Todos sabemos que os ruivos recebem um monte de insultos, não só recebem apelidos duvidosos como "grande vermelho", "enferrujado" e "sol andante", eles também carregam uma longa história de mal-entendidos sobre seus frequentes sardentos ombros. Na mitologia Grega dizia-se que os ruivos se convertiam em vampiros ao morrer. Os Egípcios desfrutavam particularmente queimando virgens ruivas. E um grande número de feitiços alquímicos costumam pedir "gordura de um homem de cabelo flamejante". |
Como se isto não fosse suficiente, em anos recentes há manchetes recorrentes que sugerem que os ruivos se extinguirão ao longo deste século. Em agosto de 2007, muitas organizações de notícias relataram que os ruivos acabariam se extinguindo. Outros veículos de notícias e blogs pegaram a história, citando a Fundação do Cabelo de Oxford ou "cientistas genéticos" que alegaram que não haveria mais ruivos já em 2060. Acontece que todas essas pessoas estavam erradas. Os ruivos vieram para ficar e devem continuar existindo bem depois de 2060.
A história da extinção dos ruivos já circulou pela internet antes, com artigos de notícias citando sempre as mesmas fontes que não existem. Esses artigos trabalham com a suposição equivocada de que genes recessivos -como o do cabelo ruivo- podem "morrer".
A maioria da ignorância ao redor dos ruivos provavelmente deva-se ao fato de que eles, ainda que não sejam muito raros, também não são muito comuns. Em alguns países como Irlanda e Escócia parece que sempre se celebram reuniões familiares com cabelos de fogo.
Os ruivos representam apenas entre um 1 e 2% da população mundial e não, eles não têm o cabelo vermelho por ter roubado o fogo do inferno ou ser concebidos durante a menstruação, ou mordidos por um homem lobo quando eram bebê. Eles recebem sua coloração da mesma maneira que todos nós o fazemos: da melanina.
A cor do cabelo é um traço genético associado com o receptor de melanocortina, ou o gene MC1R. Todos nós o temos aninhado em nosso cromossomo 16, mas os ruivos possuem uma versão modificada dele. Este gene dá instruções de criar receptores de proteína em nossos melanócitos, as células especiais que produz melanina.
A melanina é o que dá aos nossos olhos, cabelo e pele sua tonalidade distinta e tem duas variantes: eumelanina e feomelanina. Uma pessoa que produz principalmente eumelanina terá cabelos e pele mais escuros que não se bronzeiam facilmente e são mais protegidos da radiação UV do sol, mas se você estiver produzindo principalmente feomalinina, você terá cabelos ruivos ou loiros, pele clara que queima facilmente porque não é naturalmente protegida do sol.
É por isso que pessoas claras têm um risco maior de câncer de pele. É o gene MC1R que determina que tipo de melanina você terá. Se o gene for ativado, você acabará com mais eumelanina e terá a pele mais escura. Se esses receptores não forem ativados, suas células bombeiam a feomelanina clara.
Não temos certeza de quão antiga é a característica, mas cientistas recentemente extraíram uma versão do gene de ruivos dos restos mortais de dois neandertais, indicando que pelo menos alguns deles eram ruivos. No entanto, o gene era uma variante. Não a presente em humanos modernos, indicando que a mutação evoluiu independentemente de ruivos humanos em um exemplo de evolução convergente.
Agora você pode estar se perguntando por que os genes humanos e neandertais perpetuariam um tipo de pele tão propenso a queimaduras solares. Bem, tem a ver em parte com a geografia. Pessoas de regiões equatoriais geralmente têm cabelos e pele mais escuros para melhor protegê-los da radiação solar. Enquanto pele e cabelos claros são mais prevalentes em áreas do norte com níveis mais baixos de luz solar.
Quanto mais você se afasta do equador, mais a pressão seletiva para pigmentação mais escura diminui e os genes MC1R mutantes não são eliminadas, então eles podem se espalhar por uma população. A disseminação bem-sucedida dessa mutação pode ser porque a pele clara é melhor em gerar vitamina D, o que pode ter realmente dado aos cabelos de fogo uma vantagem evolutiva no Norte perpetuamente nublado.
Mas você também pode ter ouvido que ruivos são como bebês quando se trata de dor, mas há alguma verdade nisso. Alguns estudos financiados pelo Instituto Nacional de Saúde britânico descobriram que ruivos são realmente mais sensíveis à dor térmica, ou calor e frio excessivos, e que eles realmente exigem, em média, doses quase 20% maiores de anestésico do que seus equivalentes de cabelos escuros.
Os pesquisadores não estão completamente seguros de por que ocorre isto, mas uma hipótese conecta a tolerância à dor ao complicado gene MC1R. Como o gene é responsável pelos receptores de hormônios produtores de pigmentos, ele também podem interagir com moléculas semelhantes, como endorfinas, os analgésicos naturais do nosso corpo.
E finalmente, o que dizer daquela grande extinção iminente do ruivo? Isso, eu posso te dizer, é falso. Sim, a mutação é uma característica recessiva, o que significa que ambos os pais têm que carregar o alelo ou variante genética para que ele produza uma prole ruiva. Mas isso ainda significa que, mesmo que digamos, 4% da população realmente tenha cabelos ruivos, talvez 30% ainda carreguem esse gene, mantendo o potencial para muitas gerações de ruivos. De modo que pode estar seguro que o gene ruivo seguirá passando de geração em geração, apoiando assim a indústria de protetor solar, por muito, muito muito tempo.
Os ruivos não foram os únicos a entrar para a Lista de Extinção. Em setembro de 2002, vários jornais importantes e programas de notícias de televisão afirmaram que os loiros desapareceriam em 200 anos. Um artigo da BBC News na época citava "cientistas alemães" que disseram que os loiros estariam extintos em 2202.
O artigo também afirmava que a pesquisa declarou que a Finlândia, com sua alta proporção de loiros, seria o berço do último loiro. A afirmação foi baseada no fato de que o cabelo loiro é um gene recessivo e que mais homens estavam escolhendo loiras-de-farmácia, em vez de loiras verdadeiras. Outros artigos repetiram os mesmos fatos sobre a futura extinção dos loiros com base em um suposto estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O site Snopes, especializado em desmascarar rumores e lendas urbanas, publicou um artigo derrubando a história da extinção das loiras, citando o exagero de um colunista do Washington Post.
O Snopes também encontrou histórias de jornais semelhantes sobre o desaparecimento de loiras relatadas em 1961, 1906, 1890 e 1865. A história de 1961 afirmava que faltavam de 50 a 140 anos para as loiras desaparecerem, enquanto a história de 1906 dizia que faltavam 600 anos. A maioria dos artigos citava pesquisas científicas que, de uma forma ou de outra, afirmavam que os homens consideravam as mulheres de cabelos escuros mais desejáveis.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários