Tudo o que você nunca quis saber sobre a vida sexual dos caracóis

Caracóis-de-jardim marrons, originários do Mediterrâneo, prosperam em lugares úmidos. Se estiver muito frio ou muito seco, eles se agacham em suas conchas e esperam por uma onda de chuva. Depois da chuva, quando tudo está bom e úmido, os caracóis ressurgem. É quando o amor está no ar. Mas a vida sexual desses caracóis comuns é tudo menos comum. Primeiro, eles são hermafroditas, dotados de sistema reprodutivo masculino e feminino, e podem acasalar com qualquer membro de sua espécie que desejarem. Parece fácil, mas a batalha dos sexos está viva e bem nos gastrópodes.

O problema fundamental para os caracóis, que são machos e fêmeas ao mesmo tempo, é como otimizar tanto a função masculina quanto a feminina. Na natureza, a paternidade é mais fácil. É a maneira mais rápida e barata de passar seus genes. A maternidade requer um investimento muito maior de tempo, energia e recursos.

Para resolver quem vai ser o pai ou mãe, primeiro eles namoram. Com caracóis de jardim, "cortejo" é um tanto eufemístico. A ideia deles de preliminares é esfaquear um ao outro com um pequeno espinho chamado dardo-do-amor ou gipsóbelo, constituído por carbonato de cálcio ou quitina.

Caracóis encontram parceiros usando o paladar e o olfato porque eles não enxergam quase nada. Ao balançar seus tentáculos superiores no ar, cheirando e batendo os inferiores no chão, provando, eles pegam as trilhas pegajosas de parceiros em potencial.

Quando os caracóis se encontram, a degustação e o cheiro continuam, desta vez com contato de corpo inteiro, às vezes por horas. Chame isso de carícias pesadas ou veto extremo, os caracóis levam tempo para conhecer seus parceiros. No começo, tudo nesse namoro é vinho e rosas, depois vem o dardo-do-amor, que pode ter vários formatos, todos eles lembrando um punhal.

O gipsobelo é uma agulha do tamanho de um cortador de unha que fica escondida em uma bolsa interna até cerca de meia hora antes do início da cópula, quando a bolsa se inverte e é disparada, ou espetada, indiscriminadamente no corpo do parceiro.

- "Ser atingido pelo dardo masculino faz de você um parceiro mais voltado para as mulheres nesse namoro", disse Barry Roth, malacólogo e gerente de coleções da Academia de Ciências da Califórnia.

O dardo do amor é a ferramenta dos caracóis para maximizar seu lado masculino. Ele injeta hormônios para evitar que o corpo do outro caracol mate o esperma recém-introduzido quando a cópula começa.

Quando os caracóis copulam, dois pênis entram em dois tratos vaginais. Ambos os caracóis em um par transferem esperma, mas o caracol que der a melhor facada tem uma chance maior de finalmente fertilizar os óvulos. Em algumas espécies, apenas um caracol dispara o dardo-do-amor, mas em outras, como o caracol-de-jardim, ambos o fazem.

- "Todo o sistema reprodutivo é um verdadeiro labirinto", disse Barry. - "Você pode ver gipsobelos saindo dos caracóis durante o namoro e até mesmo encontrá-los abandonados em poças de limo onde o acasalamento estava acontecendo. Aumente para o tamanho humano e o dardo do amor seria o equivalente a um facão de 40 centímetros."

O hermafroditismo é muito raro no reino animal. Menos de 1% das espécies animais são hermafroditas. Eles são mais comuns entre os artrópodes, o filo da vida que inclui os caracóis. Na hora do acasalamento nunca está bem claro quem vai ser o macho ou a fêmea. Na maioria dos casos, ambos os indivíduos serão machos e fêmeas, até certo ponto. Às vezes, como com os caracóis de jardim, é uma questão de grau.

A pergunta que não quer calar: - "Esta romântica troca de facadas pode matar o caracol?" Em teoria sim, mas não com muita frequência. Barry disse que, nos milhares de acasalamentos que observou, viu apenas um caracol morrer dessa forma.

- "O dardo faz um buraco de tamanho bem decente no corpo", disse Barry. - "No entanto, em geral, eles ficam bem. Eles estão acostumados com isso, eu acho."

O processo de usar dardos-do-amor em caracóis é uma forma de seleção sexual. Pesquisas recentes mostram que o uso do dardo pode favorecer fortemente o resultado reprodutivo para o caracol que é capaz de alojar um dardo em seu parceiro. Isso ocorre porque o muco no dardo contém um composto alomônio -semelhante ao feromônio- que promove mecanismos de preservação de esperma na que acaba de se tornar fêmea.