Por que animais peçonhentos não se envenenam acidentalmente?

O veneno da cobra cascavel (Crotalus durissus) é supertóxico; mesmo em pequenas quantidades, ele pode ser fatal, principalmente se a cobra tiver mais de 1 metro de comprimento e a vítima não receber atendimento médico o mais rápido possível. Mas a cascavel, assim como praticamente todos os outros animais tóxicos, tem que produzir e armazenar esses produtos químicos mortais em seu próprio corpo, nesse caso ela guarda o veneno em bolsas, e quando os músculos a pressionam, o veneno é injetado através dos dentes que são ocos, semelhantes a agulhas de injeção.

Então, por que esses animais tóxicos não se machucam? O primeiro motivo, e provavelmente o mais óbvio, de evitar bater as botas é garantir que seu veneno não o afete, o que é uma estratégia que muitos sapos venenosos usam. Quando o veneno deles atinge outra criatura, ele se encaixa em receptores de formato especial nos nervos daquele animal, eventualmente parando seu coração.

Mas o veneno não afeta o sapo em si, porque o sapo desenvolveu uma versão ligeiramente diferente daquela proteína nervosa, mudando seu formato apenas o suficiente para impedir que o veneno aja. Outra opção é ter uma maneira de absorver seu próprio veneno antes que ele possa matá-lo, como o pitohui-de-penacho, um pássaro tropical que coloca veneno em suas penas.

Para se manter seguro de seu próprio veneno, ele produz proteínas em sua corrente sanguínea que agem como esponjas que grudam, e basicamente desarmam, as moléculas de veneno. A próxima estratégia é ainda mais simples: simplesmente armazene suas toxinas em um lugar onde elas não possam machucá-lo, como fazem as vespas assassinas e as aranhas viúvas-negras. Ambos os animais são suscetíveis ao seu próprio veneno, mas seu armamento está localizado em um lugar onde é isolado do resto do corpo. E para eles, é fisicamente impossível liberá-lo em si mesmos.

E, finalmente, você pode armazenar suas toxinas em uma forma inativa, como o loris-lento, o único primata venenoso do mundo, faz. A toxina que o loris secreta de suas axilas é completamente inofensiva por si só; é somente quando o animal lambe sua axila, colocando o veneno em contato com a saliva, que o veneno é ativado. E quando o loris subsequentemente morde um inimigo, esse veneno é transferido para a ferida da mordida, onde faz com que a carne da vítima apodreça.

Como carregar armas químicas mortais dentro do seu próprio corpo é uma situação de alto risco, muitas espécies tóxicas realmente usam mais de uma dessas estratégias para se manterem seguras. O que nos traz de volta à cascavel, que usa todos os quatro métodos para se proteger de seu próprio veneno.

A cobra tem essas proteínas nervosas modificadas que a tornam imune à toxina paralisante dos nervos em seu veneno. Mas como esse veneno é um coquetel que contém outras toxinas também, a cobra também o armazena em glândulas isoladas. Além de apenas bloquear o veneno, essas glândulas também inativam temporariamente o veneno, em parte banhando-o em ácidos; ela só é reativada em um ambiente básico, como o sangue de suas vítimas.

E, se o veneno vazar para o próprio sangue da cobra, proteínas esponjosas em sua corrente sanguínea limpam as toxinas antes que elas causem danos. Então, em outras palavras, se você vai ser venenoso use proteção. Se você é uma cobra e quer melhorar seu jogo, você desenvolve armas químicas. Mas esses antídotos só podem proteger as cobras de pequenas quantidades de veneno, então elas ainda podem morrer se forem mordidas por outra cobra venenosa.

As cobras normalmente não se picam, mas elas podem se morder se estiverem feridas e estiverem tentando curar ou remover a fonte da dor. No entanto, sabe-se que cobras mordem suas próprias caudas, o que é chamado de comportamento ouroboros. Esse comportamento é raro, e mesmo donos de cobras que têm várias cobras por décadas podem nunca ver isso acontecer.