Verão de 1943. Em plena Segunda Guerra Mundial, um encouraçado americano colocou a prova uma tecnologia desenhada pelo próprio Einstein e conseguiu tornar-se invisível e teletransportar-se. A história tem enredo próprio daquelas pessoas que preferem acreditar no absurdo do que raciocinar de forma básica e lúcida: os teóricos da conspiração. Mas, ainda que tenha rendido bons filmes de ficção -lógico-, esta é a verdadeira história do USS Eldridge, o navio que "viajou no tempo". |
Fotograma do filme para TV "The Philadelphia Experiment" (2012)
O que ficou popularmente conhecido como Experimento Philadelphia, faz referência a um suposto obscuro programa da marinha americana chamado Project Rainbow. A lenda urbana diz que os militares estavam testando um gerador de campos eletromagnéticos -antes da teoria quântica, o eletromagnetismo era o assunto preferido dos conspiranoicos- com o qual tentavam buscar aplicações práticas à teoria de campo unificado proposta por Albert Einstein. Dito em uma frase: pretendiam conseguir a invisibilidade.
Técnicos particulares, que não sabiam o que estavam instalando no USS Eldridge, um encouraçado de 93 metros de comprimento, dotaram o navio de dois potentes geradores, dezenas de metros de cabo elétrico ao redor do casco e outros complexos dispositivos eletrônicos. Em 22 de julho de 1943 aconteceu o primeiro suposto experimento. Os geradores ativaram um campo eletromagnético que fez o encouraçado desaparecer da vista durante alguns minutos rodeado por um nevoeiro de cor esverdeada. Alguns marinheiros queixaram-se de fortes náuseas provocadas pelo teste.
Fotograma do filme "The Philadelphia Experiment" (1984)
O equipamento foi reajustado em 28 de outubro quando ocorreu a segunda prova. Desta vez, todo o barco desapareceu completamente e apareceu na base da marinha em Norfolk, a 600 quilômetros de distância e 15 minutos no passado. Ali foi avistado durante esse tempo. Após isso desapareceu de novo no meio de um relâmpago azul para voltar à Filadélfia.
Declarações oficiais da marinha
Segundo a lenda urbana, as consequências deste segundo experimento foram tão devastadoras para a tripulação que a Marinha decidiu cancelar o projeto. A maior parte dos marinheiros desenvolveu esquizofrenia e alguns perderam completamente o juízo. Muitos foram feridos gravemente no momento da "materialização", e outros, menos afortunados, se fundiram horrivelmente com o casco do barco. Alguns viraram fumaça dias após o experimento e nunca voltaram a aparecer.
USS Eldridge
Esta é, de forma grosseira, a truculenta história perpetuada pelos teóricos da conspiração, ufólogos e alguns filmes de ficção científica. A marinha sempre negou a existência do Experimento Philadelphia. Em um comunicado publicado em novembro do ano 2000, o Escritório de Investigação Naval da Marinha (ONR por suas siglas em inglês) negava completamente a existência de um programa de invisibilidade ou teletransporte, bem como o envolvimento de Einstein. Em um resumo da nota publicada por Naval History & Heritage, podemos ler:
O ONR já explicou que o uso de campos de força para fazer que um barco e sua tripulação se tornem invisíveis não se ajusta às leis conhecidas da física. A ONR também assegura que a teoria de campo unificado do Dr. Albert Einstein nunca foi completada.
Entre 1943 e 1944, Einstein trabalhou como assessor em tempo parcial para a marinha em pesquisa teórica de explosivos e explosões. Não existe evidência de que Einstein tenha trabalhado em nada relacionado com invisibilidade ou teletransportação.
Efetivamente, a teoria de campo unificado, foi um conceito apelidado por Einstein quando tentou explicar os campos gravitacional e eletromagnético mediante apenas uma teoria unificada. Nunca conseguiu, mas muitos não se importam que as leis da física sejam jogadas por terra com uma boa história. Junte se a isso a explicação da ONR, que visava acalmar os ânimos sobre fakenews, ativou as "bichas" dos conspiracionistas.
As cartas de Carlos Allende
Como então surgiu publicamente o Experimento Philadelphia? A resposta é através de uma série de cartas enviadas por Carl Meredith Allen sob o pseudônimo de Carlos Miguel Allende. Supostamente, Allen era um marinheiro mercante que viu o USS Eldridge desaparecer quando estava no navio SS Andrew Furuseth.
Com uma prosa um tanto peculiar e abundantes faltas de ortografia, Allen descrevia o suposto experimento de teletransportação em uma correspondência mantida com o escritor e ufólogo Morris Jessup. Ainda que o marinheiro nunca forneceu nenhuma prova fidedigna do que dizia, Jessup ficou fascinado pelo relato e o incluiu em um livro intitulado "O Caso dos Ovnis". Jessup não conseguiu repetir o moderado sucesso deste livro e se suicidou quatro anos mais tarde (alguns dizem que suicidaram ele). As circunstâncias ao redor de sua morte alimentaram ainda mais a teoria de que o experimento existiu e de que o governo continua desde então tratando de encobri-lo. A lenda urbana do Experimento Philadelphia nasceu oficialmente.
A verdade sobre o Experimento Philadelphia
O Experimento Philadelphia é uma complicada salada da doentia imaginação de Allen, a credulidade de Jessup, fatos reais e falatórios de marinheiros; tudo junto e misturado. A primeira coisa discordante são as datas. Os registros oficiais asseguram que o USS Eldridge foi lançado em 25 de julho de 1943, dois dias após o suposto primeiro experimento. Entrou oficialmente em serviço no estaleiro de Nova York em 27 de agosto de 1943.
Esta história de que a marinha americana experimentava com invisibilidade, não era invisibilidade a visão humana. O USS Eldridge e seu gêmeo, o USS Engstrom foram sim dotados de um novo sistema que rodeava todo o casco com cabos elétricos em uma técnica chamada Degaussing, e seu objetivo era reduzir o campo magnético do navio para evitar que este fosse um alvo fácil das minas e torpedos magnéticos usados nos submarinos nazistas. A técnica tornou-se muito popular nos anos 40 e chegou a ser aplicada a barcos militares e civis igualmente. Eu não quero "dar ideia", não. Mas há reais possibilidade de evadir radares e pardais adaptando uma grande bobina em seu carro.
O Queen Mary em sua chegada ao porto de Nova York em 1945. no lado exterior do casco podemos ver o grosso cabo para desmagnetizá-lo
Como explicou Edward Dudgeon, um dos marinheiros a bordo do USS Eldridge, o sistema degaussing era instalado por empresas terceirizadas. Como não sabiam exatamente que era o que estavam instalando, junto às troças dos marinheiros que falavam de um sistema para tornar um barco invisível, era suficiente para disparar o fuxico. Puro rádio-peão. A isso se somava ainda o fato de que o navio sim levava equipamento experimental secreto. Tratava-se, concretamente, de um novo tipo de sonar e de um sistema para semear carga de profundidade, chamado Hedgehog.
O "relâmpago" citado na lenda urbana sobre o Experimento Philadelphia pode ser algo tão simples como a descarga de plasma ionizado conhecida há muito tempo como fogo de santelmo. Quanto ao misterioso desaparecimento do USS Eldridge, Dudgeon explica que a origem dessa parte da lenda urbana se deve a um incidente na base de Norfolk. O Eldridge aportou na base para abastecer-se, mas logo soltou as amarras e voltou à Filadélfia, onde chegou em menos de seis horas. Segundo as cartas de navegação da região, essa travessia era impossível porque tinha que dar um grande volta para evitar submarinos alemães e campos de minas. Em realidade o navio utilizou o canal Chesapeake & Delaware, que permite saltar o giro na península.
Dudgeon explica como até sua saída e a de um colega pelas portas dos fundos durante uma briga de taberna alentou os rumores de marinheiros do USS Eldridge que desapareciam. Nem Edward Dudgeon nem seu colega tinham idade para beber, e quando aconteceu a confusão, a dona do boteco os conduziu porta de trás para evitar problemas com as autoridades. Para muitos, todo o relato de Dudgeon é a fachada de um louco experimento.
Transferência do USS Eldridge a Grécia
Em 15 de janeiro de 1951, o USS Eldridge foi transferido a Grécia, onde serviu com o nome de Leon. O navio foi aposentado em 1999, e terminou seus dias pacificamente enferrujando em um desmanche de ferro velho. De pouco serviu para atenuar a lenda do Experimento Philadelphia que um grupo de veteranos do USS Eldridge desse uma entrevista em 1999 em que comentavam a divertida história. Os mais fantasiosos preferem achar que a marinha de Estados Unidos conseguiu, em um delirante combo pseudocientífico, a invisibilidade, o teletransporte e as viagens no tempo, mas decidiu não seguir adiante porque alguns marinheiros morreram.
Fonte: Rense.
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Comentários
Padre , o ultimo paragrafo do artigo já e prova suficiente. "a marinha de Estados Unidos conseguiu, em um delirante combo pseudocientífico, a invisibilidade, o teletransporte e as viagens no tempo, mas decidiu não seguir adiante porque alguns marinheiros morreram."
Na real, não é essa história que tentam vender, que é a verdadeira...
Mas... Quem pode provar, se a Marinha vai morrer negando ???
"USS Eldridge", conforme vemos na primeira foto. E não "elridge".