No século 4 a.C., o filho de um banqueiro escandalizou a cidade de Sínope falsificando moedas. Quando a poeira finalmente baixou, o jovem Diógenes de Sínope perdeu sua cidadania, dinheiro e todos os seus bens. Pelo menos, é assim que a história é conhecida. Embora muitos dos detalhes da vida de Diógenes sejam vagos, as ideias filosóficas nascidas de sua desgraça sobrevivem até hoje. No exílio, Diógenes decidiu que, ao rejeitar as opiniões dos outros e as medidas sociais de sucesso, ele poderia ser verdadeiramente livre. |
Diógenes optou por viver de maneira autossuficiente, perto da natureza, sem materialismo, vaidade nem conformidade. Na prática, isso significava passar anos perambulando por cidades gregas com nada além de um manto rasgado, um bastão e uma sacola, o ano todo ao ar livre, abstendo-se de tecnologia, banhos e comida cozida.
Ele não passou por essa nova existência em silêncio. As histórias dizem que ele provocava os transeuntes e zombava dos poderosos, comendo, urinando e até se masturbando em público.
Os cidadãos o chamavam de "kyôn", um cachorro que late. Embora significasse um insulto, cães eram, na verdade, um bom símbolo para a filosofia dele. São criaturas felizes, livres de abstrações, como riqueza ou reputação. Diógenes e seu crescente número de seguidores tornaram-se conhecidos como "filósofos dos cães", ou "kynikoi", designação que acabou se tornando a palavra "cínico".
Esses primeiros cínicos eram um grupo despreocupado, atraído pela liberdade de um estilo de vida errante. À medida que a reputação de Diógenes aumentava, outros tentavam desafiar seu compromisso. Alexandre, o Grande, ofereceu-lhe tudo o que ele desejasse, mas, em vez de pedir bens materiais, Diógenes só pediu para Alexandre sair da frente de seu Sol.
Após a morte de Diógenes, os adeptos da filosofia dele continuaram a se chamar cínicos por cerca de 900 anos, até 500 d.C. Alguns filósofos gregos, como os estoicos, achavam que todos deveriam seguir o exemplo de Diógenes. Também tentaram atenuar a filosofia dele para ser mais aceitável para a sociedade convencional, o que, é claro, estava fundamentalmente em desacordo com sua abordagem.
Outros viam os cínicos menos benevolamente. Na província romana da Síria, no século 2 d.C., o satírico Luciano de Samósata descreveu os cínicos de seu próprio tempo como hipócritas sem princípios, materialistas e autopromocionais, que só pregavam o que Diógenes havia praticado.
Ao ler os textos de Luciano, séculos depois, os escritores da Renascença e da Reforma consideravam os cínicos rivais um insulto, ou seja, pessoas que criticavam os outros sem ter nada útil a dizer.
Esse uso acabou criando as bases para o significado moderno da palavra "cínico": pessoa que pensa que todo mundo está agindo por puro interesse próprio, mesmo que alegue um motivo mais elevado. Ainda assim, a filosofia do cinismo tinha admiradores, principalmente entre aqueles que desejavam questionar o estado da sociedade.
O filósofo francês do século 18 Jean-Jacques Rousseau foi chamado de "o novo Diógenes", quando argumentou que as artes, as ciências e a tecnologia corrompem as pessoas. Em 1882, Friedrich Nietzsche reimaginou uma história na qual Diógenes entrou no mercado ateniense com uma lamparina, procurando em vão por uma única pessoa honesta.
Na versão de Nietszche, um suposto louco correu para uma praça da cidade para proclamar que "Deus está morto". Essa era a maneira de Nietzsche pedir uma "reavaliação de valores" e rejeitar a ideia cristã e platônica dominante de percepções espirituais universais além do mundo físico. Nietzsche admirava Diógenes por se ater, de modo teimoso, ao aqui e agora.
Mais recentemente, os hippies da década de 1960 foram comparados com Diógenes como rebeldes contraculturais. As ideias de Diógenes foram adotadas e reimaginadas inúmeras vezes. Os cínicos originais não aprovavam essas novas interpretações. Acreditavam que seus valores de rejeitar costumes e conviver com a natureza eram os únicos valores verdadeiros.
Quer você concorde ou não com isso ou com qualquer representação posterior, todos têm uma coisa em comum: o questionamento do status quo. E esse é um exemplo que ainda podemos seguir: não seguir cegamente as visões convencionais ou da maioria, mas pensar muito no que é realmente valioso.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários