Um dos mecanismos de defesa mais estranhos que existe na natureza é a tanatose, utilizada principalmente por alguns répteis, anfíbios e artrópodes, mas também presente em mamíferos e até aves. Quanto todo o mais dá errado, os animais se fingem de mortos durante o ataque ou a presença de um predador. Em alguns casos o mecanismo é utilizado de forma totalmente inversa, para o ataque. O peixe-dorminhoco, por exemplo, deita-se no fundo do rio, como se estivesse "mortinho da silva", esperando que outros peixes menores se aproximarem, para então realizar o ataque. |
Ainda mais curioso e fascinante é que alguns desses animais não apenas se fingem de mortos, senão que conseguem exalar o possível cheiro que seu cadáver teria e também alterando algumas características de seus corpos, como diminuir a frequência cardíaca ou a respiratória. A evolução os ensinou que quanto mais convincentes conseguirem ser, maior será a chance de sobreviverem ao predador.
A tanatose dá certo porque geralmente os predadores tomam certos cuidados em relação à sua presa. Muitos animais só atacam presas que estejam em movimento. Fingindo-se de morto, o animal evita atenção indesejada. A posição da presa "morta" pode indicar impalatabilidade (gosto muito ruim) e perigo para ingestão. Exatamente por isso que temos a classificação de carniceiros.
Ou seja, se o corpo do praticante de tanatose apresentar um cheiro de estado de decomposição, que seja convincente, ele terá maior probabilidade de ser descartado pelo predadores.
A complexidade da tanatose pode ir ainda mais longe. Um estudo realizado em 2010 com a lagartixa-das-dunas, no litoral sul do Brasil, concluiu que essa lagartixa conseguem avaliar a proporção do risco que estão correndo, definindo então á partir dessa decisão o tempo em que vão apresentar o comportamento da tanatose.
Ainda que na maioria dos casos a presa se finge de morta e sai correndo tão logo o predador se afaste, como fazem as galinhas, esse estudo sugere que talvez alguns outros animais, que praticam tanatose, também podem calcular os riscos do momento e controlarem o tempo que a técnica será usada.
Uma das maiores especialistas na técnica é uma cobrinha chamada cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix). Ela é incrivelmente arisca e veloz, mas uma vez que é detectada se finge tão bem de morta, que a gente chega a ficar com dó da bichinha. Ela fica com a boca aberta e com a lingueta viperina pendurada para fora. Veja se não merece um Oscar.
Também não há de se confundir tanatose com imobilidade tônica, que se dá quando o animal leva um susto tão grande que acaba congelando por completo. A cabra-desmaiadora é um exemplo disso: ao menor sinal de perigo, todos os seus músculos ficam retesados por alguns segundos, fazendo com que ela tenha uma espécie de desmaio. A condição é conhecida como "miotonia congênita".
Alguns bichos melhoraram a sua estratégia de "estado de morto" segundo seus interesses. As codornas fêmeas novinhas se fingem de mortas para não serem galadas. Os garnisés aprenderam a técnica para não apanhar do galo. De fato, esses pobres se ferram muito porque o criador de galinha quase sempre se esquece que o macho do garnisé é também um galo, em tamanho diminuto. Os coitados, meio abusados, vivem apanhando do galo maior.
Em alguns casos também é complicado saber se o bicho está praticando tanatose ou imobilidade tônica. Vejam o caso, por exemplo do pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula).
A tanatose pode ser usada também para um macho tentar acasalar com uma fêmea (espécimes de aranhas), como uma forma de camuflagem, ou para um predador atrair potenciais presas para mais perto, como o caso do peixe dorminhoco.
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