A importância da experiência

Em várias ocasiões me deparo com pessoas que fazem perguntas do tipo: - "Acredita que duas pessoas podem se comunicar telepaticamente?" "Crê que uma pessoa pode mover objetos com o poder da mente?" E um larguíssimo etecetera que todos nós conhecemos bem e que em geral a resposta suscita um rotundo e sonoro - "Não!".

Quando respondo que não há um só experimento realmente convincente, recebo a consabida resposta: - "Viu? É um cético! Vocês que seguem a ciência são céticos e dogmáticos. Não creem em nada que não quadre com sua forma egoísta de ver o mundo... blá blá blá...".

Então devo eu crer nas coisas sem que me deem uma só prova tangível, válida e irrefutável de sua existência? Devo crer sem perguntar, ou pior, sem racionalizar? Na realidade, a astrologia, a telepatia, os elfos e os anjos são como um dragão na garagem de Carl Sagan. Como ele mesmo dizia:

- "...se vou comprar um carro usado, primeiro olharei o motor, os freios, a lataria, os pneus e chamarei um amigo mecânico para verificar que está tudo bem, etc. Assim farei ainda que o vendedor diga uma e outra vez que o carro está perfeito. E se ante algo tão banal como a compra de um carro tomamos tantas precauções, por que não devemos fazer o mesmo ante estas afirmações, bem mais transcendentais, sem nenhuma prova material?"

Se por acaso pedir experiências que corroborem as predições é sinônimo de ceticismo, então sou cético já que a última palavra na Ciência sempre é a do experimento que comprova a teoria. Esta mesma tese, a da experiência distante da pseudo-ciência e da ciência patológica é contada por Robert L. Park em seu livro "Ciência ou vodu" que tem em suas páginas uma história bonita e pessoal que transcrevo abaixo:

Quando era um cara interessado na Natureza, li em um de meus livros que os guaxinins sempre lavam sua comida antes de comê-la. Meu pai já disse o mesmo e, por outra parte, o animal é conhecido como ratão-lavadeiro em Portugal. De forma que não tinha muitas razões para duvidar.

O livro explicava que sua conduta não consistia realmente em limpar os alimentos, senão só em umedecê-los, devido a que os guaxinins carecem de glândulas salivares. Parecia-me uma explicação razoável, e durante muito tempo conservei em minha cabeça aquele fragmento de saber tradicional, que passou a fazer parte de minha própria infância.

Um verão, no entanto, durante um período de prolongada seca, uma família de guaxinins famintos começou a se aproximar de nossa casa a cada dia ao anoitecer em busca de comida. Foi impossível não ajudá-los e começamos a colocar alguns biscoitos em uma horta atrás da casa. Dado que os pobres guaxinins não tinham glândulas salivares, eu costumava colocar primeiro uma panela com água para que pudessem umedecer sua comida. Depois, assim que abria o portão da horta e retirava a sacola de papel com os biscoitos, eles se amontoavam ao meu redor.

No entanto, logo descobri que, nem bem ouviam o ruído da sacola de papel, os guaxinins começavam a salivar: a saliva caía literalmente de suas bocas. E isso é porque não tinham glândulas salivares! Após isso, testei dar de comer sem a panela de água. Não pareceram importar: comiam do mesmo jeito. Se a água estava ali, usavam-na; se não estava, iam diretos à comida.

Sigo sem saber por que aos guaxinins gostam de molhar seus alimentos na água; suponho que lavem.

A moral da história é que, por muito plausível que pareça uma teoria, o experimento que a comprove tem sempre a última palavra.