. Capaz de enterrar 250 vezes o seu peso corporal em uma noite, esses insetos corajosos se livram rápido de um fluxo interminável de fezes. Mais de 7 mil espécies de besouros fazem a limpeza nos 6 continentes, em todos os lugares, exceto a Antártica.

620 espécies destes escarabeídeos (escaravelhos), chamam o Brasil de lar e no Egito Antigo eram considerados divindades. Os escarabeídeos não são os únicos besouros que se alimentam de fezes e que são também conhecidos como besouros-do-esterco. Há pelo menos mais 12 famílias que também têm esta mesma característica. No entanto, definitivamente os escarabeídeos são os besouros-rola-bosta mais abundantes e comuns.

A primeira tarefa de um besouro-rola-bosta é localizar as fezes. Para tanto, alguns vivem na região anal de animais de grande porte, prontos para atacar quando eles defecam. Outros farejam as fezes que os animais deixam para trás. Um monte de bosta de elefante pode atrair 4 mil besouros em 15 minutos. Assim que o besouro encontra as fezes, ele deve se apressar para garantir um pouco do prêmio para si, pois senão vai passar fome.

A maioria das espécies de besouros-rola-bosta pertence a um dos três grupos: roladores, escavadores e moradores. Os roladores esculpem uma bola de fezes e usam as patas traseiras para rolá-las para longe dos competidores. Parceiros em potencial saltam na bola, e assim que o rolador seleciona sua parceira, o casal enterra a bola de fezes dentro da terra.

Logo que é enterrada, a fêmea põe um único ovo dentro da bola de fezes. Escavadores têm uma abordagem diferente. Ao cavar sob o esterco, eles arrastam as fezes para o solo e as agrupam em torrões chamados de bolas de ninhada, bolas de fezes, dependendo do tamanho e forma.

Escavadores machos apresentam uma variedade espetacular de chifres para lutar pelo controle dos túneis, que então defendem até que a fêmea ponha o ovo. Alguns escavadores evitam o confronto ao se disfarçar de fêmeas sem chifres e se esgueiram pelos túneis para acasalar quando os guardiões não estão olhando.

O terceiro grupo de besouros-rola-bosta, os moradores, têm a abordagem mais direta e põem os ovos diretamente no esterco. Isso torna as suas crias mais vulneráveis aos predadores que as dos escavadores e roladores. Conforme as larvas se alimentam, enchem o esterco de túneis, deixando restos que logo são colonizados por bactérias e fungos e, aí, desintegram.

Dentro de um túnel, bola ou esterco, assim que as larvas são chocadas, elas consumem as fezes antes de sofrer a metamorfose para pupa e depois para um besouro adulto. Além de limpar as fezes, as ações desses besouros têm importância ecológica considerável. Por exemplo, eles servem como difusores secundários de sementes.

As fezes de macacos, porcos selvagens, e outros animais é cheia de sementes das frutas que comem. Quando besouros enterram as bolas de fezes, eles sem querer protegem as sementes dos predadores e aumentam a probabilidade de que elas germinem. A vantagem é tão grande, que uma planta sul-africana evoluiu de forma a produzir sementes que têm aparência e cheiro de fezes para enganar os besouros a enterrá-las.

Os besouros-rola-bosta também têm um papel importante na agricultura. O gado, como vacas e ovelhas, produz uma enorme quantidade de fezes, que contém nutrientes que são benéficos às plantas. Os besouros despedaçam as fezes e as enterram em túneis no fundo da terra, fazendo com que os nutrientes entrem em contato com as raízes das plantas.

Em um estudo de 2017, o serviço que prestam aos agricultores foi avaliado em 2,2 bilhões de reais ao ano nos Estados Unidos. Os besouros podem até nos ajudar a combater o aquecimento global ao reduzir as emissões de gases de efeito estufa associados à agricultura. Os micróbios que vivem nas fezes não oxigenadas do gado produzem o metano, um gás de efeito estufa potente.

Mas os besouros oxigenam o esterco ao cavar túneis neles, impedindo que os micróbios produzam o metano. O besouro-rola-bosta espalha sementes, ajuda os fazendeiros, combate a mudança climática, e cumpre tudo isso apenas fazendo o seu trabalho. Talvez, na próxima vez que você encontrar um besouro no mato ou no campo, terá vontade de examiná-lo mais de perto.