Em junho de 2011 publicávamos uma galeria bizarra de fotografias antigas, assunto que revisitamos neste post, que mostrava um estranho costume da época vitoriana britânica, as fotografias post-mortem com retratos de pessoas mortas -crianças, adultos, idosos-, em geral um ente muito querido da família- revelando uma inesperada beleza dos defuntos. |
A morte, no universo ocidental que vivemos, está oculta dentro de caixas de madeira retangulares, ou sob lençóis brancos que cobrem o rosto dos corpos sem vida. É algo que pelo geral não vemos ou tentamos não ver. Mas na Inglaterra vitoriana, período que compreendeu a maior parte do século XIX, a morte estava presente de muitas maneiras particulares. Os rituais que a rodeavam e as convenções e regras em torno do luto eram muito específicas. A fotografia post-mortem desta época, feita para conservar na memória os rostos e corpos dos que deixavam este mundo, capturou uma essência quase inaudita (e estranhamente bela) de contemplar a morte.
Na era vitoriana, a expectativa de vida de um homem de classe média ou alta era de 44 anos; 57 em cada 100 crianças, que nasciam dentro da classe trabalhadora, faleciam antes de completar cinco anos. Os defuntos, os funerais e tudo o que rodeava a morte de uma pessoa era parte da vida diária de uma maneira que na atualidade já não é fácil conceber.
Assim, as cenas e as palavras ditas no leito de morte eram de grande importância; as famílias inteiras reuniam-se ao redor do moribundo para escutar suas últimas palavras e vê-lo respirar pela última vez. Existia, finalmente, uma obsessão quase fanática pela morte; via-se e vivia-se muito de perto. Inclusive, como se fosse uma espécie de relíquia, era comum fazer joias com cabelos de pessoas mortas. Neste mundo, o luto era um ritual com regras muito específicas.
A rainha Vitória, por exemplo, guardou luto de seu marido Alberto durante 40 anos e manteve o quarto de seu consorte como ele havia deixado antes de morrer. Seguindo a tradição real, uma mulher comum devia guardar luto durante dois anos e meio, pelo menos, e não podia socializar nos primeiros 28 meses. Devia utilizar vestidos de tecidos e cores específicas, ao ponto de que o tom de sua roupa podia indicar quantos anos estava viúva.
Este século também viu o nascimento e a popularização da fotografia. Com a instituição do daguerreotipo em 1839 -instrumento que reduzia as horas de exposição necessárias para fazer um retrato-, a fotografia se estendeu pelo mundo, se tornando mais barata do que mandar fazer um retrato pintado a mão.
Assim, a fixação vitoriana com a morte conheceu à jovem arte da fotografia, e os retratos de gente morta terminaram sendo, entre outras coisas, uma variante do Memento mori (do latim "Lembre-se de que você é mortal"), tipo de pensamento e simbolismo muito utilizado dentro da literatura, principalmente na literatura barroca.
Vistas cuidadosamente, as fotografias post-mortem desta época causam um temor essencial. Sua extravagância reside em que, pelo geral, eram retratos feitos em interiores, enfeitados com flores ou decorados com móveis, assim como nas fotografias comuns. Mas têm algo estranho... E esse algo está na expressão dos semblantes mortos fotografados como se estivessem vivos. Os bebês, por exemplo, eram retratados em seus berços, fazendo parecer que estavam dormindo; as crianças frequentemente apareciam rodeadas de seus brinquedos favoritos. Inclusive existem muitas fotos em grupo, e os membros vivos da família (os outros) aparecem rodeando o cadáver do defunto.
Basta observar detidamente o rosto e o olhar dos mortos nas fotografias -às vezes intervindas com pintura nos olhos, nas pálpebras ou com rubor nas bochechas- para sentir algo que oscila entre o mórbido, a curiosidade e o medo. Mas em uma segunda aproximação, as imagens post-mortem vitorianas têm uma estética própria, cuidada e especial. Há algo de belo nos mortos retratados e no esmero do que os retrata. Não podemos esquecer a extensa tradição gótica e a fascinação pelos fantasmas que sempre permeou a cultura inglesa, e isso seja talvez uma maneira de explicar a obsessão fetichista e a fixação que, sem dúvida, pode ser vista como inquietante e ao mesmo tempo bela.
Esta expressão artística reflete algumas das questões mais essenciais da natureza humana, como a necessidade de conservar na memória quem amamos, seus gestos, seus corpos, em uma tentativa de imortalizar graficamente a efemeridade de nossa passagem pelo mundo.
As mãos dos cadáveres, acomodadas suavemente em seus regaços, denotam um desejo de permanência em um mundo no qual nada permanece e são também uma maneira especialmente excêntrica e, vale a pena dizer de novo, bela de viver a morte e de mostrar aos olhos.
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Comentários
é macabro mais eu amo.
tem um filme que se chama .
os outros .
da nicole kidman esse filme me fascina
já assisti varias vezes é o meu preferido.
la tem uma párte em que ela encontra o livro dos mortos
um album de fotografias semelhante a esses que vimos nos post.
eu gosto dessas coisas .
sinto como se eu tivesse vivido no seculo 19
e reecarnei no seculo 21.
eu gosto muito da epóca em que todas as fotografias
eram preto e branco.
já tentei entender porque isso acontece comigo
mais não acho respostas ,a morte é só uma passagem.
elio 13/05/2019 23:30
Realmente essas fotos impressionam. Esses mortos transmitem algo no olhar, mesmo estando pintados. Parecem tão reais, que parecem estar vivos, querendo se expressar. Eu particularmente, não aceitaria isso em mim, ou em alguém da minha família. Acho desnecessário,e fora do comum.Até porque a morte é o fim, o descanso eterno, não vamos modificar isso.
Adoro essas matérias sobre morte ja fiquei a noite inteira lado de uma pessoa morta muito importante na minha familia qe prefiro ñ citar o nome só no outro dia qe eu anunciei a morte aos familiares e os demais moradores do vilarejo , tdos ficaram de boca torcida porqe eu ñ dei a notícia assim qe percebi o ultmo suspiro de sua partida para a eternidade ,so Sei qe percebi um olhar de gratidão e agradecimento por ter feito uma longa e saudosa companhia naqela noite de despedida final , vi a serenidade e a tranquildade no olhar da falecida , fiqei muito grato tda aqela cerimonia !
meu deus, o 30 meu deu vontade de chorar,que crianças mais lindas, pocha, essa galera que fotografava tinha estômago.
As duas meninas da foto 18 estavam mortas. É possível ver os suportes ao olhar para os pés delas.
eu adoro essas coisas acho muito legal eu queria mais meu marido nao aceita mais eu ja ate arrumei um serviço na funeraria eu adoro ver essas coisa principalmente saque ou que seja ossos para fora e etc
Boa noite, poderia colocar legendas nas fotos, para sabermos quem morreu? Obrigada
coisa do demo...mais,gostei!
A foto 4 é do Rei da Baviera Luiz II. Fui conhecer o seu castelo e tinha a historia dessa foto. Um mistério... ainda não sabem se ele foi assassinado ou sofreu um ataque. Ele foi encontrado boiando no próprio lago da residencia.
a moça da 26 nao se distraiu cara e ela quem esta morta.
Só eu achei isso de uma repugnância ímpar? Vontade de vomitar a cada foto.
Na foto 21,a moça morta é a que está em pé. E a menina da foto 31 parece viva. Impressionante.
Nesse link mostra mais detalhes de algumas destas fotos. http://www.alemdaimaginacao.com/Fotos%20do%20Alem/fotos_post_mortem.html
Realmente, hoje em dia parece um costume macabro e meio aterrorizante.
A dor da perda faz dessas coisas. E de outras também...
Não tenho problemas com pessoas mortas, já comentei aqui que moro na frente de um cemitério.
Eu acho que os mortos tem de ser tratados como mortos, e é melhor para quem fica não ter superstições com respeito a isso. Mas com ou sem superstições as fotos são perturbadoras, sim.
Uma amiga fez monografia com esse assunto. Acho que as duas meninas da 21 estão mortas. A que está em pé está morta, com certeza. Na 26, a distraída é a morta, rsrs. Elas eram sustentadas por um suporte atrás. A família fazia isso para ter uma recordação da pessoa "viva". Na época, foto era uma coisa muito difícil e as pessoas normalmente não ficavam tirando fotos. Então, era essa a última oportunidade. Eu entendo, mas acho muito mórbido.
Minha amiga tirou 10 na monografia dela!
Não costumo me impressionar com essas coisas, mas essa 21 tem algo muito peculiar. A morta (seja lá quem for, não consegui distinguir) olha dentro da sua cara, como alguém que está prestes a dizer alguma coisa.
Deveriam ter batido outra 26, a moça do centro se distraiu com algo à sua direita.
Eu sequer desconfiaria da 30 e da 31 se as olhasse por acaso.
Espera como esses mortos conseguem ficar de pé ??
Tem louco pra tudo.... :fool:
Na minha opinião, se não tivesse sido informado que são fotos com pessoas mortas, nem teria percebido, pois na maior parte delas, parecem perfeitamente normais. :|
Achei absolutamente macabro e perturbante, em especial as fotos onde não consegui saber quem está morto e quem está vivo.
Por outro lado, achei muito belo e interessante o texto do Admin. São textos como este que fazem o MDIG não morrer. Pelo menos para mim.
Três palavras apenas....''isso é macabro'' Hehehehhe.
parece coisa do c**pta
hue
Legal.
Tinha a foto de uma criança morta no álbum de fotografia lá na casa dos meu avós, bem no estilo dessas, também se tinha essa "tradição" antigamente, lá onde eu morava...
Normal.
Gostei. Acho que vou iniciar uma tradição na família.
Quando morrer, vou deixar no meu testamento uma cláusula exigindo tirar uma foto minha com todos os familiares sorrindo.
Horrível!
Macabro! :o
Deu medo!
Tem algumas fotos muito bizarras.
Achei muito curioso, mas é tão mórbido.
Lembro do último post.
As fotos com gêmeos são as mais interessantes/bizarras.
Lembro do meu comentário no outro post.
Gosto de coisas macabras.