Por que pássaros e humanos têm canções variadas enquanto a maioria dos outros animais não canta?

Como outros tipos de animais, os pássaros têm uma laringe, uma caixa vocal no topo da garganta que vibra para permitir que eles vocalizem. O que é exclusivo dos pássaros é uma estrutura chamada siringe na extremidade inferior da traqueia. A siringe dos pássaros varia consideravelmente entre as espécies. É mais complexa no grupo de pássaros conhecidos como canoros. Alguns pássaros não têm siringe. Por exemplo, os abutres do Novo Mundo não têm, e eles não conseguem cantar. As siringes diferem muito entre as espécies e até mesmo entre os sexos da mesma espécie.

Isso faz com que os machos geralmente tenham uma canção mais complexa do que as fêmeas. O canto dos pássaros também é influenciado por outros fatores, como o comprimento e o diâmetro da traqueia e o formato e o tamanho do bico.

Os humanos são capazes de cantar por um motivo diferente: não temos um conjunto de membranas vocais que outros primatas têm. Os cientistas não têm certeza do porquê os humanos evoluíram sem essas membranas, mas estar livre delas nos dá mais estabilidade vocal.

Somos capazes de sustentar tons melodiosos e fazer a gama de sons fonéticos que precisamos para uma fala complexa. Embora tenhamos evoluído nossas habilidades musicais de uma forma completamente diferente, o fato de que os pássaros podem cantar sem dúvida aumenta nossa afinidade com eles.

Qual é a conexão entre o canto dos pássaros e a música humana? As pessoas notaram uma similaridade entre o canto dos pássaros e a música humana desde que os registros orais e escritos podem nos dizer. O entrelaçamento do canto dos pássaros e da música está em toda parte: desde os trinados melodiosos dos canários até as tradicionais imitações gaélicas do canto dos pássaros e os chamados do cuco no século XIII, um dos primeiros exemplos notados de música secular na Europa.

Várias tradições mitológicas, religiosas e filosóficas até sugerem que a música humana pode ter se originado do canto dos pássaros. O filósofo romano Lucrécio, do primeiro século a.C., por exemplo, acreditava que as pessoas aprendiam música imitando vocalmente o canto dos pássaros, enquanto o texto chinês Lüshi Chunqiu, do terceiro século a.C., credita à ave fênix (mítica) a origem dos instrumentos de sopro e seus sistemas de afinação.

A tradição cristã afirma que o papa Gregório, do século VI, recebeu o canto "gregoriano" de uma pomba. Embora essas histórias de origem possam ser fantasiosas, não há dúvida de que a imitação do canto dos pássaros é prevalente na música humana, e que o canto dos pássaros e a música humana compartilham muitas características.

O compositor francês François-Bernard Mâche chega ao ponto de afirmar que "não há um único procedimento musical que não tenha seu equivalente ou seu protótipo em um ou outro dos inúmeros sinais dos animais", ilustrando essa afirmação ousada com vários exemplos convincentes em seu seminal tomo zoomusicológico de 1983, "Música, Mito e Natureza, ou Os Golfinhos de Arion".