Em dias de sol, cidadãos romanos de Ostia podiam ser encontrados em um longo banco de pedra perto do Fórum. Amigos e vizinhos trocavam notícias e fofocas enquanto, simultaneamente, atendiam ao chamado da natureza. Essas latrinas públicas podiam acomodar até 20 romanos por vez, drenando resíduos em condutos água abaixo. Hoje, a maioria das culturas acha as idas ao banheiro uma ocasião mais privada. Mas mesmo sendo privada, nossa infraestrutura de esgoto compartilhada é uma das invenções mais importantes da história da humanidade. |
Embora muitos textos religiosos antigos contenham instruções para manter o lixo longe da água potável e acampamentos, a gestão de resíduos assumiu uma forma mais familiar já em 3000 a.C. Antigos assentamentos da Mesopotâmia costumavam ter estruturas de argila feitas para se ficar agachado ou sentado no cômodo mais privado da casa.
Elas eram conectadas a canos que usavam água corrente para mover os resíduos em canais de rua e fossas. Infraestruturas hídricas como esta floresceram na Idade do Bronze, e em algumas partes do Vale do Indo, quase todas as casas tinham um banheiro conectado a um sistema de esgoto.
Antigos palácios cretenses até ofereciam uma opção de lavagem manual. Os pesquisadores não sabem ao certo o que inspirou os primeiros sistemas de esgoto, mas sabemos que a gestão de resíduos é essencial para a saúde pública. O esgoto não tratado é um terreno fértil para microorganismos perigosos, incluindo aqueles que causam cólera, disenteria e febre tifoide.
Levou vários milênios até que os cientistas entendessem totalmente a relação entre esgoto e doença. De fato precisaríamos avançar até o Século XIX os trabalho de Louis Pasteur, posteriormente estendido por Robert Koch sentaram as bases para a teoria dos germes.
Mas os odores nocivos de esgoto registravam associações com doenças já em 100 a.C. Soluções de saneamento mais complexas estavam surgindo por volta de 100 d.C. O Império Romano tinha aquedutos fluindo continuamente dedicados a transportar resíduos para fora das muralhas da cidade.
Também havia banheiros privados e públicos nas dinastias chinesas do mesmo período, só que seus resíduos eram imediatamente reciclados. A maioria dos banheiros domésticos alimentava chiqueiros, e coletores de excrementos especializados coletavam resíduos de latrinas públicas para vender como fertilizante.
Na China, essa tradição de gestão de resíduos continuou por séculos, mas na Europa a queda do Império Romano levou o saneamento público para a Idade das Trevas. As latrinas de fossa chamadas "gongos" tornaram-se comuns, e penicos eram frequentemente esvaziados na rua. Os castelos ejetavam resíduos de janelas altas para fossas comuns.
À noite, os chamados fazendeiros de gongos carregavam o lixo antes de sair para além dos limites da cidade para despejar sua carga. A abordagem anti-higiênica da Europa persistiu por séculos, mas os próprios banheiros passaram por grandes mudanças. No final da Idade Média, a maioria das famílias ricas tinha bancos higiênicos, caixas de madeira com assentos e tampas.
E na corte real da Inglaterra, as mercadorias eram controladas pelo camareiro encarregado de cuidar do rei. Além de monitorar a saúde intestinal do rei, seu relacionamento íntimo com o monarca fazia dele uma figura surpreendentemente influente. O próximo grande salto na tecnologia dos banheiros veio em 1596, quando Sir John Harrington projetou a primeira descarga para a Rainha Elizabeth.
Seu uso de alavancas para liberar água e uma válvula para drenar o vaso ainda estão em designs modernos. Mas a invenção de Harrington fedia a esgoto. Felizmente, em 1775, o inventor escocês Alexander Cumming adicionou uma curva no cano de esgoto para reter a água e limitar os odores. Esta chamada armadilha em S foi melhorada na moderna curva em U por Thomas Crapper, embora o termo "porcaria" anteceda o inventor em vários séculos.
Na virada do século 19, muitas cidades desenvolveram uma infraestrutura de esgoto moderna e estações de tratamento de águas residuais, e hoje, os banheiros têm uma ampla gama de recursos, do luxuoso ao sustentável. Mas cerca de 2 bilhões de pessoas ainda não têm o próprio banheiro em casa. E outros 2,2 bilhões não têm instalações que gerenciam adequadamente seus resíduos, colocando essas comunidades em risco de inúmeras doenças.
Para resolver esse problema, precisaremos inventar novas tecnologias de saneamento e abordar as questões comportamentais, financeiras e políticas que produzem desigualdade em toda a tubulação de saneamento.
Se a 3000 a.C. quase todas as casas Vale do Indo tinham um banheiro conectado a um sistema de esgoto, o que aconteceu com a Índia desde então? Difícil responder esta questão. A situação é pior nas aldeias, onde dois terços das casas não têm banheiros. A defecação a céu aberto é abundante e continua sendo um grande impedimento para atingir as metas de desenvolvimento. A falta de banheiros e a preferência pela defecação a céu aberto são uma questão cultural em uma sociedade onde o hábito na verdade perpetua a opressão social.
A vergonha duradoura da Índia está claramente enraizada em atitudes culturais. Quase 80 anos após a Independência, muitos indianos continuam a se aliviar ao ar livre e a jogar lixo em qualquer sem hesitação, mas mantêm suas casas impecavelmente limpas. Sim, o estado falhou em estender as instalações sanitárias, mas as pessoas também devem assumir a culpa.
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