“Bruxa de Wall Street”: a extrema mesquinhez da primeira mulher a ficar milionária investindo

Warren Buffett é um dos principais nomes em termos de investimentos em Wall Street. Aos 94 anos, o "Oráculo de Omaha" conquistou o respeito dos investidores pela sua frugalidade e estilo de investimento criterioso. Contudo, Warren não foi o primeiro investidor com esse perfil a fazer fortuna em Wall Street. Há 100 anos, Henrietta Howland Robinson, mais conhecida como Hetty Green, já havia se tornado a primeira mulher milionária a investir em Wall Street dando mostras de uma avareza sem igual.

Segundo o jornalista e historiador Charles Slack, autor da biografia "Hetty: A genialidade e a loucura da primeira mulher magnata da América", Hetty Green podia ser considerada a primeira magnata da história dos EUA e teve a duvidosa honra de ostentar o título de "Mulher mais Avarenta do Mundo" no Livro Guinness dos Recordes, de acordo com um artigo sobre sua morte publicado no New York Times em 1916.

- "Ela estava ligada a pessoas como Russell Sage, JP Morgan, John D. Rockefeller e outros financistas e magnatas da época", escreveu Ellen Terrell, especialista em Referência de Negócios, para a Biblioteca do Congresso dos EUA.

Hetty Green nasceu em 21 de novembro de 1834 em New Bedford, no estado norte americano de Massachusetts. De acordo com documentos digitalizados do Serviço de Parques Naturais dos EUA, Hetty nasceu em uma família rica que fez fortuna na indústria baleeira. Sua mãe era Abby Slocum Howland, filha de Gideon Howland, um rico proprietário de uma frota baleeira, e seu pai, Edward Mott Robinson, era sócio de negócios de seu sogro.

Seu pai sempre quis ter um filho para ensinar como administrar o negócio da família. Quando Hetty tinha dois anos, sua mãe adoeceu e eles decidiram mandá-la para a casa de seu avô e de sua tia materna, Sylvia Ann Howland.

Juntamente com o seu avô, a jovem Hetty começou a desenvolver um interesse crescente pelos negócios e finanças, e ele encorajou-a a ler livros e artigos sobre economia e respondia a todas as suas perguntas. Quando completou oito anos, Hetty abriu uma conta no banco com cinco centavos que havia economizado em gorjetas e guloseimas por bom comportamento. Hetty passou a acompanhar o avô e o pai nos negócios no porto.

Observando seu talento financeiro, seu avô a ensinou a ler livros de contabilidade e a negociar ações. Com a morte do avô, o pai passou a ser o principal acionista da empresa, pois além de ter sua parte como sócio, controlava a herança que sua esposa havia recebido.

Após a morte de seu pai, Hetty herdou US$ 900.000 e um fundo fiduciário de US$ 5 milhões. Duas semanas depois, sua tia Sylvia Ann Howland, com quem vivia desde criança, morreu. Em seu testamento, sua tia indicou que 50% de seu legado deveria ir para causas beneficentes, enquanto 50% na forma de investimentos iria para Hetty na forma de um fundo fiduciário, mas seria administrado por seu médico. Não querer deixar herança não foi inventado pelos milionários do século XXI.

Em 1867, Hetty casou-se com Edward Henry Green, um rico empresário de Vermont, e o casal teve dois filhos, Edward e Sylvia. As lições que recebeu do avô e do pai ajudaram Hetty a fazer com que o noivo assinasse um contrato pré-nupcial antes do casamento. Foi uma medida de proteção contra o gosto do seu futuro marido por investimentos de alto risco.

No contexto do final do século XIX, Hetty não tinha o controle do patrimônio familiar, motivo pelo qual conseguiu investir com os recursos que tinha disponíveis, apostando em tendências contrárias ao mercado: comprar quando os preços das ações estavam baixos e vender quando estavam em alta.

Esta estratégia de investimento, que é atualmente a norma geral, não era tanto nos últimos anos do século XIX. Na verdade, a importância da mudança na estratégia de investimento utilizada por Hetty Green foi de estudos científicos e financeiros.

A técnica que Hetty utilizou para decidir onde investir os escassos recursos com os quais lhe foi permitido operar foi estudar as empresas, ler sobre elas e questioná-las antes de tomar uma decisão sobre seus investimentos. Quando ela fez isso, simplesmente permaneceu em sua posição e deixou o tempo fazer o seu trabalho. A estratégia tem mais de 120 anos, mas descreve detalhadamente os métodos de investimento de Warren Buffett.

20 anos após a morte do pai e da tia Sylvia, Hetty multiplicou por 10 a fortuna que recebeu como herança, apostando em títulos estáveis, como imóveis, títulos públicos ou com investimentos em uma ferrovia em expansão.

A milionária teve uma grande visão do futuro ao antecipar a crise bancária de 1907, acumulando grandes quantidades de dinheiro antes que esta explodisse e os bancos fechassem o seu fluxo de crédito. A milionária aumentou sua fortuna concedendo empréstimos. Entre os seus devedores estava a própria cidade de Nova Iorque com um empréstimo de um milhão de dólares.

Apesar de seus enormes bens para a época, Hetty Green não exibia sua riqueza. O New York Times noticiou que ela se vestia sempre de preto e com roupas velhas e sujas até virarem trapos.

- "De acordo com quase todos os relatos, ele era uma pessoa completamente desagradável, gananciosa, mesquinha e muitas vezes francamente suja e mal-cheirosa", destacou o jornal nova-iorquino.

Sua fama de sovina foi apoiada pelo fato de que, em vez de morar em uma casa grande cercada de luxo como se espera de um milionário, Hetty sempre morou em apartamentos pequenos e baratos "para evitar fixar residência e pagar impostos", assegura um artigo na Sociedade Histórica da Nova Inglaterra.

Nesse texto, a habilidade incomum de investimento e a determinação de Hetty para sua época são contextualizadas.

- "As pessoas não estavam acostumadas com uma mulher que administrava seus investimentos espetacularmente bem em tempos em que não se confiava dinheiro às mulheres", observa o artigo. - "No final, seu maior crime parece ter sido escolher viver de acordo com suas próprias regras e não com as da sociedade."

Hetty Green morreu em 1916, aos 81 anos, de acidente vascular cerebral. De acordo com o New York Social Diary, os seus bens à data da morte ascendiam a 200 milhões de dólares, o que equivaleria a cerca de 7 bilhões de dólares hoje, embora existam discrepâncias na avaliação da sua fortuna para muito mais.