Durante a Segunda Guerra Mundial, todos os tipos de produção envolvendo metais, como ferro, cobre e latão, que não eram essenciais para o esforço de guerra foram interrompidos pelo governo americano, porque esses metais eram necessários para fazer armas, tanques e artilharia. Muitos fabricantes de instrumentos musicais foram afetados pelos novos regulamentos, motivo pelo qual tiveram que começar a fabricar outra coisa que os militares pudessem usar, ou esperar a guerra acabar, o que era o mesmo que pedir bancarrota e sair do mercado. |
A Steinway & Sons, um dos quatro grandes fabricantes de pianos cujo legado remontava a sólidos noventa anos -na época em que a guerra estourou na Europa-, também foi afetada pelas restrições. Em vez de fechar sua fábrica, a Steinway decidiu ganhar tempo fabricando caixões e peças para planadores de transporte de tropas.
Da mesma forma, a Companhia de Pianos Baldwin fazia asas de avião de madeira e a Gibson Guitarras fabricava brinquedos de madeira. Esses empreendimentos dificilmente eram lucrativos, mas pelo menos forneciam à empresa alguma aparência de uma operação em andamento e ajudavam a cobrir seus custos operacionais.
A paciência da Steinway foi recompensada quando o Exército dos EUA lhes concedeu um contrato para fabricar pianos militares de alta resistência para oficiais comissionados. Em junho de 1942, os funcionários da empresa projetaram um pequeno piano vertical, com não mais de 1,2 metro de largura e pesando 200 kg, leve o suficiente para ser carregado por quatro soldados.
Cada piano foi tratado com uma solução especial anticupim e antiinsetos e selado com cola resistente à água para suportar umidade. As teclas de marfim foram revestidas com celuloide branco para protegê-las de climas tropicais, e ferro macio foi usado em vez de cobre para enrolamentos nas cordas graves. A melhor parte foi que o piano usou apenas 15 kg de metal, cerca de um décimo do que um típico piano de cauda.
Conhecidos como "Verticais da Vitória", esses pianos podiam ser embalados em caixas e convenientemente lançados por paraquedas junto com equipamentos de afinação e instruções. Estima-se que 2.5000 pianos foram lançados para soldados americanos lutando na guerra em três continentes.
A música era uma excelente maneira de evitar que os homens enlouquecessem devido aos horrores da guerra e à saudade de casa, e esses pianos desempenharam um papel importante nessa frente, fornecendo aos soldados inúmeras horas de diversão, educação, entretenimento, adoração, enriquecimento e alcance.
- "Duas noites atrás, recebemos entretenimento bem-vindo quando um jipe puxando uma pequena carroça chegou ao acampamento", escreveu um soldado para sua mãe. - "A carroça continha um sistema de iluminação e um piano Steinway. Mãe, você riria se o visse, porque ele não é nada parecido com o do tio Jake. É menor e pintada de verde oliva, assim como o jipe. Todos nós nos divertimos muito depois das refeições quando nos reuníamos ao redor do piano para cantar."
Quando a guerra terminou, a Steinway havia enviado cerca de 5.000 instrumentos, mas nem todos foram para o exército. Aproximadamente metade foi vendida para as forças armadas dos Estados Unidos, e o restante foi comprado por organizações religiosas, instituições educacionais, hotéis e outros locais de reuniões públicas.
Os pianos Steinway continuaram a servir aos militares bem depois que a guerra acabou. Quando o submarino movido a energia nuclear USS Thomas A. Edison foi construído em 1961, um Steinway vertical foi instalado na área de refeitório da tripulação a pedido de seu capitão. O instrumento permaneceu a bordo até que o submarino foi desativado em 1983. Ele agora vive no Museu Histórico da Marinha em Washington, DC.
Por essas e outras a Steinway & Sons se tornou um ícone americano. A empresa é uma das marcas mais famosas de piano da atualidade, por ter sido endossada por grandes nomes da música, como Irving Berlin, George Gershwin, Cole Porter, e Vladimir Horowitz. Os pianos Steinway estão presentes em 90% das salas de concerto do mundo.
São necessários cerca de 11 meses para fabricar apenas um piano de cauda Steinway, e esses instrumentos não são nada baratos. Um piano de concerto Modelo D em ébano, o acabamento mais acessível, custa em torno de 1 milhão de reais. Mas isso não chega nem perto dos preços que os melhores modelos podem custar. A Steinway produziu dois dos pianos mais caros do mundo, valendo mais de R$ 10 milhões cada.
Comparado a outros fabricantes de pianos de ponta, é frequentemente o som do Steinway que marca a diferença. Cerca de 85% de um piano Steinway é feito do caríssimo abeto-de-Sitka (Picea sitchensis), uma das madeiras mais cruciais que é usada para o tampo harmônico, que dá verdadeira vida ao instrumento. A atenção aos detalhes é tão criteriosa que somente é usada a madeira de árvores que estão no lado sombreado, o lado voltado para o norte de Sitka.
Isso parece ser metódico demais, mas tem a sua razão de ser. Estas árvores, que recebem pouca luz do sol, crescem muito pouco a cada ano, e isso significa que há anéis de crescimento que são muito próximos, não espaçados, o que melhora a ressonância da madeira.
O abeto-de-Sitka é muito usado para fabricação de outros instrumentos de corda, como violões, e cresce em algumas áreas no noroeste dos EUA, mas mais de 50% do abeto-de-Sitka não atende aos padrões da Steinway. A madeira deve ter uma densidade e direção de grãos muito específicas, ambas as quais podem impactar a qualidade do som.
A verdade é que enquanto os instrumentos novos ficam cada vez mais caros, os antigas também se tornam mais valiosos. Um piano Steinway pode durar várias décadas com os retoques e restaurações necessários. Um Modelo D de 1965, por exemplo, vale mais de 500 mil reais hoje. Isso é mais que 13 vezes o que provavelmente foi vendido. E embora existam vários elementos que impactam muito o preço, é o músico que, em última análise, decide quanto o piano vale para ele.
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