Os bagres (Siluriformes) fazem parte do grupo mais diverso de peixes com nadadeiras raiadas. Nomeados peixes-gato por seus barbilhões proeminentes, que lembram os bigodes de um gato, os bagres variam muito em tamanho, desde o pequeno candiru (Vandellia cirrhosa), que parasita a uretra humana, até a enorme piraíba (Brachyplatystoma filamentosum) que pode atingir até 2,50 metros de comprimento e 300 quilogramas de peso. O bagre-gigante-do-Mekong também se destaca por seus 3 metros de comprimento ainda que seu corpo seja mais delgado com no máximo 200 quilogramas. |
Mandi-chorão (Pimelodus maculatus).
O bagre, de fato, é uma das espécies de peixe mais diversas e comuns, constituindo uma em cada quatro espécies de água doce. No entanto, estima-se que 1.750 espécies de peixe-gato ainda sejam desconhecidas pela ciência.
Diga o nome de todos os animais venenosos que consegue pensar e provavelmente você pensará em cobras, aranhas, abelhas, vespas e talvez sapos venenosos. Mas bagres? Sim! Um estudo de 2009 publicado no periódico BMC Evolutionary Biology, descobriu que pelo menos 1.250 e possivelmente mais de 1.600 espécies de bagres são venenosas, muito mais do que se acreditava até então.
Os cientistas têm focado bastante atenção no veneno produzido por cobras e aranhas, mas os peixes venenosos têm sido amplamente negligenciados. As glândulas de veneno do peixe-gato são encontradas ao lado de esporões ósseos afiados e serrilhados nas bordas das barbatanas dorsal e peitoral, e esses ferrões podem ser travados no local quando o peixe-gato é ameaçado ou pisado (Uiiii!!!).
Quando um esporão perfura um predador em potencial, a membrana que envolve as células da glândula de veneno é rasgada, liberando veneno na ferida. O veneno do peixe-gato é uma composição complexa de fatores hemolíticos, dermonecróticos, produtores de edema e vasospásticos e contém vários aminoácidos.
As toxinas do bagre envenenam os nervos e quebram os glóbulos vermelhos, produzindo efeitos como dor intensa e prolongada, inchaço, redução do fluxo sanguíneo, espasmos musculares, náusea, dificuldade respiratória e taquicardia. Os principais perigos para os humanos que se envolvem com o bagre não vêm da picada inicial e da inflamação, mas de infecções bacterianas e fúngicas secundárias que podem ser introduzidas através da ferida perfurante ou quando pedaços do esporão e outros tecidos se quebram na ferida.
Ainda que pescadores não seguem muito conselhos, recomenda-se não remover o ferrão por si só, pois ele pode ser difícil de tirar e infeccionar o ferimento. O ferrão do bagre é serrilhado e entra com facilidade na pele, mas pode dilacerá-la ao sair. O melhor é procurar ajuda médica imediatamente, verificar se a vacina antitetânica está em dia e tomar antibióticos para evitar infecções.
Esporões de bagres.
A maioria dos peixes esportivos populares aprecia um ar de drama e romance, e os bagres não são a exceção. A aparência pouco atraente dos bagres desmente sua verdadeira natureza e as histórias de pescadores desses peixes intrigantes revela características surpreendentes e únicas que atraem um número tremendo de pescadores em todo o mundo.
A potência do veneno é ampla e inversamente proporcional ao tamanho do peixe, por isso diz-se popularmente que os bagres que causam mais dor com seu esporão são os pimelodídeos, mas conhecidos como mandis, uma família de 300 espécies de peixes endêmicos do Brasil, na qual se destaca o mandi-chorão ou amarelo (Pimelodus maculatus), um peixe verdadeiramente lindo e delicioso, que pode alcançar até 3 kg.
Quem levou a esporada de um, não se esquece para o resto da vida. Eu sei! Quando era adolescente, pisei acidentalmente no esporão dorsal de um e desmaiei de tanta dor. Eu ainda gosto de pescar, mas a lembrança ainda hoje é tão doída que uso botas quando vou pescar e mantenho sempre uma luva pega-bagre na tralha de pesca.
Histórias de pescadores brasileiros sempre contemplam uma de mandi, cheia de mitos, geralmente relacionada ao seu esporão. Uma delas diz que se o ferrão quebrar na ferida, ele continuará avançando até encontrar o vaso sanguíneo que o levará de encontro ao coração. Este mito também é muito estendido no interior do país com o espinho da roseira branca -não vermelha e nem amarela, só branca-. O mito é baseado no fato de que a contração muscular tende a fazer com que o esporão vá pra frente alguns milímetros causando ainda mais dor devido ao muco tóxico.
Diz a sabedoria popular, às vezes nem tão sábia assim, que quem é ferroado por mandi deve urinar no local para aliviar a dor. A ideia em si não é de toda errada, pois para aliviar a dor de uma picada de bagre, pode-se mergulhar a área atingida em água doce morna ou tão quente quanto possível até chegar ao hospital. Mas há que se levar em conta que as bactérias presentes na urina podem infeccionar o local e piorar ainda mais o quadro. A infecção resultante pode durar meses.
Outra ideia de jerico é arrancar o olho do peixe e esfregar no local ou passar sua banha na ferida. Não adianta nada e, de fato, pode ser mais uma possibilidade de adquirir uma infecção. A melhor coisa a fazer é limpar a ferida com água doce e sabão.
Uma das ideias para mitigar a dor que pode fazer algum sentido é passar o corpo do próprio peixe no ferimento. Naquele estudo de 2009 que citamos acima, os pesquisadores descobriram que, além das glândulas de veneno, os bagres tem proteínas tóxicas, chamadas crinotoxinas, em toda a sua pele, aquele muco que faz com que pareçam "ensaboados". Essas crinotoxinas demonstraram acelerar a cicatrização de feridas em humanos, mas, mais uma vez, há sempre o risco da infecção generalizada.
Ademais, é uma área muito pouco estudada, com pouca literatura científica para se basear, embora valha a pena ressaltar que toxinas de venenos de outros organismos (cobras, caracóis-cone e escorpiões, por exemplo) foram todas colocadas em uso farmacêutico e terapêutico. Um problema com os estudos dessas toxinas é que elas praticamente se neutralizam assim que o peixe morre e quaisquer resquícios delas são eliminados totalmente com o cozimento da carne.
Muita gente faz carinha de nojo quando vê um prato preparado com bagre, mas não devia. Diferente do asco que é a carne da carpa, a carne do bagre é considerada saborosa e pode ser um peixe nobre. O bagre é rico em proteínas, vitamina B12 e ômega 3, e pode trazer benefícios para o organismo, como fortalecer o sistema cardiovascular.
O bagre é um peixe que pode ser cortado em filé, ficando sem espinhos e com baixo teor de gordura. De fato, o bagre-marinho faz um caldo sem igual. Outro bagre injustiçado no Brasil é o panga, dado que, em algumas poucas regiões específicas de rios do Vietnã, ele pode ter verme, mas quando é criado em cativeiro, isso não ocorre. O problema nesses casos é que peixes de cativeiros caem na mesma ordem de peixes com carnes repugnantes, assim como a própria carpa, porque estes peixes comem mais barro do que ração.
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