Quem viu o post de ontem sobre Bibi Aisha e associou com o título deste artigo, possivelmente tenha pensado que as imagens que ilustram a galeria abaixo mostrem um país selvagem, quase medieval, com condições de vida ainda mais precárias do que as atuais. Mas estaria enganado. Algum tempo atrás o Afeganistão era um país absolutamente diferente: as mulheres afegãs faziam carreira na medicina, iam ao cinema, usavam minissaia e estudavam nas universidades de Cabul. |
Acredite ou não, as fábricas afegãs produziam tecidos e outros bens. Havia a lei e ordem e o governo sentia-se capaz de implementar grandes projetos de infraestrutura como a construção de usinas hidrelétricas e estradas. As pessoas comuns tinham esperança no futuro. Tudo isso foi destruído por 30 anos de guerra e fundamentalismo religioso.
Nas fotografias que compõem este artigo verá que o campus da Universidade de Cabul, pouco mudou desde então, mas as pessoas mudaram muito. Entre os 50 e final dos 60, os alunos preferiram roupas de estilo ocidental, e os jovens de ambos os sexos podiam se comunicar livremente uns com os outros.
Hoje, as mulheres escondem o rosto e todo o corpo atrás de uma burca, mesmo na capital. Apenas meio século depois, homens e mulheres parecem viver em mundos diferentes, onde um manda e outro obedece senão morre e apanha. As mulheres daquela época podiam seguir carreira em áreas como a medicina ou qualquer outra que desejassem. Hoje, os poucos estabelecimentos de ensino para mulheres são alvo de ataques constantes.
Anteriormente a educação era muito valorizada. Todos queriam ir a escola e tirar boas notas, para ter a chance de cursar o ensino superior ou mesmo até estudar no exterior e tornar-se uma parte da classe média. Hoje, as pessoas presas atrás do escudo da ignorância fundamentalista não conseguem ver a conexão entre educação e uma vida melhor.
Na década de 1960, quase a metade da população do Afeganistão tinha acesso aos cuidados de saúde, agora só alguns poucos têm. Hoje, os hospitais estão superlotados, e uma em cada quatro crianças não vivem para completar seu quinto aniversário.
O Centro de Produção de Vacinas de Cabul na década de 60. Hoje, os serviços médicos são limitadas por vários fatores, um deles é a falta de energia elétrica. Menos de 20% dos afegãos têm acesso à eletricidade, muitas casas são iluminadas por lamparinas.
No passado, o governo central do Afeganistão implementou vários programas voltados para o desenvolvimento da vida rural. Um deles é o mostrado na foto: enfermeiros foram enviados para aldeias remotas para tratar as pessoas de cólera. Hoje em dia, seria simplesmente impossível, devido aos problemas com a segurança. Os trabalhadores de saúde do governo são frequentemente atacados por grupos de homens armados que querem criar desordem e terror na sociedade.
Anteriormente, haviam garotas e garotos escoteiros no Afeganistão. Nos anos 50 e 60, essas organizações eram populares nos EUA. Os meninos e meninas das escolas primárias e secundárias aprendiam sobre campismo, natureza, e segurança pública.
Algum tempo atrás, era passivelmente possível assistir um filme recém lançado de Hollywood em qualquer cinema da capital.
Este playground estava sempre cheio de crianças com suas mães. Agora não é muito seguro sair às ruas para fazer qualquer coisa.
Indústrias leves, como esta planta localizada na periferia de Cabul, deram uma grande esperança para a economia afegã. Mas agora, como é possível trabalhar sem eletricidade? Agora, existem apenas pequenas bocas de ópio no Afeganistão. Este se tornou seu maior produto de exportação.
Com a ajuda da Alemanha, o Afeganistão construiu sua primeira usina hidrelétrica no início dos anos 50. Na época, foi considerada uma obra de arte. Ela ainda funciona, mas, infelizmente, ao longo dos últimos oito anos, o governo afegão não construiu quaisquer outras usinas.
Uma fábrica de roupas. Algum tempo atrás, havia um sentimento de que o Afeganistão tinha um futuro brilhante, sua economia estava crescendo. A maior parte do algodão processado nesta fábrica era cultivado manualmente, mas 30 anos de guerra destruíram o setor e os canais de abastecimento.
Naquela época as mulheres eram parte importante da mão de obra e constituíam grande percentual da força trabalhista do país.
A rádio dos anos 60 transmitia as notícias do mundo e local, programas de música, piadas, debates políticos e até mesmo programas infantis. A Rádio Cabul (cujo transmissor você pode ver na foto) foi inaugurada em 1930.
No Afeganistão de hoje, há uma série de estações de rádio privadas, de satélite e programas de televisão. No entanto, o acesso à rádio e televisão depende de eletricidade e é por isso que seu público é limitado. Apenas poucas famílias têm geradores em casa.
Durante o Dia da Independência anual do Afeganistão Cabul foi iluminada com luzes durante nove dias nos anos 60. Agora está sempre escura à noite. As ruas estão vazias, a vida noturna não é sequer mencionada na mídia, não existe.
Butiques costumavam ser muito comuns em Cabul naqueles dias.
Bem como lojas de música com discos da parada de sucessos que propagaram os ritmos adolescentes afegãos bem como importavam a energia diferente da música do mundo ocidental.
Hoje, lojas de móveis, como esta, são uma verdadeira raridade. A maior parte do mobiliário é feito fora do Afeganistão.
Mercados de frutas parecem a única coisa que não mudaram no Afeganistão moderno.
O nível de instrução da administração de Cabul é agora muito menor do que 50 anos atrás. A maioria dos funcionários públicos tinham mestrado ou doutorado. As roupas de estilo ocidental eram a norma. Hoje, a reunião do governo em Cabul é realizada entre homens com barbas longas, com turbantes e roupas tradicionais.
As forças de defesa, uma vez forte e ativas, desvaneceram na história. Após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, o Paquistão destruiu as forças armadas do país. A guerra civil da década de 1990, a constante pressão do Talibã e a intervenção norte-americana tornaram a força de segurança local muito difícil de organizar, mesmo considerando que a segurança continua a ser a principal preocupação do país.
Agora, é difícil dizer exatamente de quem é a culpa pelo declínio do Afeganistão, mas podemos dizer quase com certeza que um país que antes que vivia níveis satisfatórios de desenvolvimento, agora está destruído quase que completamente.
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Comentários
Parabéns islamismo, a religião da "paz" que espalha a idade das trevas pelo mundo.
Carlos,
Claro que você esqueceu dos 10 anos de invasão soviética no Afeganistão, de 79 a 89 que seguiu-se da guerra civil Talibã. Esqueceu propositadamente de falar que o desmonte do que havia de positivo nestas fotos ocorreu justamente neste periodo de dez anos que seguiu a guerra civil afegã e a tomada do poder pelo Talibã. Claro que estas coisas você não quis falar. É mais fácil ou interessante culpar o oeste. Mas é nesse oeste que aquele Afeganistão que você viu nas fotos se espelhava e é nesse oeste que ele tem a coragem de se espelhar novamente.
É como uma pessoa que se acaba pelo uso de drogas pesadas, no caso é um país que decaiu pelo uso de uma droga chamada religião. Essa é uma droga de destruição em massa que vem desempenhando seu trabalho muito bem desde sempre.
E quem instigou isso irmão? A CIA. Aquela acostumada a derrubar governos democráticos como o do Brasil e de toda a America Latina. Sabe quem é o maior plantador de ópio do mundo? Os EUA. Sabe quando e onde passou a ser plantado? Depois da Guerra criada pelo tio Sam naquele país! Se informe, antes de publicar essas baboseiras e por a culpa no islamismo. A culpa é dos EUA e só!
É uma pena como um país pode mudar tão radicalmente assim em tão pouco tempo. Tinha tudo para prosperar, mas...
Religião = assunto preferido de quem não tem uma.
Religião = guerras, dominação e atraso nos avanços da humanidade.
Pastores charlatões que o digam. V
religião = paz e amor, melhorando a qualidade de vida das pessoas.
Daqui a alguns anos terão o mesmo pensamento em relação a outros países. V
É até difícil de acreditar que se trata realmente do Afeganistão.
Não aconteceu.
Por algumas fotos como a 44 e 48, parece que a liberalidade moderna e o tradicional conviviam numa boa, ao menos sem grandes hostilidades ideológicas. No entanto, fica claro que a desigualdade social ainda era alta. Não sei se isto se traduzia numa uma diferença entre campesinos e cosmopolitas como aqui no Brasil. Mas, parece que as referências a cultura meso oriental estão entre os mais pobres.
Enfim, a ocidentalidade é que se mostra como um hiato na história do país. Pra descambar pra tamanho retrocesso, deve ter sido um grande empreendimento por parte de poderes externos, financiando, armando e apoiando os cachorros loucos do islã, apoio este sem o qual não teriam a menor chance de se imporem sobre um povo bem informado. Não podemos nos iludir com a ideia de que os fundamentalistas são tão bem articulados e capazes de implementar sozinhos alguma revolução/involução deste nível. Enquanto são úteis aos verdadeiros crápulas (sem sombra de dúvida, as potências ocidentais), recebem apoio externo como se fossem salvadores sintonizados como o que há de mais moderno. Ninguém fica sabendo quem financia e com qual propósito. Depois de alcançado o objetivo, tentam colocá-los de lado do processo político. É aí que começam os conflitos e se aprofunda o comportamento fundamentalista.
Profundamente lamentável o que aconteceu com o país.
Antes uma mulher usava burca por opção, por realmente acreditar naquilo. Hoje ela usa por pena de morte.
Essa é a diferença: Do que adianta todos seguindo os mandamentos de uma religião se não há fé, se Deus (antes que falem algo, Alá e Deus -yehova- são um só, a diferença vai como cada religião vê) é apenas um tirano que os obriga a ter uma vida miserável e sofrida?
É, isso é bem confuso.
O fundamentalismo é um lixo. Mas se as pessoas que vivem por aí forem iguais as que eu conheci na internet, estou certo e aposto todos os meus poucos trocados que a humanidade sempre terá seus fundamentalistas, religiosos ou não.
Tenho um odio tremendo por todos os fundamentalistas! Por mim matava tudo!
Os caras acabaram com o pais e são os reis da hipocrisia, se julgam homens de Deus mas cometem atrocidades que são dificeis de acreditar que forsm cometidas por homens "religiosos".
É ataque com acido nas mulheres, apedrejamento, rinhas de animais no meio das praças, etc...
Era num pais desses que os EUA tinha que intervir forte, limpando o governo e enforcando geral, como fez no Iraque, mas lá não tem nada do interesse deles...
Na minha cabeça vejo fundamentalistas no mesmo nivel de bandidos e assassinos, pois são o que fazem e se "justificam" na religião.
Ainda não tinham sido contagiados pelo mais letal dos vírus:
Religião.
Uns acham a cura por si próprio, o restante envergonham a raça humana e se condenam a "morte".
As fotos estão coloridas por cima da foto preto e branco original?
Puxa, o post está muito bem montado, e dá uma impressão de país idealizado.
História.
Ah, por que esse tempo não volta?
Contrastes.