![]() | Certa vez estava pedalando pelas margens do lindo Yamdrok, no Tibet, e uma dúvida muito estranha, mas facilmente compreensível e aceitável me ocorreu. O Lago Turquesa está localizado na maior altitude do pais: 4.400 metros acima do nível do mar. Não está conectado a nenhum outro lago de grande monta e a hidrologia da região aponta que todos os afluentes que desembocam no lago são rios nivais ou glaciais abastecidos pelo degelo da neve das montanhas ao seu redor. |

O lago abriga quase 1 milhão de toneladas de peixes, como carpas, sobretudo a esquizopigose (também conhecida como carpa-tibetana), botias, barbos, barbilhões, bogas, fazendas de tilápias, entre muitos outros. Como diabos esta horda de peixes chegou a um lugar como este? Escalando as montanhas?
Esses peixes não poderiam ter evoluído lá; os ciprinídeos evoluíram há 20 milhões de anos, e este lago não se formou até muito mais recentemente do que isso. Acontece que, além dessas opções, há três maneiras principais pelas quais os peixes podem entrar em lagos aparentemente isolados.
Primeiro, quando chove muito, lagos que normalmente são isolados podem transbordar e se conectar por riachos temporários. Isso permite que todos os tipos de coisas, incluindo peixes, passem de um lago para outro. Esse não é o caso do Yamdrok
A segunda opção: talvez tenham caído de paraquedas. O que parece absurdo, mas muitas agências de vida selvagem nos EUA e ao redor do mundo literalmente jogam peixes de aviões em lagos de montanha para fornecer comida e oportunidades de pesca. É mais uma das muitas maneiras pelas quais os humanos movem espécies pela Terra, o que tem todos os tipos de ramificações.
Seja como for resolvi pesquisar e descobri que o Lago Turquesa não é uma desses lagos especiais repovoados pelo ar. O Yamdrok é considerado o maior lago sagrado do Tibet há séculos. Todos os anos, é objeto de peregrinação de tibetanos em uma celebração anual com a presença do próprio Dalai Lama. Então também existe a possibilidade de que peregrinos tenham levado, ano após ano, alevinos para soltar lá.
No entanto, há uma outra hipótese muito mais estranha e provável a ser considerada: os peixes foram defecados. Ou, pelo menos, são descendentes dos peixes que foram. Veja, existem todos os tipos de animais, como ursos, castores e pássaros, que se movem regularmente de um lago para outro.
E ainda que áreas acima de 3.000 metros sejam bem menos diversas em vida animal, eles ainda vivem lá: ratos-orelhudos-da-montanha, pikas, leopardos-da-neve, gralhas-alpinas, galos-da-neve-tibetanos, gansos-de-cabeça-barrada e abutres tem em comum sua inclinação por se alimentarem de peixes sempre que podem.
Pelo menos uma dessas espécies, o ganso-de-cabeça-barrada, tem uma predileção especial por ovas de peixe. Em um estudo recente pesquisadores descobriram que, de cada mil ovos que um ganso come, cerca de seis sobrevivem ao seu trato digestivo.
Como as gralhas e gansos podem voar até algumas centenas de quilômetros entre comer e fazer cocô, eles podem, sem querer, levar alevinos para lagos super remotos. Então, talvez estes peixes do lago podem ser os verdadeiros sobreviventes a uma jornada muito complicada.
Furacões regularmente arrastam flamingos perplexos do Caribe para a Flórida. Um pedaço de terra que se separou da África e flutuou através do Atlântico levou os primeiros macacos para a América do Sul. E há até mesmo uma ideia de que um cometa de uma galáxia distante pode ter introduzido vida na Terra. A ciência não está convencida dessa última; há evidências bastante contundentes de que os blocos de construção da vida estavam aqui o tempo todo.
Mas enquanto a vida em nosso planeta provavelmente não se originou de uma acreção de poeira intergaláctica, a vida neste lago provavelmente se originou de uma excreção de ganso.
Você também deve estar imaginando como a população do lago abundou tanto. Bem, a maioria desses peixes não tem os mesmos predadores vorazes que ferram suas vidas montanha abaixo. A carpa-tibetana, por exemplo, pode alcançar dimensões tão absurdas como meio metro de comprimento. Ademais, os moradores da margem do lago não costumam pescar lá porque há 5 piras funerárias nele. Assim, aos olhos dos tibetanos, os peixes do Yamdrok têm a alma de seus entes queridos.
No entanto, se você, como turista, fizer uma solicitação e pagar uma taxa de 60 yuans (47 reais) pode pescar à vontade enquanto estiver atravessando o lago. A filmagem em time-lapse abaixo mostra a península ao sul do lago, que abriga o famoso Mosteiro de Samding, onde Dorje Phagmo, uma das poucas lamas mulheres importantes da cultura tibetana, habitou e presidiu.
Minha intenção era fazer o time-lapse com tilt-shift, mas a câmera infelizmente ajustou o foco automaticamente. O time-lapse de 2 minutos resume mais ou menos meia hora de gravação.
A cor azul-turquesa se deve ao amontoado glacial, os sedimentos resultantes do degelo de glaciares. O lago tem mais de 250 km de perímetro, que na margem oeste você vence em um dia pedalando tranquilo, mas na leste é mais complicada devido aos passos de montanha e trilhas mal conservadas, sem contar a quantidade de istmos, ilhotas, penínsulas e ilhas que podem custar até 3 dias.
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