À medida que os números ficaram complexos as pessoas começaram não só a utilizá-los, como também a refletir sobre eles e como eles funcionam. Em 600 A.C., na Grécia Antiga, o estudo dos números já estava bem desenvolvido.
O matemático Pitágoras e sua escola de seguidores encontraram padrões numéricos nas formas geométricas, na música e nas estrelas. Para eles, a matemática continha os segredos mais profundos do universo. Mas, um pitagórico, chamado Hipaso de Metaponto, descobriu algo perturbador.
Algumas quantidades, como a diagonal de um quadrado com lados de longitude um, não podiam ser representadas através de números inteiros ou frações, por menores que elas fossem. Estes números, que chamamos de números irracionais, foram considerados uma ameaça para a noção pitagórica de um universo perfeito.
Eles imaginavam uma realidade descrita por padrões numéricos racionais. Os historiadores escrevem que Hípaso foi desterrado por publicar sua descoberta, mas, para deixar a coisa mais dramática, a lenda afirma que ele foi afogado como castigo dos deuses.
Enquanto os números irracionais irritavam os filósofos, futuras invenções matemáticas também chamavam a atenção das autoridades políticas e religiosas.
Na Idade Média, enquanto a Europa seguia usando os números romanos, outras culturas desenvolveram sistemas posicionais que incluíam um símbolo para o zero. Viajantes árabes levaram esse sistema a cidades marítimas prósperas da Itália, deixando claras as suas vantagens para mercadores e banqueiros. Mas as autoridades foram mais cautelosas.
Os números indo-arábicos eram considerados mais fáceis de imitar e mudar sobretudo porque eram menos familiares para os clientes que para os mercadores. O conceito de zero abriu a porta para os números negativos e para o registro de dívidas, em uma época em que o empréstimo de dinheiro era visto com desconfiança.
No século 13, Florença proibiu os números indo-arábicos para a realização de anotações. Apesar de que logo provaram ser muito úteis para serem ignorados, as controvérsias sobre o zero e os números negativos continuaram por muito tempo. Acreditem ou não, os números negativos foram considerados um absurdo até a entrada do século 19.
Matemáticos destacados, como o polímata italiano Girolamo Cardano, evitavam o uso do zero, apesar de que este número teria facilitado encontrar soluções para as equações de terceiro e quarto grau.
Hoje, inclusive, é ilegal usar alguns números, por diversas razões. Alguns estão proibidos pelo que representam. Por exemplo, há governos que proíbem a visualização de números por terem um significado simbólico, como a data de uma revolução ou vínculos a figuras políticas ou partidos da oposição.
Na China, o número 4 (Sì zú) é considerado de mau agouro, pois é pronunciado de forma semelhante à palavra morte (siwáng). Por isso, os chineses evitam ao máximo este número, e em muitas situações comuns do dia a dia, como em elevadores, o número 4 é pulado.
Outras cifras são potencialmente ilegais devido à informação que contêm. Praticamente toda a informação, seja em texto, em imagens, em vídeo ou em programas executáveis, pode ser traduzida em uma série de números. Mas isso significa que a informação protegida, seja de direitos autorais, materiais classificados, ou segredos de estado também pode ser representada por números.
Este número ilegal representa informações que são ilegais de possuir, proferir, propagar ou transmitir em alguma jurisdição legal. Qualquer pedaço de informação digital é representável como um número; consequentemente, se comunicar um conjunto específico de informações é ilegal de alguma forma, então o número pode ser ilegal também.
Por isso, ter ou publicar estes números pode ser objeto de delito criminal. Esta ideia chamou a atenção em 2001, quando um código que podia ser usado para decodificar a criptografia de DVDs foi compartilhado e amplamente distribuído na forma de um grande número primo. A ideia de números ilegais pode parecer absurda; mas, assim como as palavras, os números escritos são uma forma de expressar conceitos e informações.
Assim como as palavras moldam ideias, os números moldam cada vez mais nossas vidas por meio de cálculos e algoritmos. Em um mundo onde os números são parte integrante da nossa existência, sua influência continua a crescer. Como o poder da caneta de um escritor, o lápis do matemático exerce um poder substancial.
A Índia inventou muitas coisas, do zero ao sistema de notação posicional, e deu origem a muitos grandes matemáticos como Ariabata. É precisamente porque a Índia não proibiu os números. É porque a Índia era o lugar onde os matemáticos podiam se desafiar com total liberdade sem restrições e dar origem a muitas invenções matemáticas modernas.
De qualquer forma, é mais que um milagre que um mundo com mais de 6500 idiomas tenha conseguido mais ou menos se estabelecer com apenas um sistema numérico.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários