No imaginário coletivo, o passado nos parece em ocasiões como tingido com certas cores muito particulares, geralmente em tons de cinza devido ao grande tempo que a humanidade conviveu com as fotos P&B. Inclusive, com certa ingenuidade há quem possa crer, por exemplo, que na época do cinema em preto e branco a realidade era monocromática. Ou que a perda de cores em alguns objetos que sobrevivem de épocas anteriores -vestidos, móveis, fotografias– não se deve à passagem do tempo, senão a que essa eram suas verdadeiras cores. |
Tal é o caso da Antiguidade Clássica, que a maioria de nós imagina quase com apenas uma cor: o branco marmóreo de seus edifícios, monumentos e estátuas. No entanto, ao menos no caso da antiguidade em Roma, tudo parece indicar que as efígies que foram esculpidas para celebrar alguns personagens e enfeitar alguma via, templos, as colunas, arcos e demais, não eram tão brancos como chegaram até nossa época, senão que eram pintados com cores, algumas muito vivas, como é explicado parte do processo que levou à perda de cores, no vídeo logo abaixo.
Em parte, isto ocorreu devido a passagem do tempo e ao fato de que praticamente todas essas edificações e estátuas se encontravam à intempérie, expostas aos elementos. Mas não menos verdadeiro é que a ideia de uma Antiguidade nívea poderia ser fruto do equívoco.
Quando durante o Renascimento foi reavaliada a herança cultural greco-latina, quando começou a ser elogiada e imitada, as obras esculpidas e construídas tinham perdido já suas cores. A partir disto ficou a suposição que os gregos e romanos tinham deixado intencionalmente o mármore com sua cor original como símbolo de perfeição.
Mas isto não era mais que uma suposição, para a qual não tinha evidência real. De qualquer modo, artistas como Michelangelo tomaram a história como verdade e, durante esse período decisivo para a arte ocidental, o mármore passou a ser usado expressamente com sua cor original.
Esta tendência -reforçada também pelos historiadores da arte, em especial quando a disciplina se encontrava em formação- se manteve até a entrada do século XIX, isto é, durante quase quatrocentos anos. Não é de estranhar que ante uma ideia tão fixa, agora ainda pensemos que o branco era a cor predileta dos escultores e arquitetos romanos e gregos.
Saber (ou ao menos imaginar) que a Antiguidade era em realidade menos branca do que cremos até agora não é trivial. Entre outros efeitos, pode nos levar a perguntar nos que tanto do que aceitamos como História é uma narração contada por certas pessoas desde perspectivas muito específicas, com suas iluminações, sim, mas também com seus pontos cegos. E que, como todo relato, é suscetível de ser contado de outras maneiras
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