![]() | Pessoas viveram em cavernas no Afeganistão ao longo de toda a sua história. Elas eram originalmente habitadas por monges budistas, quando a área abrigava mosteiros. Há décadas, dezenas de famílias vivem em um conjunto de pequenas cavernas centenárias no Afeganistão. Como acontece às vezes, eles se tornaram quase famosos com reportagens de jornalistas internacionais que viajaram para a província de Bamyan a visitaram, documentando suas vidas incomuns. |

Elas renderam boas fotos: mulheres com hijabs coloridos cozinhando em pequenos fogões, homens agachados tomando chai sabz (chá verde doce temperado com cardamomo), crianças com olhos arregalados e sorrisos ainda maiores.
E tudo isso aconteceu em cavernas escavadas nas colinas de arenito perto dos restos mortais dos antigos e imponentes Budas explodidos pelo Talibã em 2001.
Mas se você está imaginando alguma noção romântica de pessoas que escolheram buscar uma vida mais simples em um cenário pitoresco, esqueça. Francamente, é uma existência sombria: sem energia, sem água encanada, frio insuportável no inverno, e as pessoas que vivem lá muitas vezes não têm escolha.
A maioria fugiu de conflitos ou destruição em outras partes do Afeganistão, ou são os moradores mais pobres de uma província onde a pobreza extrema é comum.
No entanto, em maio do ano passado, a esperança surgiu como um raio de luz perdido através de uma fenda no arenito. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) foi a Bamyan e, juntamente com o governador provincial do Talibã, anunciou planos para construir um assentamento para essas pessoas.
Em uma época em que o Ocidente fugiu do Afeganistão, deixando o Talibã no comando, isso parecia notável. Finalmente, os chamados habitantes das cavernas iriam receber lares aquecidos, seguros e protegidos.
Até que -no Afeganistão hoje em dia, parece sempre haver um "até"- algumas semanas depois o projeto foi interrompido. Não houve nenhuma explicação oficial, embora tenha havido especulações.
E foram tiradas conclusões sobre o que a situação dos habitantes das cavernas diz sobre a situação mais geral do Afeganistão e sobre a relação entre esse país cada vez mais intolerante e o resto do mundo.
O que estamos vendo é uma progressão à medida que o Talibã se torna cada vez mais firme. Ele está revelando sua verdadeira face violenta com muito mais frequência.

Nenhuma das histórias dos habitantes das cavernas encobre as circunstâncias difíceis das pessoas ali. É impossível não notar o quão sombrias as coisas são nesses assentamentos.
A vida é dura na província de Bamyan. Fica a cerca de 180 km de Cabul, na região central montanhosa, com horizontes dominados pela grandiosa cordilheira Hindu Kush. Dependendo da época do ano, o solo pode estar coberto por uma espessa camada de neve ou completamente seco.
Muitas pessoas têm dificuldade para sobreviver. Até mesmo conseguir comprar combustível para aquecer a casa já é um desafio. Isso se você puder comprar uma casa.
Para alguns desesperados, as cavernas pelo menos oferecem abrigo. Mas são uma proteção frágil contra o frio. E no verão também abrigam escorpiões.
Originalmente, as cavernas eram habitadas por monges budistas, quando a área abrigava mosteiros e práticas religiosas. Há cerca de 1.400 anos, foram esculpidos dois Budas gigantes, um com cerca de 55 metros e o outro com cerca de 38.
As esculturas sobreviveram à chegada dos invasores, incluindo Genghis Khan em 1220, embora alguns governantes muçulmanos não estivessem exatamente satisfeitos com elas, com tentativas de danificá-las ao longo dos séculos. Então, em 2001, os Budas foram atingidos por fogo antiaéreo, foguetes e explosivos colocados em buracos perfurados nos penhascos, tudo por ordem do fundador do Talibã, Mulá Omar. Ele justificou a ação com argumentos religiosos, alegando que eram ídolos.
Assim que a poeira baixou, os Budas praticamente desapareceram. Mas as cavernas permaneceram, embora não tão elaboradamente decoradas como algumas outrora, quando monges viviam nelas como eremitas ou iam até lá para meditar.
Hoje em dia, eles são o lar de pessoas que buscam refúgio em vez de iluminação.

O vídeo mostrado abaixo mostra toda uma família de nove membros que mora em uma dessas cavernas. Eles praticam quase uma espécie de celebração para preparar uma grande refeição: uma macarronada com batatas chamada Makaruna Imbaukha, listada como uma das melhores do mundo.
O prato, de fato não é afegão, senão que líbio, já que a culinária do Afeganistão é o resultado da fusão de diferentes culturas, principalmente da Ásia Central, Irã e Índia. A macarronada é acompanhada por bolanis, pães achatados recheados, assados ou fritos.
Se for hora da refeição, é imperdoável ofensa não se juntar aos moradores sentados em um tapete ou esteira, ao redor de uma toalha sobre a qual se colocam as tigelas. Come-se com a mão e com a ajuda de pedaços do bolani a bebida é o chai sabz, muitas vezes servido em uma única caneca grande, que passa de mão em mão.
O Canal que apresenta o vídeo no Youtube Country Lifeaholic faz afirmações bizarras e totalmente falsas sobre a "Família que dorme e cozinha na Caverna mais Mortal da Natureza" alegando que as temperaturas locais podem chegar a -40 °C, e a sobrevivência é medida em minutos, não em horas!
Este youtuber comeu merda quente e saiu na chuva fria. Só pode! Ainda que a amplitude térmica do Afeganistão seja grande, o dia mais frio naquela região chega no mínimo a -8 ou -9 °C. Basta ver as crianças brincando com água, uma temperatura de -40 transformaria a água em gelo sólido instantaneamente.
Para entender o que é viver em temperaturas abaixo de -30 °C, veja este outro vídeo, possivelmente gravado em Siquim, Índia ou no Nepal. Poderia ser também no Tibet, mas as pessoas mostradas no vídeo não parecem ser tibetanas. Este são os únicos 3 lugares do mundo onde tal cena pode ocorrer.
Este é mais um daqueles vídeos estúpidos sem nenhum texto ou contexto para explicá-lo. De fato, muitos usuários do Youtube comentam que tudo isso não passa de encenação, mas quem quereria brincar de teatrinho subindo e descendo morro com temperaturas gélidas à toa? Isso seria uma coisa estúpida e totalmente sem sentido.
Você vai notar algo muito curioso no vídeo. No Sudeste Asiático dizem que todo himalaio tem pelo menos uma panela de pressão e isso não podia ser mais verdade. Eles gostam da panela porque ela tem mais rendimento térmico com menos lenha.
No entanto há duas explicações bem simples para as cenas bizarras. Quando a neve começa a derreter no começo de maio, os moradores da região promovem acampamentos temporários especificamente para coleta de yartsa gunbu (Cordyceps sinensis), ou minhoca de inverno.
Este fungo parasita as larvas de mariposas-fantasmas (Hepialus humuli) e cresce dentro delas. As pessoas passam a maior parte do tempo de quatro, vasculhando a vegetação esparsa em busca do que parece ser um talo de apenas alguns centímetros de altura. Quando encontram um, eles o desenterram cuidadosamente e de lá emerge o que parece ser uma lagarta com um galho brotando de sua cabeça.
Até as crianças tiram um mês de folga da escola para a colheita, porque seus olhos aguçados conseguem avistar o prêmio mais facilmente do que os adultos. O dinheiro compensa. Um quilo do fungo é vendido por cerca de 90 reais por kg, uma boa grana para um país pobre.
À medida em que troca de mãos de vários intermediários estes valores se multiplicam e se transformam em uma fortuna. Na China, apenas um fungo pode custar ao cliente final mais que o triplo do seu peso em ouro ou mais de mil reais.
Claramente, alguma forma de regulamentação precisa ser implementada para a coleta desse valioso recurso biológico. Os biólogos locais sugerem colheitas rotacionadas. Enquanto isso, na China, pesquisadores estão experimentando a possibilidade de cultivar o fungo em laboratório, mas até agora, seus resultados não foram encorajadores. Espera-se que essa maravilha médica, recentemente creditada com propriedades antienvelhecimento, não esteja condenada a uma existência abreviada.
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