O documento com mais de 7 mil páginas foi compilado pelo Procurador Jader de Figueiredo Correia, ali encontramos detalhes de assassinatos em massa, tortura, escravidão, abuso sexual, roubo de terras e inclusive guerra bacteriológica contra a população indígena do Brasil. Como resultado, algumas tribos foram totalmente dizimadas.
Um Xamã da tribo Umutima, que foi praticamente aniquilada por uma epidemia de gripe em 1969.
O relatório foi recentemente redescoberto no Museu do Índio e agora, se não "pegar fogo" providencialmente de novo, será considerado pela Comissão Nacional de Verdade do Brasil, que está investigando as violações de direitos humanos ocorridas entre 1947 e 1988.
Um dos muitos exemplos chocantes que podemos encontrar no relatório descreve o "massacre do paralelo 11", em que bananas de dinamite foram lançadas de um pequeno avião sobre a aldeia de índios Cinta Larga. 30 pessoas morreram, apenas dois sobreviveram para contar história.
Mas os latifundiários e madeireiros cometeram um sem número de outros crimes horrendos, por exemplo, centenas de índios foram envenenados com açúcar misturado com arsênico, muitos foram torturados em um instrumento conhecido como o "tronco" que permite ao algoz esmagar lentamente os tornozelos das vítimas.
Atrocidades contra uma mãe da tribo Cinta Larga: depois de atirar na cabeça de seu bebê, os assassinos cortaram a mãe no meio.
As descobertas de Figueiredo correram o mundo e um artigo intitulado "Genocídio", em 1969, no Sunday Times, descrevia
- "Do fogo e espada ao arsênico e balas – a civilização enviou seis milhões de índios para a extinção". Este artigo foi o responsável por um pequeno grupo de pessoas ter se mobilizado para criar a Survival International naquele mesmo ano.
Com o clamor da opinião pública, o governo instituiu um inquérito judicial para apurar os fatos, 134 funcionários foram acusados de mais de mil crimes, resultando na demissão de 38 funcionários, mas ninguém foi preso pelas atrocidades.
Um casal Karajá com seu bebê, que morreu de gripe.
O vergonhoso Serviço de Proteção ao Índio deu lugar a FUNAI. No entanto, mesmo que grandes extensões de terras indígenas tenham sido demarcadas desde então, as tribos brasileiras continuam a lutar contra a invasão de suas terras por madeireiros, fazendeiros e colonos ilegais. Em palavras do diretor da Survival International, Stephen Corry:
- "O relatório Figueiredo faz uma leitura horrível, mas de alguma forma, nada mudou: quando se trata do assassinato de índios, reina a impunidade. Homens armados matam rotineiramente índios com a consciência que há pouco risco de serem julgados e punidos, nenhum dos assassinos responsáveis por atirar contra líderes Guarani e Makuxi foi preso por seus crimes. É difícil não suspeitar que o racismo e a ganância estão na raiz do fracasso do Brasil em defender as vidas de seus cidadãos indígenas".
Ao longo dos séculos a civilização humana, os chamados "povos desenvolvidos", perseguimos com vontade o genocídio dos povos indígenas, por claros interesses econômicos e ideológicos, e isto está, infelizmente, muito longe de se bastar. Em 2006, um leitor assíduo do MDig, morador de Juína, no Mato Grosso, nos enviou um link de um vídeo publicado de forma anônima no Youtube que mostrava fazendeiros, com o apoio de autoridades locais, expulsando repórteres da referida cidade. Mais tarde este vídeo foi editado e postado como o título "Amazônia, uma região de poucos" que você pode ver logo abaixo.
O vídeo mostra um grupo de repórteres do Greenpeace, da Opan e alguns jornalistas franceses, que foram até a região para entrevistar os membros de uma tribo que teve suas terras invadidas, sendo levados para a Câmara Municipal, onde uma sessão especial foi celeremente organizada. Todas as autoridades locais estavam presentes e mais de 50 fazendeiros, que insistiam em dizer que a entrada do grupo não seria permitida e que a coisa poderia ficar "perigosa" se insistissem no encontro. Em algum momento alguém chega mesmo a dizer que "Os índios são nossos", retratando bem o grupo que decidiu acabar com direitos constitucionais da cidade.
Para encurtar a história, os jornalistas temerosos (quem não ficaria?) decidiram cancelar encontro para evitar maiores conflitos, e foram para o hotel, onde os fazendeiros fizeram uma vigília durante toda a noite. De manhã cedinho, 30 caminhonetes lotadas, com faróis acesos buzinando sem parar, insultavam e ameaçavam o grupo, que teve de ser escoltado por duas viaturas policiais até o aeroporto. Ali foram advertidos a decolar imediatamente, ou o avião seria queimado.
Fonte: Survival International.
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Comentários
Também vão culpar os Portugueses?
Revoltante!!!
Tenho ódio mortal destes madeireiros e de fazendeiros tb, principalmente estes que desmatam areas proibidas ou que matam qualquer um no caminho deles, a maioria age como donos da cidade, detalhe que grande parte de suas terras são ilegais.
A maioria tem a seguinte mentalidade: Sugar o máximo possivel e que se dane o futuro afinal não estarei mais aqui.
O triste é que temos muita gente que pensa assim, e parece que aumenta esse numero cada vez mais... Assim uma sociedade com consciencia ambiental, social e sustentavel está cada vez mais longe...
Aos que gostam de historinhas, nao acham que já está na hora de outro dilúvio pra limpar esse planeta de tanta gente que nao merece estar aqui?
Só com isso mesmo pra resolver, porque a tendência é piorar...
Brasil.
Holocausto made in Brazil.
Repugnante.
ja era...isso começou em 1500...ainda hoje barbaries acontecem...que proteção tem os indios na floresta?
Você tem razão, Edgar. Meu discurso derrotista, além de fazer-nos estagnar numa posição imutável por conta da aceitação de algo que, supostamente, não podemos lutar contra, é fundamentado apenas em observações, admito. É esse sentimento de perseverança e autoconfiança, que você demonstrou com seu relato, que devemos ter. Acredito que seja até um ranço que nós, brasileiros, carregamos conosco desde sempre: a eterna sensação de fracasso, subserviência e conformismo de um povo sempre oprimido por ideais de terceiros. Mas como você disse, o dizer "não". E o primeiro sugiro ser direcionado a esta impotência maldita que a muitos assola. A partir deste ponto, aí sim, os outros "não" poderão verdadeiramente existir.
Historicamente, tal "desenvolvimento", na maioria dos países, foi justamente às custas do prejuízo de terceiros.
Os tais ''povos desenvolvidos'' não fazem jus ao título de desenvolvidos.
Estatístico, me desculpe, mas tenho de discordar. O que tento dizer é que este discurso de que todos estamos sujos de sangue está errado. É tão ideológico quanto dizermos que não colaboramos de alguma forma com esta cultura violenta da qual fazemos parte. Claro que tudo isto nos respinga a alma, mas, devemos ter consciência de estamos dentro disto, vivemos nesta sociedade e, de todas as formas não temos escolha senão nos subjugarmos. Não é hipocrisia aceitar que não estamos de acordo com este estado de coisas. Entendo este sentimento de culpa ao qual você parece demonstrar como uma espécie de "síndrome de Estocolmo". Isto porque, ao vermos nossa própria impotência, aceitamos o fato de que não seríamos capazes de devolver na mesma moeda as agressões que sofremos. Acabamos por entregar os pontos. Muito menos, queremos o mal daqueles que geram violência e se beneficiam dela. O discurso de que somos todos culpados beneficia justamente a nossos algozes. Mas, isto não é verdadeiro!!! No fundo, temos consciência de que, nos entregarmos a uma guerra contra os agressores mais fortes e mais despudorados, é pedir pra sermos aniquilados. Recuso-me a pensar que sou conivente com o crime, simplesmente por não vestir uma capa vermelha e sair matando quem comete violência. Esta culpa nos embota a alma, nos impede de agirmos inteligentemente diante de problemas muito maiores do que nossa capacidade. É preciso raciocinar, agir de forma a sabotar tais concepções. Se coloco o que penso, é porque acredito que, embora seja uma atitude pequena e isolada, o posicionamento, o dizer não, e unir-se aos que dizem não é o grande começo. Foi o "não" que derrubou Roma! Foi o "não" que reuniu pessoas em torno de um sim diverso e solidário. Em muitos momentos da história, a negação de condutas foi o impulso pras grandes mudanças. Gandhi venceu a Inglaterra através do ato de desobediência civil, um grande e sonoro "NÃO!". Peço que não se sinta impotente por não agir na mesma proporção que a enorme violência que sofremos. Sou um mero digitador. Moro no olho de um furacão de violência chamado Itaquera. Recebi nestes últimos anos, sem exagero, uma infinidade de ameaças de morte e sofri inúmeros aliciamentos pra integrar esquemas. Atualmente, eu e minha família resistimos a uma campanha pra que nos mudemos daqui. Sofremos pressões de todos os lados. Instalaram uma cracolândia bem na minha porta. A última vitória que tive, foi contra um baile funk num boteco recém posto em frente à minha casa. Fui à base comunitária da PM em plena madrugada reclamar e quase fui preso. Amanheci sentado sobre uma viatura, até que, com muito custo, a polícia desistiu e desceu até o local. Já era cinco da manhã. Fiquei na base até amanhecer, batendo boca com um policial pra lá de suspeito. Pela manhã, minha irmã foi ao batalhão e relatou o que viu, munida de advogado e com referências da imprensa. Tivemos alguns meses de sossego e as coisas amenizaram. Ameacei entrar no boteco e só sair de lá morto. Claro que munido de contatos e com uma leva de ligações feitas por outros moradores. De qualquer forma, gente que tava na baderna veio pedir desculpas. Conversamos e chegamos a um consenso. Falamos abertamente. Valeu o respeito que têm por mim. Quebrei muito galho de gente que não sabe nada de internet e computador antes (fazendo servicinhos burocráticos, currículos bem elaborados...). Os líderes do tráfico aqui, temem que algo aconteça conosco e o caldo desande. Eles se seguram. Acho que é por aí...
infelizmente, o brasil e a america do sul, 'kintal dos norte americanos' (como dito por um politico vagal de lá), continua sendo brutalmente 'descoberta' por interesses politicos imorais, financeiramente escusos e pessoalmente imundos. ha falta de fé, alias, de Deus mesmo, em suas vidas, faz com q a ganancia e o egoismo sobre o dinheiro e o poder se sobreponham a qlq bom sentimento natural a qlq ser humano digno de ter esse 'adjetivo'.
atrocidades e genocidios como esse deveriam ser investigados e punidos por kem realmente se preocupa com o progresso sustentavel e o futuro da humanidade sã, ou seja, por kem nao é corruptivel nem sofre restrições legais pela parcas leis desse pais q só servem para os q nao tem poder. sera q existe?
Quando leio essas coisas e paro para pensar a respeito, me sinto um tanto hipócrita quando reclamo de certas questões, principalmente a segurança. Que direito de exigir qualquer coisa tem um povo que atingiu sua "ordem e progresso" através do sofrimento de outrém? E não adianta vir com essa de "ah, mas não fui eu que matei". Cada um de nós compactua com essa atrocidade a partir do momento em que vive e desfruta (?) dessa sociedade de tão glorioso passado.
Não faz muito tempo, houve relatos de que um grupo de madeireiros havia capturado uma menina de oito anos de uma tribo ainda não contactada e, depois de a violentarem, atearam fogo em seu corpo estando a criança viva e consciente. Não há dúvidas de que nosso país foi e ainda é controlado por grupos extremamente violentos e capazes de tudo. Seja na floresta, na cidade, no campo... o que vale é a lei do mais forte (ou seria do que tem menos pudor, do mais desumano?). Acho que foi no ano de 2008, não sei ao certo, liguei para a polícia inúmeras vezes numa noite em que, bem defronte à minha casa, ocorria uma seção de tortura, com gritos, gente implorando pela vida, tiros... Foi à noite inteira, sem que nenhuma autoridade aparecesse no local (claro que havia conivência!). Tenho que fazer coro ao pensamento do Moonwalker. Há tempos desisti de ter esperança em relação às instituições. Parece que quem se habilita a chegar ao poder neste país, tem consciência de que só poderá fazê-lo mediante um alto grau de tolerância, omissão e conivência perante esta cultura do cangaço, da brutalidade autoritária. Onde está nossa presidente torturada pelo DOPS, alegadamente uma sobrevivente dos anos de chumbo, quando se apresentam julgamentos mornos, penas brandas e a consequente impunidade de torturadores ainda bem vivos e atuantes em nossas instituições? Representantes de grupos violentos, invasores, pistoleiros compram seu rincão na base aliada do Governo. Este, diz ter de engoli-los em nome de uma causa maior, de um projeto para o futuro. Que causa? Que projeto? Que futuro? Se tais enfrentamentos não forem abraçados pela máquina governamental, se a instauração de um estado de Direito é sempre adiada em nome de uma causa que não vai além do projeto político-eleitoral de manter-se infinitamente no poder, de que mudança estão falando nossos representantes? O PCC em são Paulo já ganhou status de autarquia, administrando o crime e a indústria de propinas. Estes, ao meu ver, são os reais "cidadãos brasileiros" no sentido de beneficiários do Estado. Olhemos nós, os da cidade, do campo e da floresta, ao nosso próprio entorno: seria tão difícil ser solidário aos povos indígenas, somente por andarem nus e falarem outra língua? Não somos todos alvos de um mesmo sistema bandido? Nosso problema é que queremos fazer parte, sermos incluídos neste estado de coisas, sermos superiores a alguém pra nos sentirmos seguros e mais humanos. Está errado! Hierarquizamos as relações como numa cadeia alimentar e nos contentamos e ser uma presa intermediária. Agindo assim, sendo presas e predadores, dá pra sermos humanos? Creio que não. desculpem-me por falar demais. Mas, estas coisas, temos que discutir. Estamos acomodados, estabilizados. Mas, isto é longe de estarmos equilibrados, de termos ordem social de fato. É preciso que haja voz, e que haja diversidade de ideias e respeito às forças divergentes, pra que haja equilíbrio e ordem, diferentemente de submissão e estabilidade. E é preciso sempre, não compactuar com nossos algozes, fazer o possível pra combatê-los. O desgaste é necessário. E algum risco se faz premente. Mas, pensemos em nosso cotidiano, nunca em grandes movimentos ou organizações. Aqui já está tudo dominado. É o que acho. Por favor, discutam.
Horror ...
Muito provavelmente, a "ponta do iceberg", apenas.
Mortos... mortos... provavelmente mais.
Imaginem quantos índios mortos por interesses de fazendeiros estão enterrados nessa imunda terra brasileira. E parabéns a quem consegue ter esperança de que qualquer instituição nesse mundo ainda pode fazer isso melhorar. A matéria é revoltante, mas é uma leitura muito boa. Parabéns, Luisão...
É uma pena que injustiças foram cometidas no passado, e hoje são cometidas novas injustiças, para atenuar as primeiras injustiças.
Quando houver justiça, nunca precisará esse vai e volta, para consertar vaso quebrado.
"Agora, vão aumentar as Cotas indígenas e efetuar devolução da Amazônia à eles"
O justo, mas quanta injustiça com os justos que não tomaram parte nesse crime. Justiça, só precisamos de justiça, hoje, para não sermos injustos amanhã.