Oitenta e quatro anos atrás, Charlie Chaplin provocou os nazistas em sua sátira "O Grande Ditador" com o personagem Adenóide Hynkel. Não é de se surpreender que o filme tenha sido proibido na Alemanha, e em todos os países ocupados pela Alemanha, em 1940. Um filme que zombava de Adolf Hitler nunca seria a primeira escolha do Alto Comando Nazista para entretenimento nas noites de sexta-feira, lógico. O mais surpreendente, da perspectiva de hoje, é que Chaplin foi avisado de que ele poderia não ser exibido na Grã-Bretanha ou inclusive nos EUA. |
A política de apaziguamento da Grã-Bretanha continuou até março de 1939, e os EUA não entraram na Segunda Guerra Mundial até dezembro de 1941, um ano após o lançamento de "O Grande Ditador", então, quando Chaplin estava escrevendo o roteiro e filmando -seu primeiro filme falado de verdade-, os colegas do estúdio que ele era coproprietário temiam que nenhum governo o deixasse ser exibido.
Mas Chaplin não se deixou dissuadir. Ele sabia que "O Grande Ditador" valia a pena ser feito e, com certeza, foi um sucesso de bilheteria: o segundo maior sucesso de 1941 nos EUA. O filme é uma obra-prima que não é apenas uma comédia deliciosa e um drama agitprop sombrio, mas uma visão assustadoramente precisa da psicologia de Hitler, conforme mostrado na cena hilária do deslumbrado ditador com um globo terrestre.
A mensagem é que Adenóide não é um estrategista brilhante ou um líder poderoso. Ele é um adolescente crescido, como demonstrado na sublime peça em que ele dança com um globo inflável, sonhando em ser "imperador do mundo". Ele é um palhaço inseguro que blefa, trapaceia, fica obcecado com sua imagem pública, maltrata suas secretárias, se deleita com o luxo de seus aposentos extravagantes e reverte suas próprias políticas-chave para ganhar mais tempo no poder.
O que é ainda mais notável é que Chaplin não capturou apenas Hitler, mas todos os ditadores que seguiram seus passos de ganso. Isso ressoou na época e continua a ressoar. Se você quiser ver um reflexo cristalino dos déspotas do século XXI, você o encontrará em um filme que foi lançado há 84 anos.
Na época em que Chaplin fez "O Grande Ditador", ele já desprezava os nazistas há muito tempo, e vice-versa. Um filme de propaganda alemão o denunciou como um dos "judeus estrangeiros da Alemanha", não importando-se que ele não fosse judeu, enquanto a imprensa dos EUA o apelidou de "Moisés do século XX" porque ele financiou a fuga de milhares de refugiados judeus.
Quando ele começou a trabalhar no filme inicialmente intitulado "O Ditador", ele era "um homem em uma missão". Alguns de seus contemporâneos, como Laurel e Hardy, só queriam fazer filmes engraçados e ganhar dinheiro. Mas Chaplin levava muito a sério o que queria dizer. "O Grande Ditador" não era apenas um filme. Era realmente algo que ele achava necessário, ainda que mais tarde tenha confessado em sua biografia, que se soubesse dos horrores dos campos de concentração talvez não tivesse realizado o filme.
Além de Adenóide Hynkel, o ditador governante de Tomainia, Chaplin interpreta um pequeno barbeiro judeu com amnésia que vive no gueto, e Hynkel. Em sua autobiografia, ele cita a si mesmo dizendo:
- "Não é preciso ser judeu para ser anti-nazista. Tudo o que se precisa ser é um ser humano normal e decente."
Chaplin e Hitler nasceram com uma semana de diferença um do outro. Havia algo estranho na semelhança entre Carlitos e Adolf Hitler com seus bigodinhos, representando polos opostos da humanidade. Cada um, à sua maneira, expressou as ideias, sentimentos, aspirações de milhões de cidadãos em dificuldades, situados entre a pedra de moinho superior e inferior da sociedade. Cada um refletiu a mesma realidade, a situação do “pequeno homem” na sociedade moderna. Cada um é um espelho distorcido, um para o bem, o outro para o mal incalculável.
- "Para aqueles que podem me ouvir, eu digo: não se desesperem", diz Adenóide (ou o barbeiro sem nome?). - "A miséria que agora está sobre nós é apenas a passagem da ganância, a amargura dos homens que temem o caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará, e os ditadores morrerão, e o poder que eles tiraram do povo retornará ao povo. E enquanto os homens morrerem, a liberdade nunca perecerá..."
Chaplin passou muitos meses elaborando e reescrevendo o discurso para o final do filme, um apelo à paz do barbeiro que foi confundido com Adenóide. Muitas pessoas criticaram o discurso e acharam que era supérfluo para o filme. Outros o acharam edificante. Lamentavelmente, as palavras de Chaplin são tão relevantes hoje quanto eram em 1940.
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