Por que há macacos na América do Sul? Pode parecer uma pergunta estranha, mas não é um tipo de pergunta filosófica do tipo "Por que existimos? Por que estamos neste mundo?", em que podemos pensar milhões de coisas como resposta. O fato de termos macacos nas Américas é muito mais estranho do que você imagina. Na verdade, eles não deveriam estar deste lado do Oceano Atlântico. Eles foram totalmente extintos nas Américas, por milhões de anos, antes de aparecerem novamente. Então, se eles se foram por tanto tempo, como voltaram? |
Bem, e se eu dissesse que eles pegaram um barco? Os macacos sul-americanos são membros de um grupo chamado platirrinos, também às vezes chamados de macacos-do-Novo-Mundo. E o engraçado sobre todo esse mistério da ascendência platirrina é que alguns dos primeiros primatas viveram na América do Norte, mas não têm ligação direta com os macacos sul-americanos de hoje.
Um desses primeiros grupos de primatas, chamado Teilhardina, aparece em registros fósseis na Ásia, Europa e América do Norte praticamente de uma só vez, há cerca de 56 milhões de anos. E embora ainda haja muito debate sobre onde eles se originaram, parece que os Teilhardinas tomaram um dos poucos caminhos possíveis ao redor do mundo. Eles podem ter vindo da Ásia e cruzado para a América do Norte pela ponte terrestre de Bering, depois corrido para a Europa pela ponte terrestre do Atlântico Norte.
Ou eles podem ter se originado na América do Norte e viajado pela mesma rota, mas na outra direção. Apesar de conseguirem se espalhar tanto, esses primeiros primatas foram completamente extintos nas Américas em algum momento durante o Eoceno, por volta de 35-40 milhões de anos atrás, deixando-nos sem nenhuma conexão clara entre esses primeiros primatas e os macacos sul-americanos que vemos hoje.
Então a descoberta de um grupo totalmente novo e não relacionado de primatas fósseis em Santa Rosa, Peru, abriu a porta para descobrir quem eram os ancestrais diretos desses macacos. Os pesquisadores chamaram essa espécie fóssil de Perupiteco, e embora não haja muito material fóssil dessa espécie, o que eles têm deu a eles uma pista sólida sobre os parentes mais próximos do Perupiteco, que realmente não são tão próximos, geograficamente falando.
Quando os pesquisadores examinaram os dentes, eles viram que eles eram muito semelhantes a outro primata fóssil chamado Talahpiteco, que foi encontrado na Líbia, na África. Tipo, do outro lado do Oceano Atlântico. E quando o Perupiteco apareceu, as pontes de terra que o Teilhardina usava para pular de continente para continente tinham basicamente desaparecido, o que significa que eles não tinham um caminho claro para chegar lá.
Mas a coisa fica ainda mais selvagem e estranha. Acontece que o ancestral do Perupiteco não foi o único primata a aparecer na América do Sul durante o Oligoceno. Recentemente, paleontólogos descobriram mais dentes no Peru de um grupo diferente de primatas agora extintos chamados parapitecídeos. E seus dentes combinavam com fósseis de primatas do Egito, representando outro grupo de primatas que veio da África.
Ao combinar as informações anatômicas dos dentes com uma análise de DNA retirada de dentes fósseis mais recentes, os paleontólogos estimam que os dentes dos parapitecídeos tinham cerca de 32 milhões de anos. Os paleontólogos acreditam que tanto os parapitecídeos quanto os primeiros platirrinos viajaram da África para a América do Sul em algum lugar entre 35 e 32 milhões de anos atrás.
Eles podem até ter chegado na mesma época! Então, seja qual for a maneira como esses primatas conseguiram chegar à América do Sul, eles devem ter feito isso pelo menos duas vezes. E mesmo que faça sentido lógico que eles tenham tomado a rota terrestre para ir da África para a América do Sul, não há realmente nenhuma evidência dessa jornada, a menos que eles fossem algum tipo de paleo-Houdinis.
Para os primatas chegarem à América do Sul por terra, eles teriam que viajar pela África, por toda a Eurásia, depois pelo Estreito de Bering e por todo o continente norte-americano para chegar onde foram encontrados no Peru. E eles teriam que fazer tudo isso sem deixar um único fóssil em nenhum dos lugares por onde passaram.
Então viajar por terra provavelmente está fora de questão, o que realmente nos deixa apenas com a rota aquática. E parece que a melhor opção que os cientistas podem pensar para como um bando de primatas cruzou o oceano é que eles pegaram "jangadas naturais". Para ser claro, eles provavelmente não amarraram vigas de madeira para fazer uma embarcação, no estilo Chuck Noland de "Náufrago, tampouco tinham uma amiga Wilson.
É muito mais provável que esses animais tenham se agarrado a aglomerados de vegetação, como manguezais ou outras árvores caídas, que foram arrastadas para o mar durante tempestades. Outra teoria é que eles flutuaram em ilhas feitas de pedaços de terra que se separaram da costa africana. E por mais selvagem que tudo isso pareça, as condições eram realmente muito boas naquela época para um viagem oceânica.
Os níveis do mar naquela época eram mais baixos do que são hoje, graças ao acúmulo de geleiras na Antártida. E, embora os continentes não estivessem conectados, eles estavam mais próximos do que hoje. A distância de costa a costa agora é de cerca de 2850 quilômetro hoje, mas na época teria sido algo entre 1.600 a 2.100 quilômetros, o que não parece uma grande melhoria, mas pode ter sido crítico para aqueles pequenos macacos.
Pesquisadores estimam que a viagem através do Atlântico pode ter levado apenas 10 a 13 dias e, embora não fosse divertido, estima-se que a maioria dos pequenos mamíferos e répteis consiga sobreviver tanto tempo sem comida fresca ou água, nas condições certas. E também, os pesquisadores têm certeza de que a viagem da África para a América não teria sido a única vez que os primatas zarparam.
Por exemplo, sabemos que os lêmures de Madagascar são mais intimamente relacionados aos primatas da África continental, mas também sabemos que os ancestrais dos lêmures não chegaram a Madagascar até muito depois que a massa de terra se separou do resto da África. Isso significa que eles tiveram que cruzar o Canal de Moçambique de alguma forma, e essa "de alguma forma" provavelmente foi por meio de "jangadas naturais".
Os lêmures podem ter sobrevivido à jornada entrando em um estado de inatividade física chamado torpor, onde seus processos corporais desaceleram e sua temperatura corporal cai. Mas nem todo mundo está tão convencido de que o rafting foi como os primeiros macacos chegaram ao Novo Mundo. Primeiro, só porque não temos evidências de uma travessia terrestre, não significa necessariamente que os "barcos" sejam a única resposta.
Simplesmente não temos nenhuma evidência de qual poderia ser essa outra resposta. No momento, a evidência direta e concreta do rafting está esperando para ser encontrada, um pouco como um tesouro pirata afundado. E como Sherlock Holmes disse:
- "Quando você elimina o impossível, o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade."
E às vezes, a verdade improvável podem ser "jangadas naturais. Acontece que o mundo é grande o suficiente e o tempo é longo o bastante para que coisas que achamos tão improváveis a ponto de serem impossíveis tenham realmente acontecido muitas vezes ao longo do tempo.
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