Em meados do século XX, o theremin -patenteado por seu inventor homônimo Leon Theremin em 1928- tornou-se uma espécie de novidade, com seu som associado a ficção científica e filmes de terror. Isso é lamentável, dado seu pedigree como o primeiro instrumento musical eletrônico, e o único instrumento musical que a gente toca sem tocar. Receoso que seu instrumento fosse rechaçado, devido a sua origem, ele assumiu o nome de Leon -seu nome na verdade era Lev Sergeyevich Termen-. Esses fatos por si só não foram suficientes para vender o theremin para seus primeiros músicos e ouvintes em potencial. |
O inventor e sua protegida Clara Rockmore perceberam que o theremin não era apenas adequado para música séria, mas para a mais amada e conhecida das composições, uma estratégia não muito diferente da popularização do sintetizador Moog de Wendy Carlos com "Switched on Bach".
Para Leon e Clara, demonstrar o novo instrumento significava mais do que fazer discos. Quando chegou aos Estados Unidos em 1928, o inventor havia acabado de encerrar uma longa turnê pela Europa. Ele exibiu seu novo dispositivo musical nos EUA na Filarmônica de Nova York.
- “No início, os instrumentos de Leon eram limitados a apenas alguns que o próprio inventor fazia pessoalmente", observa o site RCATheremin. - "Ele então treinou um pequeno grupo de músicos na arte de tocá-los."
O som começou a se popularizar com músicos populares como o crooner Rudy Vallée, que desenvolveu tal predileção pelo theremin, que encomendou seu próprio instrumento personalizado com Leon, e o apresentou em concertos de sua orquestra, The Connecticut Yankees.
No mesmo ano em que Vallée e Charles Henderson lançaram sua popular canção "Deep Night", Leon concedeu os direitos de produção do instrumento para a RCA, e a empresa produziu um teste limitado de 500 aparelhos chamados RCATheremin, que eram relativamente caros.
Os RCATheremins vindos de fábrica foram demonstrados pela primeira vez em lojas de música em várias grandes cidades dos EUA em 14 de outubro de 1929 e foram comercializados principalmente entre 1929 e 1930. Os theremins eram itens de luxo, com um preço de 175 dólares, sem incluir tubos de vácuo e o alto-falante eletrodinâmico modelo 106 recomendado pela RCA, que elevava o custo total de compra para cerca de 232 dólares. Isso se traduz em cerca de uns 3.500 dólares na moeda de hoje.
O preço proibitivo do RCATheremin condenaria o projeto quando o mercado de ações despencou no final daquele ano. Outros fatores contribuíram para sua morte, como um erro de cálculo significativo por parte da RCA, que encorajou a percepção de que o theremin era fácil de tocar. A publicidade alegava que era nada mais complicado do que acenar com as mãos no ar!
Como músicos magistrais, Leon e Clara podem ter feito isso parecer fácil, mas como com qualquer instrumento musical, a verdadeira habilidade nele requer talento e prática. Para anunciar o novo design comercial da RCA, o próprio Leon apareceu no meio relativamente novo do filme sonoro em 1930, interpretando "Deep Night" de Henderson e Vallée (acima). Draper e o pianista Paul Jackson recriaram o momento logo abaixo, em um RCATheremin totalmente restaurado apelidado de "Electra".
Apenas cerca de 136 dos RCATheremins sobreviveram, alguns deles feitos pelo próprio Leon e outros por engenheiros diferentes. Eles estão agora entre os instrumentos eletrônicos mais raros e caros da música mundial. Veja um deles, número de série 100023, logo abaixo, um residente do Museu Nacional de Ciência e Mídia em Bradford, Reino Unido, que vale uma pequena fortuna.
Leon trabalhou em estreita colaboração com a colega emigrada soviética e virtuose Clara Rockmore, inclusive a pediu em casamento várias vezes, mas ela escolheu se casar com o advogado Robert Rockmore e, a partir de então, usou seu nome profissionalmente. Posteriormente, enquanto trabalhava com a Companhia Americana de Balé Negro, o inventor se casou com uma jovem primeira bailarina afro-americana, Lavínia Williams, o que causou choque e desaprovação em seus círculos sociais, mas o casal condenado ao ostracismo permaneceu junto.
Ele fazia um relativo sucesso nos Estados Unidos, mas voltou abruptamente para a União Soviética em 1938. Na época, as razões de seu retorno não ficaram muito claras; alguns alegaram que ele estava simplesmente com saudades de casa, enquanto outros acreditavam que ele havia sido sequestrado por oficiais soviéticos. Beryl Campbell, uma das dançarinas da companhia de dança, disse que sua esposa Lavínia ligou para dizer que ele havia sido sequestrado de seu estúdio, que alguns russos haviam entrado em sua casa e que ela sentia que seria expulsa do país.
Muitos anos depois, foi revelado que Leon havia retornado à sua terra natal devido a problemas fiscais e financeiros nos Estados Unidos. No entanto, o próprio Leon uma vez disse que ele decidiu se retirar porque estava ansioso com a guerra que se aproximava. Pouco depois de seu retorno, ele foi preso e posteriormente enviado para trabalhar em um Gulag nas minas de ouro de Kolyma.
Embora rumores de sua execução tenham sido amplamente divulgados e publicados, Leon foi, de fato, colocado para trabalhar em um sharashka, um laboratório secreto do sistema de campos de Gulags, junto com Andrei Tupolev, Sergei Korolev e outros cientistas e engenheiros conhecidos . A União Soviética o reabilitou em 1956.
Durante seu trabalho no sharashka, onde ficou encarregado de outros trabalhadores, Leon vários inventos, entre eles a famosa "Coisa", oculta em uma réplica do Grande Selo dos Estados Unidos esculpida em madeira, que serviu para espionar a Embaixada americana durante 7 anos, cuja história já contamos no destacado artigo "A história da 'Coisa' que permitiu aos soviéticos espionarem os EUA por 7 anos".
Após sua libertação do sharashka em 1947, Lavínia já havia voltado para os EUA, e Leon se casou novamente com Maria Guschina e tiveram duas filhas: Lena e Natalia. Ele trabalhou no Conservatório de Música de Moscou por 10 anos, onde ensinou e construiu theremins, violoncelos eletrônicos e alguns terpsítonos (outra invenção sua).
Lá ele foi descoberto por Harold Schonberg, o principal crítico de música do New York Times, que estava visitando o Conservatório. Mas quando um artigo de Harold apareceu na capa do jornalão mencionando Leon, o diretor administrativo do Conservatório declarou que "eletricidade não é boa para música; eletricidade deve ser usada para eletrocussão" e teve seus instrumentos removidos do Conservatório. Outros projetos de música eletrônica foram banidos e Leon foi sumariamente demitido.
Na década de 1970, Leon conseguiu uma vaga de professor de Física na Universidade Estadual de Moscou, desenvolvendo suas invenções e supervisionando alunos de pós-graduação. Após 51 anos na União Soviética, Leon foi levado a Nova York pelo cineasta Steven M. Martin, onde se reuniu com sua antiga paixão, Clara Rockmore.
Quando voltou para seu pequeno apartamento em Moscou, o senhorzinho de 92 anos continuou a dar aulas na referida universidade. No início de 1993, ele também fez um último concerto de demonstração no Conservatório Real de Haia, antes de morrer em Moscou na quarta-feira, 3 de novembro de 1993. Lev Sergeyevich Termen tinha 97 anos.
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